Estão a chegar às livrarias os dez novos volumes da Biblioteca Independente, projecto que nasceu da parceria entre a Assírio & Alvim, a Cotovia e a Relógio d'Água e que tem vindo a reunir, em formato bolso, títulos e autores essenciais de qualquer biblioteca e alguns títulos escolhidos de entre os catálogos das três editoras.
Ovídio, A Arte de Amar
Marco Polo, Viagens
Marco Aurélio, Pensamentos
Homero, Odisseia
Fiódor Dostoiévski, Noites Brancas
Epicuro, Carta Sobre a Felicidade e Séneca, Da Vida Feliz
Bertold Brecht, Terror e Miséria do Terceiro Reich
Ana Teresa Pereira, O Fim de Lizzie
António Maria Lisboa, Poesia
Honoré de Balzac, Sarrasine
30 maio 2008
Livros em Desassossego
Esta é uma das vantagens de voltar a ser free-lancer: regressar dos debates tardios dos Livros em Desassossego e poder alinhar algumas ideias, sem a preocupação de ter de acordar cedo amanhã.
Com a sala da Casa Fernando Pessoa composta, anunciava-se um debate aceso e foi isso que se viu. Descrever todas as intervenções seria um processo longo, mas resumindo, pode dizer-se que o entendimento entre APEL e UEP que já se configurava antes da Feira do Livro parece manter-se como uma possibilidade viável. Claro que isto poderá parecer estranho se tivermos em conta os argumentos discutidos e o calor com que se apresentaram, mas a ideia geral parece ser essa. Antes, porém, será preciso arrumar ambas as casas e, talvez, enterrar alguns diferendos, também entre membros de cada associação.
Sobre a concentração editorial e o modo como esta afecta o associativismo, algumas questões se levantaram. Por exemplo, se os associados são editoras (e não pessoas individuais ou grupos empresariais), que lugar terão os grupos? Inscrevem as editoras e fazem-nas votar em bloco? Altera-se esse princípio e os associados podem ser editoras ou grupos? E têm um só voto ou tantos como as editoras que os constituem?
A Feira do Livro de Lisboa também foi tema de conversa, claro. E entre argumentos gerais e discussões privadas, não ficou muito claro o que se passou. Afinal, a Leya não esteve nas reuniões com a CML. Esteve Isaías Gomes Teixeira como vice-presidente da UEP (mas se os membros são editoras e não grupos, por enquanto, Isaías representa que editora na UEP?). Afinal, a APEL comprometeu-se a aceitar novos stands e depois recuou. E a CML entregou a organização da Feira à APEL, mas tê-lo-á feito com a condição de esta aceitar outros pavilhões. Que pavilhões? Todos os que pudessem ter surgido? Os da Leya em particular? Ficou a saber-se ainda que até Novembro, a APEL terá de apresentar uma reformulação dos pavilhões da Feira, numa proposta que será depois discutida por todos os editores. Pavilhões iguais para todos ou diferenciados conforme o dinheiro e a vontade de cada editor? Ainda não se sabe, mas parece que é este ano a última oportunidade de se verem as famosas barraquinhas coloridas no Parque.
Um dos temas levantados merecia debate futuro e merece, certamente, reflexão atenta: o problema da colocação dos livros nas livrarias. Porque a concentração livreira que já existe e a que ainda aí há-de vir, bem como a ‘promiscuidade’ esperada entre grupos editoriais e grupos livreiros, colocarão questões aos editores (bem como aos leitores) que não serão sentidas da mesma forma pelos grandes grupos ou pelas pequenas editoras. E aí, por mais nichos que a concentração editorial possa permitir (um dos olhares optimistas sobre o tema defende essa perspectiva), se não houver forma de mostrar os livros nos locais onde eles se vendem, não há nicho que sobreviva.
Uma nota final para as escolhas de Osvaldo Manuel Silvestre, da Angelus Novus, que levou os três livros que não se importava de ter editado. Os livros foram o Diário 1941-1943, de Etty Hillesum (Assírio & Alvim), O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil (Dom Quixote) e o fabuloso O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhos Martins e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina), livro que me deu particular satisfação ver escolhido pelo facto de raramente se falar de livros ilustrados e pensados, sobretudo, para um público mais jovem neste tipo de debates, e também porque ainda ontem escrevi sobre ele aqui e, ainda que, obviamente, isso nada tenha a ver com a escolha de Osvaldo Manuel Silvestre, uma pessoa fica ‘vaidosa’ com estas coincidências.
E agora vou continuar a gozar o privilégio de não ter horários (mas há prazos, oh, se há!) e vou voltar às Histórias de Amor, de Robert Walser, editado pela Relógio d'Água.
Com a sala da Casa Fernando Pessoa composta, anunciava-se um debate aceso e foi isso que se viu. Descrever todas as intervenções seria um processo longo, mas resumindo, pode dizer-se que o entendimento entre APEL e UEP que já se configurava antes da Feira do Livro parece manter-se como uma possibilidade viável. Claro que isto poderá parecer estranho se tivermos em conta os argumentos discutidos e o calor com que se apresentaram, mas a ideia geral parece ser essa. Antes, porém, será preciso arrumar ambas as casas e, talvez, enterrar alguns diferendos, também entre membros de cada associação.
Sobre a concentração editorial e o modo como esta afecta o associativismo, algumas questões se levantaram. Por exemplo, se os associados são editoras (e não pessoas individuais ou grupos empresariais), que lugar terão os grupos? Inscrevem as editoras e fazem-nas votar em bloco? Altera-se esse princípio e os associados podem ser editoras ou grupos? E têm um só voto ou tantos como as editoras que os constituem?
A Feira do Livro de Lisboa também foi tema de conversa, claro. E entre argumentos gerais e discussões privadas, não ficou muito claro o que se passou. Afinal, a Leya não esteve nas reuniões com a CML. Esteve Isaías Gomes Teixeira como vice-presidente da UEP (mas se os membros são editoras e não grupos, por enquanto, Isaías representa que editora na UEP?). Afinal, a APEL comprometeu-se a aceitar novos stands e depois recuou. E a CML entregou a organização da Feira à APEL, mas tê-lo-á feito com a condição de esta aceitar outros pavilhões. Que pavilhões? Todos os que pudessem ter surgido? Os da Leya em particular? Ficou a saber-se ainda que até Novembro, a APEL terá de apresentar uma reformulação dos pavilhões da Feira, numa proposta que será depois discutida por todos os editores. Pavilhões iguais para todos ou diferenciados conforme o dinheiro e a vontade de cada editor? Ainda não se sabe, mas parece que é este ano a última oportunidade de se verem as famosas barraquinhas coloridas no Parque.
Um dos temas levantados merecia debate futuro e merece, certamente, reflexão atenta: o problema da colocação dos livros nas livrarias. Porque a concentração livreira que já existe e a que ainda aí há-de vir, bem como a ‘promiscuidade’ esperada entre grupos editoriais e grupos livreiros, colocarão questões aos editores (bem como aos leitores) que não serão sentidas da mesma forma pelos grandes grupos ou pelas pequenas editoras. E aí, por mais nichos que a concentração editorial possa permitir (um dos olhares optimistas sobre o tema defende essa perspectiva), se não houver forma de mostrar os livros nos locais onde eles se vendem, não há nicho que sobreviva.
Uma nota final para as escolhas de Osvaldo Manuel Silvestre, da Angelus Novus, que levou os três livros que não se importava de ter editado. Os livros foram o Diário 1941-1943, de Etty Hillesum (Assírio & Alvim), O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil (Dom Quixote) e o fabuloso O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhos Martins e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina), livro que me deu particular satisfação ver escolhido pelo facto de raramente se falar de livros ilustrados e pensados, sobretudo, para um público mais jovem neste tipo de debates, e também porque ainda ontem escrevi sobre ele aqui e, ainda que, obviamente, isso nada tenha a ver com a escolha de Osvaldo Manuel Silvestre, uma pessoa fica ‘vaidosa’ com estas coincidências.
E agora vou continuar a gozar o privilégio de não ter horários (mas há prazos, oh, se há!) e vou voltar às Histórias de Amor, de Robert Walser, editado pela Relógio d'Água.
