É um dos motivos para ler o Ípsilon com o fervor religioso dos viciados em jornais. Mas a crónica semanal de Alexandra Lucas Coelho é, esta semana, muito mais do que a dose regular que satisfaz o vício. Chama-se "Bagagem de Mão" e começa assim:
"Há um momento em que toda a vida se leva ao ombro. Temos 20 anos, mudamos a cada estação, sentamo-nos num caixote de fruta, empilhamos os livros, amanhã podemos ir viver para Uruk ou Bucareste, mesmo quando só vamos ali dar uma volta.
E quando esse momento passa temos 30 anos, 30 mil contos de empréstimo a 30 anos, talvez não 30 mil livros, mas três mil, talvez não livros mas discos, pedras, moedas, perdemos a cabeça num antiquário, mobilámo-nos no IKEA, trouxemos um kilim de Marrocos e passámos aquela semana a pintar a parede de azul-petróleo, aquela semana a assentar o chão flutuante, e ele há tantas maneiras de compor uma estante, o candeeiro dito do Japão e o espelho em talha, os lençóis bordados da avó e a bússula, a colecção de canivetes e a do Cavaleiro Andante, o cartaz da revolução e as fotografias, caixas-sacos-envelopes, álbuns-de-plástico-de pano-de cartão, as fotografias e as cassetes com autocolantes que identificam a primeira coisa gravada por baixo de todas as outras depois não identificadas (...)."
02 maio 2008
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