01 setembro 2008
De férias, sem lenço nem documento I
A desolação nas praias portuguesas bem pode medir-se pelo calibre das leituras registadas no areal, retrato fiel dos onze meses em que nem nos lembramos dos metros de costa que temos. Em Porto Covo, a da laranja e do pessegueiro, tropeço em dois calhamaços do Dan Brown, partilhados por um jovem casal enamorado (um era a Fortaleza Digital, o outro não consegui ler porque estava sem óculos), vários jornais Sexta, de distribuição gratuita, alguns Correio da Manhã, muitas revistas com páginas repletas de fotografias daquilo a que chamam a vida social dos famosos (e que, com nomes como Bibas, Pituchas e Miquinhas, devem ser famosos na rua deles) e um livro não identificado (uma vez mais, os óculos que, ficando na toalha na hora do mergulho, não permitem focar o que se vai lendo no percurso até à água), mas com uma capa suficientemente limpa em termos de design para me fazer suspeitar que a focagem das letras do título poderia ter salvo as estatísticas bibliográficas do meu Verão. E fica feito o balanço da praia.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Felizmente que o Sexta - onde trabalho - não é nem a Fortaleza Digital nem fala de Bibas, Pituchas e Miquinhas. Também não é, evidentemente, o Expresso ou o Público (apesar de sair encartado com este e de, em parte, ser feito por jornalistas dessa casa). E sim, é gratuito. Mas daí a contribuir para a «desolação nas praias portuguesas»...
Caro Hélder:
o problema da desolação a que me refiro não passa pelo Sexta, mas sim pelo facto de ser possível constatar que pouca gente compra jornais ou livros para ler. Sim, é verdade que é melhor ler um jornal gratuito do que não ler nenhum, mas também é verdade que as pessoas que lêem os gratuitos não leriam jornal algum antes. E essa é a desolação: a falta de leitores afirmativos, 'por vontade própria', por assim dizer. Eu também leio parcialmente o Sexta, porque o recebo com o Público, e sim, não é o Dan Brown ou a Caras. Mas não era tanto a isso que me referia.
Pois, Sara, verifico que a "mania" não é só minha. Digamos que vem com a função. Será que os dermatologistas vereanantes põe-se a olhar quem aplica cremes protectores?
Vou anualmente, em Agosto,para uma praia da costa alentejana frequentada durante a semana pela classe média. Constata-se empiricamente as estatisticas sobre os hábitos de leitura dos portugueses. O jornal é habitual, as revistas a que te referes igulamente. Livros muito poucos. Indiscreta lanço um olhar às capas. Um pouco de tudo, em muito pouco.
Não cumpri os meus objectivos de leitura, ambiciosos concerteza: que bom ter nada para fazer e um bom livro para ler.
Os tempos de leitura não são iguais para cada livro. Não faz mal. Estão à espera de vez.
E descobri o Pepetela que há muito queria conhecer.
Rosa
Enviar um comentário