29 maio 2008
Para a barra
A Assírio & Alvim chegou à blogoesfera. São boas notícias e um excelente pretexto para actualizar a barra dos links.
Angelus Novus
No pavilhão (ou banca, ou stand, ou barraca, como preferirem...) 125 da Feira do Livro de Lisboa encontra-se a Letra Livre. E entre todas as boas recomendações, que incluem livros da & Etc e da Averno, livros da própria Letra Livre e muitas preciosidades bibliográficas, há livros da Angelus Novus, que para além de editar bem, também fez um filme promocional que vale a pena ver.
Bisbilhotando a estante alheia
No blog de livros do Guardian, Hermione Buckland-Hoby escreve sobre a tendência crescente de partilhar leituras na internet, através de alguns sites que permitem a criação de estantes virtuais e a sua disponibilização a outros internautas. Para ler aqui e descobrir as vantagens, muito para além da óbvia bisbilhotice.
Escolhas
Hoje, às 18h30, quem estiver em Lisboa tem à disposição uma espécie de programa duplo. Na Fundação Luso-Americana, o ciclo Asas Sobre a América prossegue com uma conferência de Lídia Jorge sobre William Faulkner. Na Feira do Livro, o Orfeu Negro e a revista Obscena debatem a edição de livros sobre teatro e dança em Portugal.
28 maio 2008
My name is Faulks
Os puristas não ficarão agradados, mas James Bond regressa aos livros, pela mão de Sebastian Faulks. Devil May Care, a mais recente aventura do agente 007, é publicada hoje no Reino Unido, como pode ler-se aqui, ou aqui, coincidindo com o centenário do nascimento de Ian Fleming, seu autor original.
O filme é que ainda não tem data, mas deve estar aí a rebentar...
O filme é que ainda não tem data, mas deve estar aí a rebentar...
Editores em desassossego
A sessão deste mês dos Livros em Desassossego será dedicada aos diferentes pontos de vista entre editores e respectivas associações. Assim, a Casa Fernando Pessoa recebe, amanhã, pelas 21h30, Carlos da Veiga Ferreira, presidente da UEP, Rui Beja, apontado como candidato à liderança da APEL nas eleições a realizar em breve, Tito Lyon de Castro, editor das Publicações Europa-América, e Osvaldo Manuel Silvestre, o editor da chancela Angelus Novus, que escolherá três livros saídos recentemente e que gostaria de ter podido editar.
A entrada, como sempre, é livre.
A entrada, como sempre, é livre.
27 maio 2008
A Matemática das Coisas
Hoje à tarde, às 17h30, quem estiver por Lisboa pode assistir à apresentação do livro A Matemática das Coisas, de Nuno Crato (Gradiva), na Feira do Livro.
Eu já o li e garanto que mesmo quem não se dava muito bem com equações de segundo grau ficará versado (ligeiramente, é certo) em temas tão aparentemete inacessíveis - e com nomes tão sonoros que parecem, só por si, misteriosos - como a sucessão de Fibonacci, o número de ouro ou a tira de Mobius. E temas mais prosaicos, como atacadores de sapatos ou fatias de bolo rei, também revelam a sua beleza, tranfsormando o quotidiano numa espécie de palco científico que não deixará ninguém voltar a usar a faca de cozinha com a mesma indiferença. Sobretudo, para além do muito que se aprende, os temas matemáticos surgem sempre em relação com o mundo que os rodeia, que lhes dá contexto ou que os origina, e isso abre caminho para uma forma muito diferente de olhar para a matemática. Seria muito fácil perder-mo-nos ao ler um texto onde se explica a geometria do pentagrama, as relações entre os seus ângulos e os seus vértices e a possibilidade de construir novos pentagramas a partir do inicial; mas se essa geometria for abordada, como neste livro, partindo da relação com o homem de Vitrúvio, o tema torna-se muito mais interessante e os esforços para acompanhar raciocínios nem sempre acessíveis ao leitor vêem-se recompensados.
Eu já o li e garanto que mesmo quem não se dava muito bem com equações de segundo grau ficará versado (ligeiramente, é certo) em temas tão aparentemete inacessíveis - e com nomes tão sonoros que parecem, só por si, misteriosos - como a sucessão de Fibonacci, o número de ouro ou a tira de Mobius. E temas mais prosaicos, como atacadores de sapatos ou fatias de bolo rei, também revelam a sua beleza, tranfsormando o quotidiano numa espécie de palco científico que não deixará ninguém voltar a usar a faca de cozinha com a mesma indiferença. Sobretudo, para além do muito que se aprende, os temas matemáticos surgem sempre em relação com o mundo que os rodeia, que lhes dá contexto ou que os origina, e isso abre caminho para uma forma muito diferente de olhar para a matemática. Seria muito fácil perder-mo-nos ao ler um texto onde se explica a geometria do pentagrama, as relações entre os seus ângulos e os seus vértices e a possibilidade de construir novos pentagramas a partir do inicial; mas se essa geometria for abordada, como neste livro, partindo da relação com o homem de Vitrúvio, o tema torna-se muito mais interessante e os esforços para acompanhar raciocínios nem sempre acessíveis ao leitor vêem-se recompensados.
26 maio 2008
Pessoana
No próximo dia 28 (Quarta-Feira), Eduardo Lourenço apresentará Pessoana: Bibliogafia Passiva, Selectiva e Temática, de José Blanco (Assírio & Alvim). A sessão está marcada para as 18h30, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Entretanto, o Público de hoje refere a possibilidade de uma parte do espólio de Fernando Pessoa, com leilão agendado para OUtubro deste ano, poder ser vendida a um comprador estrangeiro, o que impossibilitaria o seu estudo e edição a par com o resto do espólio.
365
Chegou-nos às mãos a mais recente edição da 365, revista que Fernando Alvim dirige e António Gregório edita. Não atinge a fasquia de números anteriores, como aquele, inesquecível, dedicado ao Verão Azul, mas o formato A5 assenta-lhe bem. Tem textos de Pedro Paixão, Jorge Palma ou Fernando Ribeiro, para além de um poema de Rui Lage e de várias outras colaborações, e anuncia a recepção de textos ou trabalhos gráficos para a próxima edição. Está à venda em livrarias, papelarias e associações de Estudantes, cobrindo uma área considerável do território. É espreitar aqui e descobrir o resto.
Alfredo Saramago
Comer e beber são muito mais do que duas necessidades. Aprendemo-lo com muitos autores ao longo dos séculos, e aprendemo-lo também com Alfredo Saramago, que morreu este fim de semana, deixando uma obra extensa e apetecível para memória dos vindouros. É lê-la e aprender.
Para uma História da Alimentação de Lisboa e seu Termo
Lisboa, Assírio & Alvim, 2004
Para uma História da Alimentação de Lisboa e seu Termo
Lisboa, Assírio & Alvim, 2004
25 maio 2008
Romance em Lyon
A partir de amanhã, e até ao dia 1 de Junho, Lyon será palco da segunda edição dos Assises Internationales du Roman. No Le Monde, co-organizador do evento, pode conhecer-se o programa e acompanhar, nos próximos dias, algumas das sessões.
Subindo e descendo o Parque
Entre um aguaceiro e uma aberta solarenga, o Cadeirão lá foi até ao Parque Eduardo VII. Sem fugir aos rituais de sempre, houve passagem obrigatória pelos alfarrabistas, pela tenda dos pequenos editores e pelas editoras de sempre. Mais do que um momento para descobrir novidades, a Feira é sempre uma boa altura para relembrar catálogos e títulos mais antigos, quase nunca visíveis nas livrarias e quase sempre a preços simpáticos. Foi assim que da Antígona veio O Comércio da Literatura, de Manuel Portela, que a minha biblioteca andava a reclamar desde o lançamento. E da banca da Letra Livre, duas edições velhinhas da & Etc: O Eubage (Nos Antípodas da Unidade), de Blaise Cendrars, e Zaroff - O Jogo Mais Perigoso, de Richard Connel, um livro que não pensei encontrar disponível. Cavalo de Ferro, Tinta da China, Cotovia, Relógio d'Água e Quasi terão as suas visitas mais tarde. Assim não se arruina uma família logo no primeiro dia da Feira... Na Assírio & Alvim não chegou a haver compras, mas houve conversa prolongada com quem sabe de livros e tem histórias para contar. A Feira e os livros também se fazem disso, de conversas, memórias e experiências.
