08 maio 2008

Subir e descer o Parque V

As telenovelas dão sempre reviravoltas inesperadas; quando parece que tudo caminha num determinado sentido, pumba! Afinal, as editoras da Leya não participam na Feira do Livro. Será que o patamar de eficiência/ dependência do marketing e das grandes operações de promoção já é tão grande que só se conseguem vender livros em tendas de circo, com fanfarras à porta e um ou outro leão, não compensando, por isso, tentar vender livros na feira de sempre, assim, cara a cara com o leitor, sem intermédio de outras distracções, só o livrinho a valer por si?

Adenda: é claro que isto é um retrato exagerado dacoisa. Os editores têm todo o direito de alterar a configuração da Feira do Livro e de apresentarempropostas para outro tipo de pavilhões, para além, é claro, de terem todo o direito a não terem uma opinião unânime sobre tudo isto. A ideia de que a unidade, ainda que forçada, é a melhor coisa do mundo nunca deu bons resultados e este caso não é excepção. O que irrita é perceber que o caos da Feira deste ano não se deve tanto ao esgrimir de posições antagónicas das associações, e sim ao aparecimento de um grupo como a Leya, que parece estar pouco preocupado com os efeitos que tudo isto terá no meio editorial, desde que leve a sua avante. E levar a sua avante não é, parece-me, dar espaço às propostas alternativas que a UEP vem defendendo relativamente à APEL, mas sim ganhar o braço de ferro do ‘cash’: temos dinheiro e queremos investir à grande para transformar o mercadinho numa coisa a sério. Se levamos tudo à frente, inclusive as tentativas recentes de reaproximação entre as duas associações de editores, isso pouco importa. É a lei do mercado? Pois será. E a lei do mercado costuma dar bons frutos quando se trata de editar livros? Pois costuma, mas só para os grandes best-sellers, nomes famosos, escritores garantidos e outras coisas certas. O risco, a edição de obras difíceis – mas imprescindíveis –, a disponibilização de textos fundamentais mas cujos autores não aparecem na televisão todos os dias, aí os frutos não costumam ter muito espaço para crescer. E sim, bem sei que têm surgido muitas declarações de intenções dizendo que os catálogos vão continuar a ser feitos com enormes preocupações de qualidade, que vão continuar a editar-se autores que não vendem tanto mas são importantes, que nenhuma catástrofe bibliográfica vai acontecer... Mas também sei que essas declarações têm sido contrariadas pela saída de grandes editores das casas que os acolheram (e que viram os catálogos por si construídos crescerem) durante anos, que as pequenas livrarias começam a sofrer com a preferência dada pelos grandes à colocação das edições nas grandes superfícies, que alguns autores relevantes começam a pensar em alternativas para se editarem. E vamos ver o que os próximos tempos reservam... Ainda teremos muito que ver, e isto também é o mercado a funcionar, para o sossego de todas as almas liberais. No fim, veremos quantas editoras independentes sobram para contar a história, e quantas se safaram do embate. Não temos todos de comer na tasca? Pois não, mas talvez tenhamos todos de garantir que a tasca não desaparece. E isso ainda está para se ver.

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