31 janeiro 2008

Inéditos de Camilo José Cela


(Fotografia: El Mundo)

O volume Pisando la dudosa luz del día, a editar brevemente pela Linteo (Ourense), recolherá os poemas da juventude de Camilo José Cela anteriormente editados e incluirá um conjunto de inéditos, alguns deles disponíveis para leitura no El Cultural.

O Cadeirão na Time Out

A ediçao de ontem da revista Time Out traz um texto de Isabel Lucas sobre dois blogs dedicados aos livros: este Cadeirão Voltaire e o Bibliotecário de Babel (que saiu Biblioteca de Babel...). Depois de o ler, fiquei com a certeza de que não terei muita vocação para dar entrevistas, porque das minhas palavras não se percebe aquilo que eu queria que as minhas palavras permitissem perceber. Por exemplo, onde se lê que "a ideia não foi a de criar um blogue de actualidade literária" devia ler-se que a ideia não foi apenas essa. O que eu queria dizer é que não pretendemos estar reféns da actualidade literária para escrever sobre livros e leituras, como acontece haitualmente nos jornais e revistas, mas isso não significa que a actualidade não nos interesse de todo, como se pode constatar nas várias entradas do Cadeirão. Significa, isso sim, que para além da atenção à actualidade, não teremos nenhum problema em escrever sobre um livro, ou mesmo um artigo de jornal, que tenha saído há dois, há dez ou há vinte anos, e que é nessa dupla atenção ao que é actual (ou ao que seleccionamos de entre o que é actual) e ao que já não faz primeiras páginas de suplementos que este blog se vai construindo.

De resto, ficam os agradecimentos à Time Out pelo interesse e pela divulgação (e pelo luxo da ilustração do José Carlos Farnandes a acompanhar o artigo...).

Livros em Desassossego

Hoje, a partir das 21h30, a Casa Fernando Pessoa recebe mais uma edição dos Livros em Desassossego. O debate terá o acordo ortográfico como tema central e Malaca Casteleiro, Vasco Graça Moura , José Eduardo Agualusa e Ivo Castro como convidados.
Para além do debate, Nélson de Matos apresentará a sua editora e escolherá três livros que gostaria de ter editado.

A moderação será da responsabilidade de Carlos Vaz Marques e a entrada, como sempre, é livre.

30 janeiro 2008

Leituras em grupo

Sempre encarei a leitura como um empreendimento solitário, independentemente das posteriores discussões a duas ou mais vozes. Em The Reading Groups Book descobre-se alguma coisa sobre os benefícios da leitura colectiva (ou da discussão colectiva sobre a leitura, já que a leitura propriamente dita será sempre individual) e fica-se a perceber que aquela ideia da leitura como salvação é, por vezes, uma situação muito real.



The Reading Groups Book
Jenny Hartley
Oxford University Press

Num registo mais leve, e não menos erudito por isso, vale a pena ler o que o Bibliotecário Anarquista tem para contar sobre comunidades de leitores na Antiguidade.

José Luís Peixoto premiado

José Luís Peixoto venceu o prémio Daniel Faria 2008 com o livro Gaveta de Papéis, que será publiucado pela Quasi. Peixoto sujeitou-se à avaliação de um júri (composto por Jorge Reis-Sá, Francisco José Viegas, Tito Couto e Vera Vouga) que só descobriu, surpreendido, a autoria dos poemas quando abriu o envelope com o nome do autor, como conta o Bibliotecário de Babel.

Surrealismo à venda

O manuscrito do Manifesto do Surrealismo, de André Breton, está à venda em Paris, assim como Poisson soluble, do mesmo autor. Os dois manuscritos serão leiloados no próximo dia 20 de Maio.

(Fonte: Diário Digital.)

Trocas

As boas notícias chegaram ontem, com a saída de Isabel Pires de Lima do Governo. Esperemos, agora, para ver o que nos reserva o futuro e José António Pinto Ribeiro.

29 janeiro 2008

A arte do não belo

Deste lado da cidade os autocarros andam cheios até tarde da noite. As pessoas andam cabisbaixas, as vozes são queixosas e infelizes. Deste lado da cidade os passeios estão sobrelotados de pés que se pisam e braços que se empurram. Deste lado da cidade as montras acumulam preços e produtos sem brilho. Deste lado da cidade não há espaço nem tempo para a qualidade, para respirar bem e devagar. Deste lado da cidade anseia-se por soluções, utilidade, e nem se espera saber o que é harmonia. Deste lado da cidade as avós, as mães e as crianças andam a par, estreitas na idade e no alto tom de voz.
Deste lado da cidade o valor está no preço e não se pede mais. É a vida sem arte.

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Por mim, pagava-lhe a água
e a sandes (duvidosa, como
tudo o que aqui se faz). Mas não
posso ser despedida agora.
Ao dar-me o dinheiro, quase
pede desculpa dessa vida também
em forma de navalha romba.
Até, de certeza, amanhã – pois
nem a morte quer ir com a nossa cara.

