“Passamos três dias sem jornal, no Estado de Guanabara. As bancas só expunham revistas. E então verificamos esta coisa estranha: deixaram de acontecer coisas no mundo. Os acontecimentos existem a partir do momento em que são transformados em notícia. E as notícias desapareceram. Sentimo-nos ocos. Alguns foram procurá-las no rádio e na televisão. Esses são os que amam o trágico, pois a notícia trabalhada pelo locutor – até mesmo a previsão de tempo para amanhã – assume ar e som de catástrofe. Que estilo operístico, Santo Deus! As pessoas tranquilas preferem a notícia impressa, de preferência em jornal da manhã, em que ela aparece lavada, fresca, pacificada por uma noite de sono.”
Carlos Drummond de Andrade, “Rosas de Itapevi”, in Auto-retrato e Outras Crónicas, Editora Record, 1998 (p. 63)
14 janeiro 2008
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