A tão falada praça Leya viu-se de passagem, entre a subida e a descida, e não impressionou. Bem sei que o preconceito (aqui entendido também no sentido etimológico do termo) não torna a visão mais límpida, mas ainda assim, a dita praça não impressionou de todo: os caixotes ainda por abrir foram apenas um pormenor sem importância; já o facto de olhar para os pavilhões, maiores do que os outros - mesmo sem fita métrica, é óbvio - e não só não distinguir umas editoras de outras como ainda por cima ficar com a ideia de que há poucos livros, pareceu estranho. Pensar que há ali editoras com catálogos extensos e de referência e só conseguir vislumbrar capas expostas e pouco mais causa estranheza. Se calhar é má vontade, se calhar foi por ser o primeiro dia; dou o benefício da dúvida e volto lá durante a semana para confirmar.
A tão falada praça Leya viu-se de passagem, entre a subida e a descida, e não impressionou. Bem sei que o preconceito (aqui entendido também no sentido etimológico do termo) não torna a visão mais límpida, mas ainda assim, a dita praça não impressionou de todo: os caixotes ainda por abrir foram apenas um pormenor sem importância; já o facto de olhar para os pavilhões, maiores do que os outros - mesmo sem fita métrica, é óbvio - e não só não distinguir umas editoras de outras como ainda por cima ficar com a ideia de que há poucos livros, pareceu estranho. Pensar que há ali editoras com catálogos extensos e de referência e só conseguir vislumbrar capas expostas e pouco mais causa estranheza. Se calhar é má vontade, se calhar foi por ser o primeiro dia; dou o benefício da dúvida e volto lá durante a semana para confirmar.
22 maio 2008
Annemarie Schwarzenbach
Amanhã, dia 23 de Maio, passam cem anos sobre o nascimento de uma escritora suiça (Annemarie Schwarzenbach) que só no final do século XX começou a ser (re)descoberta. Nessa noite haverá uma sessão de leitura (à semelhança do que acontecerá nesse mesmo dia em vários pontos do mundo) e a projecção de um documentário sobre a autora na Fábrica de Braço de Prata.
E em Junho, Annemarie Schwarzenbach inaugura uma nova colecção, de livros de viagens, na Tinta da China, com o título Morte na Pérsia.
E em Junho, Annemarie Schwarzenbach inaugura uma nova colecção, de livros de viagens, na Tinta da China, com o título Morte na Pérsia.
21 maio 2008
Leituras Gastronómicas
No Hoja Por Hoja, Giorgio De’Angeli escreve sobre os livros de gastronomia que se editam no México, apontando lacunas (como a da cozinha não mexicana), sugerindo leituras e reflectindo sobre o estranho hábito que algumas pessoas têm: o de comprarem livros de receitas mesmo sabendo que nunca as vão cozinhar...
Aqui no Cadeirão, a leitura faz-se com A Ferver, de Bill Buford, daSextante (sobre o qual vale a pena ler o que Eduardo Pitta escreveu, no Ípsilon do dia 2 de Maio - disponível aqui).
Aqui no Cadeirão, a leitura faz-se com A Ferver, de Bill Buford, daSextante (sobre o qual vale a pena ler o que Eduardo Pitta escreveu, no Ípsilon do dia 2 de Maio - disponível aqui).
20 maio 2008
Entretanto...
...as notícias sobre a abertura da Feira de Lisboa (afinal, marcada para Sábado) foram surgindo em catadupa ao longo da tarde, pelo que se recomenda uma espreitadela ao Público, à Ler e aos Blogtailors para ficar a par de tudo o que se passou.
Uma longa resposta IV
E aqui entra outra ordem de questões, úteis para a minha resposta ao comentário referido. Eu não acredito nas boas graças do funcionamento do mercado. Será uma questão ideológica, claro, mas as questões ideológicas pesam quando há opiniões. Quer isto dizer que acho que o Estado devia controlar as editoras, etc, etc, etc...? Nada disso. Não só não acredito nas boas graças do funcionamento do mercado como também desprezo a ideia do centralismo estatal, a ideia do controlo total a partir de um centro benfeitor e timoneiro do povo e até a ideia de ser possível apontar uma ideia que resolva de modo satisfatório todas as inquietações, dúvidas e paixões políticas que alimento. O que posso fazer? Misturo uma costela anarquista com um socialismo de determinadas características, acredito no contrato entre Estado e cidadãos, mas também no direito à desobediência, na importância da responsabilidade e da responsabilização (sempre, a todo o custo e por mais contraditório que seja o que se fez ou pensou), simpatizo com as barricadas quando elas fazem falta, com a diplomacia sempre que possível, com o respeito no debate e com a falta de papas na língua. Mas que fique descansado o senhor do comentário: a responsabilidade é o que mais pesa, e por isso não lerá nenhum texto meu num órgão de informação que não tenha sido feito com a máxima dedicação ao rigor (e isto não significa que eu seja imune aos erros, que esses todos cometemos). Mas uma vez mais, isto não é um órgão de informação, ainda que às vezes possa servir como tal. E o que tem tudo isto a ver com a Feira do Livro e com a minha opinião sobre o modo como o processo tem decorrido? Tem tudo.
Não acreditando nas benesses do funcionamento do mercado, antipatizo com a concentração editorial e o modo como esta está a acontecer em Portugal porque acredito que daí não virá nada de bom para a edição (consequentemente, para tudo o resto que deriva da leitura e da existência de livros para serem lidos). Se calhar, vamos ter vendas mais altas, capas mais berrantes, autores mais sonantes, e com mais bonecos em tamanho real às portas das livrarias, mas nada disso me interessa no que aos livros diz respeito. E se tudo isso for conseguido sacrificando a qualidade dos catálogos, a diversidade dos títulos e a possibilidade de edição de alguns autores menos óbvios para o mercado, então passa a interessar-me, mas pela negativa. Dir-me-ão que se editoras pequenas e de qualidade desaparecerem à conta disso, se as pequenas livrarias ficarem sem acesso aos livros que encomendam porque as editoras dão preferência às grandes cadeias livreiras, se autores menos lucrativos – mas com textos que ninguém devia morrer sem ler – deixarem de publicar, isso é o mercado a funcionar. Pois bem, que não funcione. Se o mercado funcionar é sinónimo de termos estarolas dos negócios a granel a destruírem catálogos que editores de referência levaram anos a construir, livrarias transformadas em supermercados, onde não se encontram livros que não sejam novidades – e mesmo assim, só se forem da semana anterior –, e um panorama onde todos os espaços, Feiras incluídas, são ocupados pela eficiência do marketing, mas pela ausência de conteúdo (conteúdo mesmo, daquele que não precisa de ser espremido, daquele que a gente lê e a seguir tem de pensar no que leu, e às vezes não volta a ser a mesma pessoa depois de ter lido), então que se dane o mercado e o seu funcionamento.
Tenho alguma proposta proteccionista para resolver a questão? Claro que não. Percebo pouco do deve e do haver e, se tivesse uma editora, tenho a certeza de que ela não só não daria lucro como o mais provável era que desse prejuízo. Mas acredito que órgãos como a Câmara Municipal (a de Lisboa, mas também a do Porto, e até seria interessante pensar nas outras e no que poderiam fazer nas respectivas localidades) poderiam atenuar o efeito de mina armadilhada que estruturas gigantescas podem ter no panorama editorial. Como? Talvez passando a apoiar a instalação de editoras menos abonadas nas Feiras do Livro, em vez de subsidiar directamente a APEL, por exemplo. É uma medida de caridade, pseudo-comuna, pobrezinha... Não faço ideia, mas soa-me bem independentemente da etiqueta. E também me soaria bem que as editoras que não pretendem vender-se se associassem de algum modo, para fazerem face aos problemas de organização das Feiras – que certamente se irão agravar – e sobretudo para garantirem que não perdem margem de negócios com os pontos de venda. Mas isto, claro, são só ideias minhas.