Isilda ou a nudez dos códigos de barras, Manuel de Freitas, Black Son Editores, 2001

O código que se associa a um produto corresponde a todos os números, todas a senhas, que identificam o indivíduo, despersonalizando-o. Na indiferenciação normalizada, continuará contudo a haver a possibilidade de ler os pequenos comportamentos repetidos que ditam o individual. A leitura faz-se por interposição de um diálogo de identificação entre a empregada que ocupa a caixa do supermercado e a/o cliente, apesar de paradoxalmente, tudo não passar de um processo de disposição da ideia em texto.
Certo é que foi deste livro que me lembrei, na minha última visita ao Minipreço.

Edições Nélson de Matos

Os primeiros livros chegarão às livrarias entre Fevereiro e Março, com destaque para O Lavagante, um inédito de José Cardoso Pires. Até lá, pode consultar-se o site para ver que tipo de catálogo se está a preparar nas Edições Nélson de Matos.

No DN de hoje, Ana Marques Gastão conversa com o editor.

Casa da Palavra

Assim se chama a editora brasileira que (re)descobri ontem, nas bancadas da Letra Livre. A Casa da Palavra tem um catálogo generalista, onde cabem a literatura, a gastronomia, a arte e o bem estar, mas tem uma colecção particularmente interessante chamada 'Livros sobre livros', de que encontrei três ou quatro exemplares na Letra Livre.
Títulos como A Palavra Impressa, de Martyn Lyons, ou o quase 'clássico' O Bibliófilo Aprendiz - Prosa de um velho colecionador para ser lida por quem gosta de livros, de Rubens Borba de Moraes, fazem parte da colecção, bem como dois livros que têm a livraria parisiense Shakespeare and Company como cenário e que me estão a tentar através do ecrã do computador desde que lhes vi as capas...



Infelizmente, o preço dos livros importados do Brasil continua a ser uma barreira para quem os compra em Portugal. Isto apesar das boas intenções ciclicamente anunciadas por governos e organismos vários sobre o estreitar dos laços culturais luso-brasileiros.

Negócios editoriais (a saga continua)

No Jornal de Notícias on-linedois ou três artigos soltos que devem pertencer à peça de que os Blogtailors falavam ontem. Ainda não vi a edição impressa, mas espero que esteja mais completa...

28 janeiro 2008

Sítios para visitar antes de morrer III

Pilgrims Bookhouse, na cidade de Varanasi (Índia).

27 janeiro 2008

Leituras

No Guardian, a recensão ao volume Walter Benjamin's Archive: Images, Texts, Signs, da responsabilidade de Ursula Marx, Gudrun Schwarz, Michael Schwarz e Erdmut Wizisla. No New York Times, a recensão a Ezra Pound: Poet - A Portrait of the Man and His Work. Volume I: The Young Genius, 1885-1920, de A. David Moody. Ainda no New York Times, um texto sobre um livro que dá vontade de ler (e recomendar a alguém que traduza e edite), só pela descrição e pela amostra disponibilizada pelo jornal on-line.

Adenda: o tal livro que dá vontade de ler e recomendar a tradução e edição tem site. Aqui.

26 janeiro 2008

Prémio D. Dinis para Manuel Alegre

Com o livro Doze Naus (D. Quixote), Manuel Alegre venceu a edição de 2008 do Prémio D. Dinis.



Do júri fizeram parte Vasco Graça Moura, Nuno Júdice e Fernando Pinto do Amaral.

(Fonte: Diário Digital.)

O mercado

Os jornais de hoje trazem mais informações sobre o estudo do Observatório das Actividades Culturais em torno do mercado livreiro. Há alguns números disponiveis, como os 381.000.000 de euros correspondente ao volume de negócios ligados ao sector do livro em 2005 (no Público). Para quem percebe pouco de contas e do funcionamento dos mercados, a leitura não é clara (ou então sou eu que não percebo mesmo nada de contas e mercados...) e há questões que ficam no ar - como perguntava Jaime Bulhosa há dois dias, numa caixa de comentários do Blogtailors, "do que é que estamos a falar quando falamos de volume de negócios, da facturação dos Editores ou da facturação das Editores, Gráficas, Distribuidores, Transportadores e Livreiros, tudo junto?". E se esta pergunta teve resposta entretanto, na mesma caixa de comentários, outras semelhantes surgirão à medida que os dados vão sendo disponibilizados. O melhor, por isso, é esperar pelas conclusões do estudo e perceber depois o que os dados clarificam sobre o mercado.

25 janeiro 2008

Novidades da Assírio e Alvim



Mil Planaltos - Capitalismo e Esquizofrenia 2, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, sairá brevemente com chancela da Assírio e Alvim, à semelhança do que já tinha acontecido com Anti-Édipo - Capitalismo e Esquizofrenia, dos mesmos autores.

Ficções



O número 16 da revista Ficções estará nas livrarias até ao fim do mês. Alexandre Andrade, Pedro Manuel Calvete, António Figueira, Rui Cardoso Martins, Jorge Lobo Mesquita, Óscar de Sá, Amadeu Lopes Sabino e Ana Cláudia Santos são os autores que participam nesta edição.

