09 setembro 2008

VVAA, Venham + 5, Bedeteca de Beja



       Depois de quatro números em registo de fanzine, poucas páginas e um só caderno alçado, o Venham + 5 regressa em formato livro, numa edição cuidadosamente paginada que assinala os três anos de actividade da Bedeteca de Beja. O volume, editado por ocasião do último Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (FIBDB), configura uma panorâmica bastante completa da banda desenhada portuguesa contemporânea e das suas relações com artistas estrangeiros que são presença habitual no FIBDB.
       Como se lê na apresentação, a escolha dos autores baseou-se mais na cumplicidade construída ao longo destes três anos do que em qualquer outro critério. O resultado é revelador, apresentando desequilíbrios óbvios ao nível do domínio da linguagem, da mise en page e do traço, com trabalhos de artistas consagrados e contributos mais ingénuos, alguns deles ainda presos a uma aprendizagem que se adivinha no início. Mas se esse seria um elemento de fraqueza numa antologia baseada em critérios de representatividade e excelência, não o é num volume que procura reunir a imensa constelação de autores que tem mantido relações com Beja, sobretudo porque as escolhas do FIBDB são, na generalidade, exemplares e de grande qualidade formal.
       Entre os 58 autores participantes, com trabalhos maioritariamente inéditos, a variedade temática e de registos é extensa. Há presenças menos regulares fora da auto-edição, como Teresa Câmara Pestana ou Maria João Worm – que apresenta duas pranchas de lirismo acentuado, buriladas na exigente técnica da linogravura –, nomes seguros e de reconhecimento pleno por um público mais vasto, como Miguel Rocha, David Rubin, José Carlos Fernandes – regressando a um registo que remete para o início da sua actividade – ou Lourenço Mutarelli, e contributos de autores fulcrais na cena portuguesa, independentemente da sua notoriedade, como André Lemos, Filipe Abranches ou Pepedelrey. E cumprindo, também, uma certa visão de futuro, importante em volumes antológicos como este, registam-se algumas confirmações, entre as quais é imprescindível destacar a de Susa Monteiro, de quem se ouvirá falar, com toda a certeza, nos próximos anos da banda desenhada portuguesa.

Sara Figueiredo Costa
(Texto publicado no suplemento Actual do jornal Expresso, 5 Julho 08)

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