12 setembro 2008

Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, O Mundo Num Segundo, Planeta Tangerina



       A arrumação dos livros em categorias etárias de recepção poderá garantir algumas vantagens didácticas e de mercado, mas tende igualmente a eliminar as particularidades que fazem de cada livro um objecto único e de cada conteúdo, verbal ou pictórico, um universo, aberto a outros universos. Um álbum ilustrado é um álbum ilustrado; nem é mais fácil de ler porque tem imagens, nem se destina exclusivamente às crianças que ainda não conhecem as letras, e sobretudo não recorre à ilustração como mero acrescento visual ao texto. O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, é um bom exemplo de um trabalho autoral em torno do objecto livro que procura acentuar a harmonia entre texto e imagem (de tal modo que a dependência se torna mútua e equivalente), criando um livro que se desenvolve a partir de um conceito narrativo e visual ancorado numa certa deriva filosófica. O livro apresenta um percurso por diferentes partes do mundo, com os fusos horários por referência (apresentada nas guardas finais, sob a forma de um planisfério) e uma amostra da imensidão de acontecimentos que fazem da vida uma narrativa indefinível, mas passível de aproximações – textuais, interpretativas, visuais... –, como esta. No centro, a subversão de duas categorias essenciais: o tempo, suspenso, e o espaço, sequencializado, estruturam esta narrativa, com as cenas a remeterem para o momento exacto da suspensão temporal (a bola que voa em direcção a uma janela, na Grécia, mostra-se estacada em pleno voo, um pouco antes de partir, ou não, o vidro) e a sua sucessão a marcar o ritmo compassado de um percurso pelo globo.
       O acto de percorrer o planisfério associa-se à sequência, convocando uma leitura que, podendo fazer-se a diferentes níveis, permite várias respostas à indagação sobre o mundo e a infinitude de coisas que acontecem em simultâneo. Independentemente do leitor e da sua idade, a inquietação prevalece e O Mundo Num Segundo constrói uma visão do mundo enriquecida por pormenores e pequenas histórias possíveis dentro da estrutura principal, abrindo a leitura a um potencial de visões, muito para lá da simplicidade com que, por vezes, se encaram os livros ilustrados.

Sara Figueiredo Costa
(Texto publicado no suplemento Actual do jornal Expresso, 9 Agosto 08)

1 comentário:

Radagast disse...

Divulgação descarada de algo que nada que ver com este post:
http://mexicoantigo.blogspot.com/