Não acreditando nas benesses do funcionamento do mercado, antipatizo com a concentração editorial e o modo como esta está a acontecer em Portugal porque acredito que daí não virá nada de bom para a edição (consequentemente, para tudo o resto que deriva da leitura e da existência de livros para serem lidos). Se calhar, vamos ter vendas mais altas, capas mais berrantes, autores mais sonantes, e com mais bonecos em tamanho real às portas das livrarias, mas nada disso me interessa no que aos livros diz respeito. E se tudo isso for conseguido sacrificando a qualidade dos catálogos, a diversidade dos títulos e a possibilidade de edição de alguns autores menos óbvios para o mercado, então passa a interessar-me, mas pela negativa. Dir-me-ão que se editoras pequenas e de qualidade desaparecerem à conta disso, se as pequenas livrarias ficarem sem acesso aos livros que encomendam porque as editoras dão preferência às grandes cadeias livreiras, se autores menos lucrativos – mas com textos que ninguém devia morrer sem ler – deixarem de publicar, isso é o mercado a funcionar. Pois bem, que não funcione. Se o mercado funcionar é sinónimo de termos estarolas dos negócios a granel a destruírem catálogos que editores de referência levaram anos a construir, livrarias transformadas em supermercados, onde não se encontram livros que não sejam novidades – e mesmo assim, só se forem da semana anterior –, e um panorama onde todos os espaços, Feiras incluídas, são ocupados pela eficiência do marketing, mas pela ausência de conteúdo (conteúdo mesmo, daquele que não precisa de ser espremido, daquele que a gente lê e a seguir tem de pensar no que leu, e às vezes não volta a ser a mesma pessoa depois de ter lido), então que se dane o mercado e o seu funcionamento.
Tenho alguma proposta proteccionista para resolver a questão? Claro que não. Percebo pouco do deve e do haver e, se tivesse uma editora, tenho a certeza de que ela não só não daria lucro como o mais provável era que desse prejuízo. Mas acredito que órgãos como a Câmara Municipal (a de Lisboa, mas também a do Porto, e até seria interessante pensar nas outras e no que poderiam fazer nas respectivas localidades) poderiam atenuar o efeito de mina armadilhada que estruturas gigantescas podem ter no panorama editorial. Como? Talvez passando a apoiar a instalação de editoras menos abonadas nas Feiras do Livro, em vez de subsidiar directamente a APEL, por exemplo. É uma medida de caridade, pseudo-comuna, pobrezinha... Não faço ideia, mas soa-me bem independentemente da etiqueta. E também me soaria bem que as editoras que não pretendem vender-se se associassem de algum modo, para fazerem face aos problemas de organização das Feiras – que certamente se irão agravar – e sobretudo para garantirem que não perdem margem de negócios com os pontos de venda. Mas isto, claro, são só ideias minhas.
Uma longa resposta III
Quanto à Feira propriamente dita, e à participação da Leya neste processo, digo o seguinte: pessoalmente, parece-me muito bem que os editores proponham alterações ao modelo da Feira, se disso sentem necessidade, assim como me parece muito bem que não o façam, se para aí não estiverem virados. Mas parece-me bem que o façam nos locais onde se associam e, já agora, de um modo o mais transparente possível. O que cheirou a esturro (e a prepotência, e a desprezo pelo debate e pelas próprias associações) foi a ausência da Leya nos espaços de debate, em pé de igualdade com os restantes editores (seus pares, ou não?). E o que esturricou de vez toda a credibilidade do processo foi o facto de, depois dessa ausência, a Leya surgir constantemente como uma terceira associação, apesar de ser um grupo editorial, e de a Leya insistir em não entregar a sua inscrição na Feira, à semelhança do que fizeram as restantes editoras. Ora, a partir daqui, parece legítimo que todas as outras editoras e todos os outros grupos editoriais tenham o mesmo direito de participar, como a Leya participou, nas reuniões que foram existindo. E que se perguntem para que andam a tratar de inscrições e a respeitar os regulamentos da Feira. Não sendo assim, concluo que para a Leya, as restantes editoras não são, de facto, seus pares e que, depois disto, talvez as associações não tenham grande sentido... O melhor é mesmo deixar o mercado funcionar.
Uma longa resposta II
Se algum dia me for pedido um artigo, notícia ou reportagem, sobre as disputas entre a APEL e a UEP relativamente à Feira do Livro, não haverá lugar para outro procedimento que não o de contactar todos os envolvidos, dentro de cada associação, bem como os elementos que, parecendo menos óbvios na sua relação com as ditas disputas, terão alguma coisa a dizer sobre o assunto. Não comecei ontem a acompanhar o mundo editorial e compreendo o que diz o comentário. Mas isto é um blog pessoal, onde para além de partilhar leituras e notícias, me reservo o direito de opinar sobre o que se passa no dito mundo editorial. Ora, a opinião não é isenta e eu nunca escondi a minha pouca simpatia pela concentração editorial. Não há imparcialidade aqui: a concentração do mercado nas mãos de uns poucos não me agrada. E para quem lê este blog, isso não é exactamente uma novidade. Mas eu volto a explicar: este blog não é imparcial; faz, aliás, questão de ser parcial sempre que assim o entender. Para escritas anódinas já basta o dia a dia.
Uma longa resposta
Um comentário a este post ficou sem resposta até agora, e seria uma tremenda falta de educação da minha parte se assim se mantivesse. Primeiro, foi a falta de tempo nestes últimos dias; depois, foi a necessidade de dar uma resposta completa, aproveitando para esmiuçar um pouco mais toda esta telenovela e o que ela implica para o futuro da edição em Portugal. A resposta acabou por sair mais longa do que eu imaginava, por isso passou a ser um post, e partido em três, para não abusar da vista de ninguém.
Será desta?
Segundo notícia avançada pelo Público on-line, o acordo entre a APEL e a UEP (e a Leya, é preciso dizer, que também lá estava apesar de não ser uma associação) foi assinado ontem à noite, na Câmara Municipal de Lisboa. A Leya terá os seus pavilhões diferenciados, a APEL ficará com a organização da Feira do próximo ano e o evento propriamente dito deve abrir este fim de semana, faltando apenas acertar alguns pormenores técnicos.
Em compensação, a Feira do Porto abre mesmo no dia 21, tal como estava anunciado.
Em compensação, a Feira do Porto abre mesmo no dia 21, tal como estava anunciado.
19 maio 2008
Galego-Português
Foram vários milhares na Praça da Quintana. em Santiago de Compostela, exigindo que a sua língua seja usada em todas as ocasiões, e não apenas nos contextos familiares, e que lhe seja reconhecida a dimensão que, de facto, tem.
Do Cadeirão, um abraço para os amigos que por lá andaram e o desejo de que a festa ainda venha a ser bonita, pá.
Do Cadeirão, um abraço para os amigos que por lá andaram e o desejo de que a festa ainda venha a ser bonita, pá.
17 maio 2008
Os foguetes e as canas
Afinal, tudo na mesma... O que ontem foi divulgado já não é bem verdade e o que será anunciado amanhã ou depois, logo se verá. Até agora, a Leya fica para a história como o motivo pelo qual não temos feira em Lisboa para a semana. Esperemos que não fique também para a história como o motivo pelo qual não temos feira em Lisboa, nem para a semana nem este ano.
E agora vou ler os jornais do fim de semana, descobrir se as mudanças do Actual são para saudar ou para lamentar e descobrir as novidades da Feira do Livro de Madrid... essa, pelos vistos, vai mesmo acontecer (e com as mesmas barraquinhas de sempre, vejam só!).
E agora vou ler os jornais do fim de semana, descobrir se as mudanças do Actual são para saudar ou para lamentar e descobrir as novidades da Feira do Livro de Madrid... essa, pelos vistos, vai mesmo acontecer (e com as mesmas barraquinhas de sempre, vejam só!).
