29 setembro 2008

Câmara Clara e PNL

O vídeo da emissão de ontem do Câmara Clara já está disponível no site e vale a pena acompanhar a discussão entre Francisco José Viegas e Isabel Alçada a propósito do Plano Nacional de Leitura. Com o avançar da conversa, percebe-se onde é que as coisas se separam: para Isabel Alçada, o importante é que os miúdos leiam, porque só assim podem ganhar hábitos de leitura. Certo. Mas FJV levanta a problemática das escolhas, questionando, de um modo mais ou menos directo, os critérios que presidiram à definição das listas do PNL. Isabel Alçada assegura que não há livros mal escritos ou com erros. FJV insiste na necessidade de se pensar noutros critérios. E o espectador, pacatamente sentado no sofá, percebe que não houve outros critérios, ou pelo menos outros critérios directamente relacionados com a existência de um cânone, quando Isabel Alçada pergunta 'E quem é que define esse cânone?', desvalorizando o peso dos clássicos e a selecção do tempo e contrapondo à presença do cânone numa escolha do tipo do PNL a importância de dar a ler tudo, para os miúdos lhe ganharem o gosto. Subjacente a isto, e não radicalizando demasiado a qualidade do que se dá a ler (o que implicaria impedir, ou evitar, leituras menos boas, e isso parece-me obviamente pouco produtivo) fica uma ideia muito pobre do que subjaz à promoção da leitura e uma dúvida: se os miúdos só lerem manuais de instruções da Playstation até aos dez anos serão capazes de, algum dia, ler qualquer outra coisa? É uma leitura como qualquer outra, pelo que, seguindo esta lógica, devia estimular o gosto e o hábito de ler. Estimulará? Do mesmo modo, um miúdo que cresce sem qualquer acesso (adaptações incluídas) aos 'clássicos' (sim, os do cânone), algum dia terá capacidade para os ler?

1 comentário:

O bibliotecário anarquista disse...

Passado muito tempo um comentário: promoção da leitura não se pode confundir com promoção da literatura. São coisas distintas e não se devem confundir. Nos países nórdicos e anglo saxonicos encontras "livros dos campeonatos de wrestling" no plano nacional e os jogadores de futebol vão às bibliotecas fazer a hora do conto. Por outro lado quando verificas que existem putos de 13 anos que não sabem ler um simples parágrafo com rapidez e sem se perderem percebes que a promoção da literatura (ou da qualidade) pode prejudicar a promoção da leitura. Agora, devemos abandonar a promoção da literatura? Na minha opinião não. São actividades distintas e ambas devem continuar a ser trabalhadas.
bjo
Adalberto