Em frente ao hotel, a montra com livros velhos e ex-libris que parecia pertencer a uma tipografia revela-se, afinal, um alfarrabista. E onde eu esperava encontrar o chumbo dos tipos, as velhas máquinas e, sem pedir muito, um tipógrafo checo fluente em inglês ou francês para me contar algumas histórias do ofício (aqui já se desenhavam na minha mente histórias possíveis de clandestinidade, folhetos de resistência ao velho regime impressos no escuro da tipografia e outras imagens românticas do mesmo calibre), encontro o corredor de um pátio cheio de caixotes de bananas Chiquita (juro) oferecendo livros a 5 coroas.
Mesmo sem saber nada de checo, a imagem redime o apagamento do alfarrabista da Karlova e não é difícil reunir alguns álbuns ilustrados, um livro de culinária com ilustrações da velha escola e um volume dos anos 40 que será, pelas partículas morfológicas que consigo identificar no título, uma história da literatura checa. Nunca se sabe se um dia vou saber lê-lo e, além disso, o livro é muito bonito. Sem saber muito bem onde pagar os livros escolhidos, desço as escadas que se seguem à única porta aberta no pátio e deparo-me com uma cave de chão de pedra e estantes até ao tecto. O cheiro a pó não engana e a minha pulsação também não: um relance sobre aquela versão organizada do caos confirma que ali há livros sobre muitos temas, mesmo que eu não consiga ler a maior parte deles. Cumprimentando o alfarrabista, pergunto-lhe pela ilustração checa, em particular a infantil, um dos motivos da minha demanda bibliográfica em terras de Praga, e logo três estantes indicadas com simpatia se oferecem à minha cobiça. Josef Lada, Josef Capek e um álbum dos anos 40 ilustrado por Jaroslav Vodrazka, que não conhecia, juntaram-se aos livros dos caixotes. Agora faltava apenas descobrir como encaixar tantos volumes na mala de viagem, e lutar contra a angústia de alguém a perder entre porões e carrinhos de carga.
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2 comentários:
: )
estive aqui, mais de duas manhãs interinhas da minha semana em Praga em 2006. Tão engraçado reconhecer o lugar pelas tuas fotos... posso mostrar-te as minha de lá, porque é impossível não querer de fotografá-lo, para além dos livros que trazemos
( no nosso caso, 2 caixotes - de bananas, claro, magnificamente robustos - cheios e bem embalados para o porão ).
Tal como a cidade, é um alfarrabista onde apetece voltar. Mais do que uma vez.
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