16 maio 2008
Temos Feira, sim senhora!
Segundo o blog da Ler, a Feira do Livro de Lisboa vai realizar-se, e com todos os pavilhões. Os das editoras que se inscreveram de acordo com o regulamento, iguais aos de sempre, os da especial de corrida Leya, diferentes de todos os outros. Uma verdadeira festa...
(Des)Acordos
A discussão sobre o protocolo modificativo do Acordo Ortográfico está marcada para hoje, na Assembleia da República.
Leituras (para acalmar um bocado os ânimos)
No New York Times, Alberto Manguel assina um belo texto sobre os seus trinta mil volumes bibliográficos (e o ‘drama’ da respectiva arrumação).
15 maio 2008
Troca de argumentos
O debate entre Vasco Teixeira, da APEL, e Rosália Vargas, da Câmara Municipal de Lisboa acabou de acabar. Ficou por perceber se a CML tem noção do que andou a fazer nos últimos dias ou se foi apanhada de surpresa, ingenuamente, quando se lembrou de autorizar a montagem de pavilhões por parte de um grupo editorial que nunca se inscreveu na Feira do Livro, como fizeram todos os outros editores.
Mais novidades sobre a clarificação da CML, só amanhã.
Mais novidades sobre a clarificação da CML, só amanhã.
O Fórum da Discórdia
Foi-se ouvindo, mas nada de muito novo surgiu da conversa. As mesmas trocas de acusações, a mesma prepotência de quem tem o bolso cheio e a certeza de que já se deu a volta às leituras permitidas pelas notícias que vão saindo: a Leya passou de desestabilizadora a vítima e daqui a uns dias, já ninguém se vai lembrar da ausência prepotente do grupo nas reuniões convocadas para a organização da Feira, nem das propostas que fizeram directamente à CML, passando por cima das organizações de editores e demonstrando uma postura e um modo de funcionamento que não auguram nada de bom para o futuro (por exemplo, ao nível das relações com as livrarias, sobretudo com as que têm menos margem de negociação). De resto, Isaías Gomes Teixeira foi falando, ora pela Leya, ora pela UEP. Mas foi sempre dizendo que não tem nada a ver com as guerras entre APEL e UEP e que a Leya só apareceu em Janeiro. E foi dizendo, de cinco em cinco minutos, que era a primeira vez que estava a falar em público, e que por isso queria continuar a falar, como se isso lhe desse direito ao monopólio das ondas de rádio. E o pior é que deu... e ele aproveitou, claro.
Quanto à Feira, a última versão (mas só até agora, que isto tem tudo para mudar mais umas dez vezes até ao dia 21, e até pode ser que não haja Feira para ninguém) diz que os pavilhões da APEL estarão no sítio combinado e que, como estes não ocupam todo o Parque (deixando livre uma área que a CML pode gerir como quiser), a Leya ocupa o espaço livre. Afinal, sempre se dividiu o Parque ao meio e afinal, a Leya fará o que quer e lhe apetece (coisa de que ninguém duvidou). E ficámos todos a saber um bocadinho melhor como serão as coisas daqui para a frente.
Quanto à Feira, a última versão (mas só até agora, que isto tem tudo para mudar mais umas dez vezes até ao dia 21, e até pode ser que não haja Feira para ninguém) diz que os pavilhões da APEL estarão no sítio combinado e que, como estes não ocupam todo o Parque (deixando livre uma área que a CML pode gerir como quiser), a Leya ocupa o espaço livre. Afinal, sempre se dividiu o Parque ao meio e afinal, a Leya fará o que quer e lhe apetece (coisa de que ninguém duvidou). E ficámos todos a saber um bocadinho melhor como serão as coisas daqui para a frente.
14 maio 2008
Também podemos assinar?
No Blogtailors, pode ler-se a proposta de abaixo-assinado lançada pela Gradiva.
É uma pena que, para além dos editores, não possa ser assinado também pelos restantes interessados (leitores, por exemplo)... Eu assinaria de bom grado.
É uma pena que, para além dos editores, não possa ser assinado também pelos restantes interessados (leitores, por exemplo)... Eu assinaria de bom grado.
Até ver, não há subidas ou descidas do Parque para ninguém
E quando toda a gente pensava que a novela tinha acabado, eis que chegam novos capítulos. Agora, a Feira do Livro de Lisboa está suspensa, segundo noticiou o Público há poucos minutos, por ordem da Câmara Municipal de Lisboa. O motivo: a APEL não entregou o plano final da distribuição do espaço. Porquê? Segundo a mesma notícia, a APEL - responsável pela Feira este ano - continua a recusar a participação da Leya sem inscrição e sem o cumprimento das regras previamente definidas (ver notícias de ontem). A CML reuniiu hoje com a APEL, a UEP e a própria Leya (que, apesar de ter uma associação que a representa, como todos os editores, tem um estatuto especial qualquer que ainda ninguém deslindou... e a esse propósito, vale a pena ler o post do Jorge Reis-Sá, aqui) e decidiu suspender a Feira. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
Na notícia do Público, lá para o meio, lê-se a seguinte frase:
"Mostrando-se intransigente em relação aos pavilhões da Leya, que representa autores como Lobo Antunes, Lídia Jorge e Saramago, a APEL corre o risco de perder o subsídio camarário: a autarquia pode vir a invocar a perda de interesse público do evento, por via da possível ausência destes autores."
E com esta frase ficamos a saber que Feira sem Lobo Antunes, Lídia Jorge e Saramago, não tem interesse público... E ficamos a saber também que com este trunfo, a Leya tem toda a gente na mão, invertendo qualquer lógica minimamente aceitável.
Adenda: No blog da Ler, pode ler-se o comunicado da CML sobre o folhetim.
Na notícia do Público, lá para o meio, lê-se a seguinte frase:
"Mostrando-se intransigente em relação aos pavilhões da Leya, que representa autores como Lobo Antunes, Lídia Jorge e Saramago, a APEL corre o risco de perder o subsídio camarário: a autarquia pode vir a invocar a perda de interesse público do evento, por via da possível ausência destes autores."
E com esta frase ficamos a saber que Feira sem Lobo Antunes, Lídia Jorge e Saramago, não tem interesse público... E ficamos a saber também que com este trunfo, a Leya tem toda a gente na mão, invertendo qualquer lógica minimamente aceitável.
Adenda: No blog da Ler, pode ler-se o comunicado da CML sobre o folhetim.
Não Perca os 3
Na próxima sexta-feira, pelas 21h30, a Pó dos Livros inicia o seu ciclo de debates mensais 'Não Perca os 3', com Pedro Mexia, Fernanda Câncio e Rui Tavares. O convidado da primeira sessão é Eduardo Lourenço e a conversa andará à volta do público e do privado, bem como do Maio de 68.
Mais Leya, inevitavelmente
A ideia da concentração editorial não me agrada. A notícia de ontem não foi por isso recebida com agrado. Haverá romantismo e uma ideologia a presidir às minhas convicções. Tentarei, por isso, confrontar argumentos.
A Leya dominará uma avassaladora parcela da edição que se faz em Portugal. Expectativas:
Maior capacidade para negociar com as livrarias no que respeita a escaparates, montras e destaques;
Maior capacidade para negociar com as livrarias percentagens de vendas e modos de pagamento;
Maior capacidade para negociar com gráficas os custos de produção;
Maior capacidade para negociar publicidade e promoção dos livros;
Maior capacidade para negociar direitos de autor no estrangeiro.
Resultados esperados:
Livros mais baratos em Portugal;
Melhor distribuição a nível nacional (entre hipermercados, grandes cadeias de livrarias, livrarias de bairro e livrarias/papelarias);
Maior e melhor divulgação de obras portuguesas fora de Portugal;
Melhores condições para os autores;
Aquilo a que se tem assistido:
Não se consegue, ao ligar para a Leya, chegar com facilidade aos responsáveis pela comunicação das diversas editoras que a integram (quem o tentou pode confirmá-lo).
Periódicos, revistas e blogues têm dificuldade em receber os livros que pedem às editoras, a menos que sejam novidades (mesmo estas nem sempre chegam de acordo com pedidos prévios).
