Esta é uma das vantagens de voltar a ser free-lancer: regressar dos debates tardios dos Livros em Desassossego e poder alinhar algumas ideias, sem a preocupação de ter de acordar cedo amanhã.
Com a sala da Casa Fernando Pessoa composta, anunciava-se um debate aceso e foi isso que se viu. Descrever todas as intervenções seria um processo longo, mas resumindo, pode dizer-se que o entendimento entre APEL e UEP que já se configurava antes da Feira do Livro parece manter-se como uma possibilidade viável. Claro que isto poderá parecer estranho se tivermos em conta os argumentos discutidos e o calor com que se apresentaram, mas a ideia geral parece ser essa. Antes, porém, será preciso arrumar ambas as casas e, talvez, enterrar alguns diferendos, também entre membros de cada associação.
Sobre a concentração editorial e o modo como esta afecta o associativismo, algumas questões se levantaram. Por exemplo, se os associados são editoras (e não pessoas individuais ou grupos empresariais), que lugar terão os grupos? Inscrevem as editoras e fazem-nas votar em bloco? Altera-se esse princípio e os associados podem ser editoras ou grupos? E têm um só voto ou tantos como as editoras que os constituem?
A Feira do Livro de Lisboa também foi tema de conversa, claro. E entre argumentos gerais e discussões privadas, não ficou muito claro o que se passou. Afinal, a Leya não esteve nas reuniões com a CML. Esteve Isaías Gomes Teixeira como vice-presidente da UEP (mas se os membros são editoras e não grupos, por enquanto, Isaías representa que editora na UEP?). Afinal, a APEL comprometeu-se a aceitar novos stands e depois recuou. E a CML entregou a organização da Feira à APEL, mas tê-lo-á feito com a condição de esta aceitar outros pavilhões. Que pavilhões? Todos os que pudessem ter surgido? Os da Leya em particular? Ficou a saber-se ainda que até Novembro, a APEL terá de apresentar uma reformulação dos pavilhões da Feira, numa proposta que será depois discutida por todos os editores. Pavilhões iguais para todos ou diferenciados conforme o dinheiro e a vontade de cada editor? Ainda não se sabe, mas parece que é este ano a última oportunidade de se verem as famosas barraquinhas coloridas no Parque.
Um dos temas levantados merecia debate futuro e merece, certamente, reflexão atenta: o problema da colocação dos livros nas livrarias. Porque a concentração livreira que já existe e a que ainda aí há-de vir, bem como a ‘promiscuidade’ esperada entre grupos editoriais e grupos livreiros, colocarão questões aos editores (bem como aos leitores) que não serão sentidas da mesma forma pelos grandes grupos ou pelas pequenas editoras. E aí, por mais nichos que a concentração editorial possa permitir (um dos olhares optimistas sobre o tema defende essa perspectiva), se não houver forma de mostrar os livros nos locais onde eles se vendem, não há nicho que sobreviva.
Uma nota final para as escolhas de Osvaldo Manuel Silvestre, da Angelus Novus, que levou os três livros que não se importava de ter editado. Os livros foram o Diário 1941-1943, de Etty Hillesum (Assírio & Alvim), O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil (Dom Quixote) e o fabuloso O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhos Martins e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina), livro que me deu particular satisfação ver escolhido pelo facto de raramente se falar de livros ilustrados e pensados, sobretudo, para um público mais jovem neste tipo de debates, e também porque ainda ontem escrevi sobre ele aqui e, ainda que, obviamente, isso nada tenha a ver com a escolha de Osvaldo Manuel Silvestre, uma pessoa fica ‘vaidosa’ com estas coincidências.
E agora vou continuar a gozar o privilégio de não ter horários (mas há prazos, oh, se há!) e vou voltar às Histórias de Amor, de Robert Walser, editado pela Relógio d'Água.
30 maio 2008
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