As livrarias mais pequenas não recebem livros do grupo, principalmente se escolhem, de acordo com os seus critérios, livros menos mediáticos ou vendáveis.
A polémica em torno da Feira do Livro deu tempo de antena e espaço mediático à Leya, que desrespeitou regras e prazos de inscrição, assumindo sem pejo que quer (e muito provavelmente vai) furar as regras que as outras editoras aceitam.
Possivelmente, a aquisição da Explorer contribuirá para pôr ordem num grupo onde não se consegue trabalhar, e ainda não é visível nenhuma destas consequências positivas da concentração. Quando estiveram na Casa Fernando Pessoa, os discursos de Isaías Gomes Teixeira e António Lobato Faria diferiram. Enquanto o primeiro tinha preparado um discurso demagógico, megalómano e provocatório, assente em sensos comuns, trejeitos economicistas e auto-elogiosos, o segundo falava da edição fundamentando argumentos com exemplos de quem conhece a área em que trabalha. O que é, aliás, inegável.
Enquanto promotora da leitura, desejo efectivamente que a Leya possa contribuir para aumentar o número de leitores e o acesso ao livro. Distingo leitura de literatura e aceito as preferências individuais. Mas enquanto cidadã acredito que a base social está na educação, na formação, no desenvolvimento de competências a par do sentido crítico e da escolha responsável. O que é avesso a arremessos consumistas que dependem de nomes famosos e tops de vendas. E temo que a Leya não privilegie estes valores em detrimento de capas e títulos apelativos, de livros consumíveis e da criação de fenómenos artificiais. Porque tem todos os meios para o fazer, o mercado não poderá reagir e obrigar as editoras do grupo a terem padrões de qualidade elevados, se assim não quiserem. As ‘marcas’ do prestígio (Caminho e D. Quixote, essencialmente) podem perder-se entretanto, se mantiverem autores de prestígio que lhes assegurem essa imagem. As leis da concorrência foram esmagadas por este gigante, e o desequilíbrio de forças é sempre perigosamente autocrático.
Vamos esperar. Felizmente há sobreviventes, ainda. Espero que assim se mantenham, e que, por exemplo, a poesia ou a tradução dos clássicos continuem bem entregues. Desejo que os pequenos guetos dialoguem, e que desse diálogo nasçam propostas saudáveis, como aconteceu com a BI (Biblioteca Independente). Desejo continuar a admirar as capas da Tinta da China ou o design do Henrique Cayatte para a Sextante, ou as traduções da Cavalo de Ferro. Desejo encontrar raridades na Tenda dos Pequenos Editores, quando, na próxima semana subir e descer novamente o Parque Eduardo VII.
A Leya dominará uma avassaladora parcela da edição que se faz em Portugal. Expectativas:
Maior capacidade para negociar com as livrarias no que respeita a escaparates, montras e destaques;
Maior capacidade para negociar com as livrarias percentagens de vendas e modos de pagamento;
Maior capacidade para negociar com gráficas os custos de produção;
Maior capacidade para negociar publicidade e promoção dos livros;
Maior capacidade para negociar direitos de autor no estrangeiro.
Resultados esperados:
Livros mais baratos em Portugal;
Melhor distribuição a nível nacional (entre hipermercados, grandes cadeias de livrarias, livrarias de bairro e livrarias/papelarias);
Maior e melhor divulgação de obras portuguesas fora de Portugal;
Melhores condições para os autores;
Aquilo a que se tem assistido:
Não se consegue, ao ligar para a Leya, chegar com facilidade aos responsáveis pela comunicação das diversas editoras que a integram (quem o tentou pode confirmá-lo).
Periódicos, revistas e blogues têm dificuldade em receber os livros que pedem às editoras, a menos que sejam novidades (mesmo estas nem sempre chegam de acordo com pedidos prévios).
As livrarias mais pequenas não recebem livros do grupo, principalmente se escolhem, de acordo com os seus critérios, livros menos mediáticos ou vendáveis.
A polémica em torno da Feira do Livro deu tempo de antena e espaço mediático à Leya, que desrespeitou regras e prazos de inscrição, assumindo sem pejo que quer (e muito provavelmente vai) furar as regras que as outras editoras aceitam.
Possivelmente, a aquisição da Explorer contribuirá para pôr ordem num grupo onde não se consegue trabalhar, e ainda não é visível nenhuma destas consequências positivas da concentração. Quando estiveram na Casa Fernando Pessoa, os discursos de Isaías Gomes Teixeira e António Lobato Faria diferiram. Enquanto o primeiro tinha preparado um discurso demagógico, megalómano e provocatório, assente em sensos comuns, trejeitos economicistas e auto-elogiosos, o segundo falava da edição fundamentando argumentos com exemplos de quem conhece a área em que trabalha. O que é, aliás, inegável.
Enquanto promotora da leitura, desejo efectivamente que a Leya possa contribuir para aumentar o número de leitores e o acesso ao livro. Distingo leitura de literatura e aceito as preferências individuais. Mas enquanto cidadã acredito que a base social está na educação, na formação, no desenvolvimento de competências a par do sentido crítico e da escolha responsável. O que é avesso a arremessos consumistas que dependem de nomes famosos e tops de vendas. E temo que a Leya não privilegie estes valores em detrimento de capas e títulos apelativos, de livros consumíveis e da criação de fenómenos artificiais. Porque tem todos os meios para o fazer, o mercado não poderá reagir e obrigar as editoras do grupo a terem padrões de qualidade elevados, se assim não quiserem. As ‘marcas’ do prestígio (Caminho e D. Quixote, essencialmente) podem perder-se entretanto, se mantiverem autores de prestígio que lhes assegurem essa imagem. As leis da concorrência foram esmagadas por este gigante, e o desequilíbrio de forças é sempre perigosamente autocrático.
Vamos esperar. Felizmente há sobreviventes, ainda. Espero que assim se mantenham, e que, por exemplo, a poesia ou a tradução dos clássicos continuem bem entregues. Desejo que os pequenos guetos dialoguem, e que desse diálogo nasçam propostas saudáveis, como aconteceu com a BI (Biblioteca Independente). Desejo continuar a admirar as capas da Tinta da China ou o design do Henrique Cayatte para a Sextante, ou as traduções da Cavalo de Ferro. Desejo encontrar raridades na Tenda dos Pequenos Editores, quando, na próxima semana subir e descer novamente o Parque Eduardo VII.
13 maio 2008
Agora sim, a notícia do dia
A Antígona acaba de editar um volume de ensaios de George Orwell, seleccionados por John Carey para a Everyman's Library: Porque Escrevo e Outros Ensaios.
Chega às livrarias no próximo dia 22.
Em havendo muito dinheiro, tudo se faz
Esta só não foi a notícia do dia no mundo editorial porque a notícia da compra da Explorer Investments a abafou. Afinal, a Leya lá terá os seus pavilhões personalizados na Feira do Livro de Lisboa. Afinal, e segundo o Correio da Manhã, nem precisa de inscrever-se junto da APEL, ao contrário de todas as outras editoras que participarão na Feira (incluindo as da UEP). Não está em causa o direito de os editores mudarem o formato da feira, nem de lutarem por fazer passar as suas posições sobre o tema. Mas talvez esteja em causa uma outra coisa: o facto de o dinheiro comprar muito mais do que um espaço, o direito de fazer o que nos passar pela cabeça sem cumprir as regras que foram estabelecidas previamente (e previamente ignoradas - inclusive nos espaços onde as próprias regras se discutiram - por quem tem o dito dinheiro).
Para o ano, não vale a pena discutir se o Parque Eduardo VII é entregue à APEL ou à UEP, que talvez acabassem por se entender se a Leya não tivesse aparecido entretanto (mas os 'ses', já se sabe, de pouco servem). O Paes do Amaral compra tudo, da rotunda do Marquês ao falo do Cargaleiro e instala uma mega-tenda, com vários corredores e muitas caixas registadoras. Ou então, manda-se a Leya para um espaço à altura de um grupo a séria, o Pavilhão Atlântico, por exemplo, e deixa-se o Parque para as editoras que ainda não tiverem sido vendidas. Pelo menos, os passeantes amadores de livros sempre continuavam a subir e descer o Parque com a pacatez do costume, folheando os livros que ainda são feitos por editores e trocando dois dedos de conversa sem a sombra das tendas de circo.
Para o ano, não vale a pena discutir se o Parque Eduardo VII é entregue à APEL ou à UEP, que talvez acabassem por se entender se a Leya não tivesse aparecido entretanto (mas os 'ses', já se sabe, de pouco servem). O Paes do Amaral compra tudo, da rotunda do Marquês ao falo do Cargaleiro e instala uma mega-tenda, com vários corredores e muitas caixas registadoras. Ou então, manda-se a Leya para um espaço à altura de um grupo a séria, o Pavilhão Atlântico, por exemplo, e deixa-se o Parque para as editoras que ainda não tiverem sido vendidas. Pelo menos, os passeantes amadores de livros sempre continuavam a subir e descer o Parque com a pacatez do costume, folheando os livros que ainda são feitos por editores e trocando dois dedos de conversa sem a sombra das tendas de circo.
Deve e haver
Desde o meio da tarde que não se fala de outra coisa: a Leya lá comprou as editoras da Explorer Investments, amealhando no seu pé de meia a Oficina do Livro, a Casa das Letras, a Editorial Teorema, a Estrela Polar e a Sebenta (ver Público Digital). E se calhar, ainda a história vai no seu início... Certo é que o pé de meia livresco do senhor que gosta é de carros se agiganta, deixando no ar duas perguntas: Quantas editoras ainda estarão à venda? Quem será o futuro feliz proprietário de tamanho império editorial? Ficamos à espera para ver.
12 maio 2008
Tentações
Já aqui falei sobre a minha vontade de visitar Hay-on-Wye, instalada desde o momento em que descobri a peculiar existência da pacata terrinha galesa. Mas o Guardian gosta de desinquietar as pessoas e divulga, aqui, o programa completo do Hay Festival deste ano. Conformo-me pensando que Hay-on-Wye deve ser mais interessante fora da agitação do festival, sem centenas de pessoas a acotovelarem-se à volta dos alfarrabistas...
09 maio 2008
Pausa
Bem sei que o Cadeirão anda lento e pouco produtivo, à conta de um novo horário de trabalho, e que é aos fins de semana que a coisa se vai compondo. Mas amanhã e depois, nada de posts (meus, pelo menos). Vou estar pelo Festival Internacional de BD de Beja e prometo dar conta de tudo aqui, no regresso.
08 maio 2008
Subir e Descer o Parque VI
Quem diz que sim, quem diz que não ('são os movimentos de libertação', cantava o Sérgio Godinho)... O mais certo é nunca sabermos a verdade, já que cada uma das partes (das três partes, diga-se, porque o debate há muito que saiu da troca de argumentos entre a APEL e a UEP para passar a contar também com a Leya) diz uma coisa diferente. Em resumo, se isto pode resumir-se, e de acordo com o Público de hoje (edição impressa, secção Local), a APEL diz que a Leya não se inscreveu na Feira de Lisboa, e a UEP, à qual a Leya pertence, diz que a Leya se inscreveu e que a APEL a autorizou a usar pavilhões diferentes dos tradicionais. A APEL, por outro lado, diz que alguém da Leya telefonou, depois do prazo de inscrições ter encerrado, pedindo que prolongassem o prazo de inscrições... Enfim, a saga continua, e parece que vai continuar. Talvez depois da Feira se possa fazer uma reflexão séria e pertinente sobre o que tudo isto implica em termos de mudanças no mercado e de atitudes de promoção e comunicação, de edição de livros e de promoção de fenómenos livrescos, de ricos e pobres e de como essa riqueza e pobreza se manifesta, para além da escolha de uma tasca ou de um restaurante, na capacidade ou incapacidade de fazer frente às gigantescas máquinas de promoção de livros que até podiam estar a promover carros... Até lá, o melhor é pensarmos mais nos passeios pelo Parque e menos no resto.
Subir e descer o Parque V
As telenovelas dão sempre reviravoltas inesperadas; quando parece que tudo caminha num determinado sentido, pumba! Afinal, as editoras da Leya não participam na Feira do Livro. Será que o patamar de eficiência/ dependência do marketing e das grandes operações de promoção já é tão grande que só se conseguem vender livros em tendas de circo, com fanfarras à porta e um ou outro leão, não compensando, por isso, tentar vender livros na feira de sempre, assim, cara a cara com o leitor, sem intermédio de outras distracções, só o livrinho a valer por si?
Adenda: é claro que isto é um retrato exagerado dacoisa. Os editores têm todo o direito de alterar a configuração da Feira do Livro e de apresentarempropostas para outro tipo de pavilhões, para além, é claro, de terem todo o direito a não terem uma opinião unânime sobre tudo isto. A ideia de que a unidade, ainda que forçada, é a melhor coisa do mundo nunca deu bons resultados e este caso não é excepção. O que irrita é perceber que o caos da Feira deste ano não se deve tanto ao esgrimir de posições antagónicas das associações, e sim ao aparecimento de um grupo como a Leya, que parece estar pouco preocupado com os efeitos que tudo isto terá no meio editorial, desde que leve a sua avante. E levar a sua avante não é, parece-me, dar espaço às propostas alternativas que a UEP vem defendendo relativamente à APEL, mas sim ganhar o braço de ferro do ‘cash’: temos dinheiro e queremos investir à grande para transformar o mercadinho numa coisa a sério. Se levamos tudo à frente, inclusive as tentativas recentes de reaproximação entre as duas associações de editores, isso pouco importa. É a lei do mercado? Pois será. E a lei do mercado costuma dar bons frutos quando se trata de editar livros? Pois costuma, mas só para os grandes best-sellers, nomes famosos, escritores garantidos e outras coisas certas. O risco, a edição de obras difíceis – mas imprescindíveis –, a disponibilização de textos fundamentais mas cujos autores não aparecem na televisão todos os dias, aí os frutos não costumam ter muito espaço para crescer. E sim, bem sei que têm surgido muitas declarações de intenções dizendo que os catálogos vão continuar a ser feitos com enormes preocupações de qualidade, que vão continuar a editar-se autores que não vendem tanto mas são importantes, que nenhuma catástrofe bibliográfica vai acontecer... Mas também sei que essas declarações têm sido contrariadas pela saída de grandes editores das casas que os acolheram (e que viram os catálogos por si construídos crescerem) durante anos, que as pequenas livrarias começam a sofrer com a preferência dada pelos grandes à colocação das edições nas grandes superfícies, que alguns autores relevantes começam a pensar em alternativas para se editarem. E vamos ver o que os próximos tempos reservam... Ainda teremos muito que ver, e isto também é o mercado a funcionar, para o sossego de todas as almas liberais. No fim, veremos quantas editoras independentes sobram para contar a história, e quantas se safaram do embate. Não temos todos de comer na tasca? Pois não, mas talvez tenhamos todos de garantir que a tasca não desaparece. E isso ainda está para se ver.
Adenda: é claro que isto é um retrato exagerado dacoisa. Os editores têm todo o direito de alterar a configuração da Feira do Livro e de apresentarempropostas para outro tipo de pavilhões, para além, é claro, de terem todo o direito a não terem uma opinião unânime sobre tudo isto. A ideia de que a unidade, ainda que forçada, é a melhor coisa do mundo nunca deu bons resultados e este caso não é excepção. O que irrita é perceber que o caos da Feira deste ano não se deve tanto ao esgrimir de posições antagónicas das associações, e sim ao aparecimento de um grupo como a Leya, que parece estar pouco preocupado com os efeitos que tudo isto terá no meio editorial, desde que leve a sua avante. E levar a sua avante não é, parece-me, dar espaço às propostas alternativas que a UEP vem defendendo relativamente à APEL, mas sim ganhar o braço de ferro do ‘cash’: temos dinheiro e queremos investir à grande para transformar o mercadinho numa coisa a sério. Se levamos tudo à frente, inclusive as tentativas recentes de reaproximação entre as duas associações de editores, isso pouco importa. É a lei do mercado? Pois será. E a lei do mercado costuma dar bons frutos quando se trata de editar livros? Pois costuma, mas só para os grandes best-sellers, nomes famosos, escritores garantidos e outras coisas certas. O risco, a edição de obras difíceis – mas imprescindíveis –, a disponibilização de textos fundamentais mas cujos autores não aparecem na televisão todos os dias, aí os frutos não costumam ter muito espaço para crescer. E sim, bem sei que têm surgido muitas declarações de intenções dizendo que os catálogos vão continuar a ser feitos com enormes preocupações de qualidade, que vão continuar a editar-se autores que não vendem tanto mas são importantes, que nenhuma catástrofe bibliográfica vai acontecer... Mas também sei que essas declarações têm sido contrariadas pela saída de grandes editores das casas que os acolheram (e que viram os catálogos por si construídos crescerem) durante anos, que as pequenas livrarias começam a sofrer com a preferência dada pelos grandes à colocação das edições nas grandes superfícies, que alguns autores relevantes começam a pensar em alternativas para se editarem. E vamos ver o que os próximos tempos reservam... Ainda teremos muito que ver, e isto também é o mercado a funcionar, para o sossego de todas as almas liberais. No fim, veremos quantas editoras independentes sobram para contar a história, e quantas se safaram do embate. Não temos todos de comer na tasca? Pois não, mas talvez tenhamos todos de garantir que a tasca não desaparece. E isso ainda está para se ver.
Sublinhados XV
"A distribuição das tarefas pelo conjunto dos funcionários satisfaz uma regra simples, a de que os elementos de cada categoria têm o dever de executar todo o trabalho que lhes seja possível, de modo a que só uma mínima parte dele tenha de passar à categoria seguinte. Isto significa que os auxiliares de escrita são obrigados a trabalhar sem parar de manhã à noite, enquanto os oficiais o fazem de vez em quando, os subchefes só muito de longe em longe, o conservador quase nunca."
José Saramago, Todos os Nomes, Caminho,1997 (p.12)
José Saramago, Todos os Nomes, Caminho,1997 (p.12)
07 maio 2008
Escolhas
Hoje, será preciso escolher. Na Fnac do Chiado, apresenta-se o monumento de Cortázar, Rayuela – O Jogo do Mundo, numa edição da Cavalo de Ferro (muito mais bonita e legível do que a de bolso que conheci em Espanha, com letras demasiado pequenas para a dimensão do texto e as minhas dioptrias). Na livraria Assírio & Alvim (Rua Passos Manuel, 67 B, Lisboa), dá-se a conhecer o volume Leitura Infinita, de José Tolentino Mendonça, dedicado à exegese bíblica, com chancela da Assírio & Alvim. E no Centro Nacional de Cultura, Guilherme d’Oliveira Martins apresenta Vozes Íntimas, de António Osório, igualmente com chancela da Assírio & Alvim. Tudo em Lisboa, tudo às 18h30. Agora arranjem-se.
LER no Chiado
A primeira sessão está marcada para amanhã, às 18h30, na Bertrand do Chiado. A partir daí, as primeiras quintas-feiras de cada mês serão dedicadas à LER no Chiado, com debates em torno do mundo dos livros.
05 maio 2008
O curto passo para o abismo
Foi numa aula dada por um professor particularmente consciente desta problemática (Artur Anselmo) que percebi, pela primeira vez, que o gosto pelos livros se pode transformar num vício perigoso. E não, não estou a referir-me ao perigo de perder o espaço das paredes e do chão de casa num processo caótico de aniquilação do espaço. O vício chama-se bibliomania e, como nos contou Artur Anselmo, pode transformar um amante dos livros e da cultura impressa num verdadeiro 'agarrado' (ele não deve ter dito 'agarrado', mas eu registei assim), capaz de entregar quase todo o ordenado de um mês a um vendedor de raridades bibliográficas em troca daquela primeira edição, daquele livro impossível de conseguir, daquela encadernação saída de uma oficina particularmente feliz, ficando, depois, a comer raspas até à chegada do vencimento seguinte.
No Guardian on-line há um artigo sobre o tema, assinado por David McKie, mostra como o passo seguinte, mesmo que impensável à primeira vista, é ainda possível: passar da bibliomania à bibliofobia. Scary...
No Guardian on-line há um artigo sobre o tema, assinado por David McKie, mostra como o passo seguinte, mesmo que impensável à primeira vista, é ainda possível: passar da bibliomania à bibliofobia. Scary...
Subir e descer o parque IV
Afinal, tudo em paz. Parece que toda a gente vai à feira e que as discussões sobre os stands ficarão para o ano. O site da Feira já está online e os pormenores estão prometidos para breve. E se sobre o tema já muito se escreveu - e, seguramente, muito ainda há-de escrever-se -, o post mais recomendável tem de ser atribuído ao Irmão Lúcia. Ora vejam lá.
Agora, é começar a preparar a lista de compras...
Agora, é começar a preparar a lista de compras...
Subir e descer o parque III
Ontem, ao fim da tarde, a saída da estação de metro do Marquês de Pombal revelou um Parque Eduardo VII soalheiro polvilhado de estruturas coloridas em construção. Garantida a Feira, faltou apenas conseguir contar os pavilhões para esclarecer o mistério da participação das editoras da Leya... É que se estas ainda não apresentaram a sua decisão final sobre a participação na Feira do Livro, como é que os stands já estão a ser postos de pé? Vão erguer uns quantos a mais, just in case?
02 maio 2008
Balanço e contas
É um dos motivos para ler o Ípsilon com o fervor religioso dos viciados em jornais. Mas a crónica semanal de Alexandra Lucas Coelho é, esta semana, muito mais do que a dose regular que satisfaz o vício. Chama-se "Bagagem de Mão" e começa assim:
"Há um momento em que toda a vida se leva ao ombro. Temos 20 anos, mudamos a cada estação, sentamo-nos num caixote de fruta, empilhamos os livros, amanhã podemos ir viver para Uruk ou Bucareste, mesmo quando só vamos ali dar uma volta.
E quando esse momento passa temos 30 anos, 30 mil contos de empréstimo a 30 anos, talvez não 30 mil livros, mas três mil, talvez não livros mas discos, pedras, moedas, perdemos a cabeça num antiquário, mobilámo-nos no IKEA, trouxemos um kilim de Marrocos e passámos aquela semana a pintar a parede de azul-petróleo, aquela semana a assentar o chão flutuante, e ele há tantas maneiras de compor uma estante, o candeeiro dito do Japão e o espelho em talha, os lençóis bordados da avó e a bússula, a colecção de canivetes e a do Cavaleiro Andante, o cartaz da revolução e as fotografias, caixas-sacos-envelopes, álbuns-de-plástico-de pano-de cartão, as fotografias e as cassetes com autocolantes que identificam a primeira coisa gravada por baixo de todas as outras depois não identificadas (...)."
"Há um momento em que toda a vida se leva ao ombro. Temos 20 anos, mudamos a cada estação, sentamo-nos num caixote de fruta, empilhamos os livros, amanhã podemos ir viver para Uruk ou Bucareste, mesmo quando só vamos ali dar uma volta.
E quando esse momento passa temos 30 anos, 30 mil contos de empréstimo a 30 anos, talvez não 30 mil livros, mas três mil, talvez não livros mas discos, pedras, moedas, perdemos a cabeça num antiquário, mobilámo-nos no IKEA, trouxemos um kilim de Marrocos e passámos aquela semana a pintar a parede de azul-petróleo, aquela semana a assentar o chão flutuante, e ele há tantas maneiras de compor uma estante, o candeeiro dito do Japão e o espelho em talha, os lençóis bordados da avó e a bússula, a colecção de canivetes e a do Cavaleiro Andante, o cartaz da revolução e as fotografias, caixas-sacos-envelopes, álbuns-de-plástico-de pano-de cartão, as fotografias e as cassetes com autocolantes que identificam a primeira coisa gravada por baixo de todas as outras depois não identificadas (...)."
Subscrever:
Mensagens (Atom)