Números para o mercado

Os resultados preliminares do inquérito sobre o sector do livro em Portugal, da responsabilidade do Observatório das Actividades Culturais, serão apresentados esta manhã, na Biblioteca Nacional, iniciando-se assim um processo que permitirá, espera-se, caracterizar com base em dados reais o mercado do livro português.

Na edição de hoje do Diário de Notícias apresentam-se alguns dados e Carlos da Veiga Ferreira, presidente da União dos Editores Portugueses, comenta os números e as tendências registadas pelos relatório preliminar. Para ler aqui.

24 janeiro 2008

O mundo dentro dos livros

Da vida secreta das plantas:





Seomara da Costa Primo, Compêndio de Botânica para o 2ºCiclo Liceal, Liv. Popular de Francisco Franco (depositária), s/data

23 janeiro 2008

Crónica dos Lugares IV

Não guardo uma memória muito nítida da primeira visita à Barateira. Terei lá chegado pela mão da minha irmã, que me ia ensinando os caminhos de Lisboa. Mas lembro-me bem das várias vezes em que lá voltei, assim que passei a ter idade para andar de comboio sozinha (um verdadeiro rito de passagem para os adolescentes suburbanos do meu tempo). As duas salas com estantes até ao tecto e pó de muitas gerações começaram, então, a ganhar a mesma dimensão que a gruta de Ali-Babá tinha ganho uns anos antes: com muito poucos escudos, voltava-se para casa com vários volumes e a escolha parecia interminável.

Nas prateleiras da Barateira descobri autores que, de outro modo, talvez só conhecesse muito mais tarde, aprendi a identificar editoras e catálogos e habituei-me ao design de algumas capas que ainda hoje guardo como bons exemplos. Na fase em que tinha a certeza de que quando fosse grande queria viver em Paris (numas águas-furtadas escurecidas, obviamente, mas talvez sem a parte decadente da tuberculose...) e em que a Françoise Sagan era a deusa do meu olimpo literário, passei boa parte das tardes livres em busca de mais títulos. Eu conhecia o Bonjour Tristesse e o Aimez-vous Brahms, mas precisava de mais. E encontrei: Um Raio de Sol na Água fria, Viver Não Custa, Dentro de Um Mês, Dentro de Um Ano. Quando a fase francesa acabou, foi lá que comprei os primeiros livros de Jack London, Machado de Assis e Steinbeck, e foi lá que procurei em vão a velha edição de Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac, que só pude comprar em português muito depois, já na tradução de Relógio d’Água. Poucos anos mais tarde, com menos borbulhas e muitas certezas políticas ainda por questionar, as mesmas prateleiras forneceram-me doutrina e exemplos, para logo depois me fornecerem as dúvidas e inquietações de que nunca mais me separei.


Com o passar do tempo, a Barateira deixou de ser o meu ponto de refêrencia livresco. Conhecidos mais autores, a descoberta de nomes tornou-se pontual e a busca pelas estantes mais dada ao encontro de raridades bibliográficas ou velharias curiosas. Mas apesar do tempo, a imponência das duas salas separadas por um degrau onde as mesmas caixas de mapas parecem viver há décadas não perdeu o encanto e todos os motivos parecem bons para regressar. Há um ou dois anos, com o pretexto de um especial sobre livros policiais para a revista onde escrevo, passei por lá para colmatar algumas falhas na minha estante. O dossier falaria sobretudo de novidades editoriais, coisa que a Barateira não vende, mas isso não me impediu de encontrar um livro de Artur Cortez (com posfácio de Manuel Gusmão) da ‘Série Negra’ da Regra do Jogo, um ou dois livros do Inspector Maigret de Simenon, na velha edição da Bertrand, com o cachimbo a preto sobre a cor da capa, e alguns volumes mais antigos dos livrinhos de capa preta da Caminho. Tudo por poucas moedas, agora de euro. Tudo descoberto com os gestos de sempre: procurar com calma, ceder a todos os impulsos de curiosidade relativamente às lombadas que se vão sucedendo e deixar o inesperado levar a melhor no momento de decidir quais os livros que ficam e quais os que se trazem para casa. Nunca falhou.

Sublinhados VI

“Só no subsolo há segurança, paz e tranquilidade. E se as nossas ideias se ampliarem e aspirarmos à expansão, basta pormo-nos a escavar, e pronto! Se nos parecer que a nossa casa é um bocado grande, tapamos um buraco ou dois, e pronto! Nada de empreiteiros, pedreiros, comentários dos vizinhos a olhar por cima do muro e, acima de tudo, nenhuma dependência do estado do tempo.”

Kenneth Grahame, O Vento nos Salgueiros, Tinta da China (tradução de Júlio Henriques, p.83)

22 janeiro 2008

Prémio Vergílio Ferreira para Mário Cláudio

O Prémio Vergílio Ferreira acaba de ser anunciado e o autor distinguido nesta edição é Mário Cláudio.

A atribuição do prémio deste ano ao escritor Mário Cláudio foi decidida por unanimidade pelo júri, composto pelos professores universitários José Alberto Gomes Machado (Évora, presidente), José Carlos Seabra Pereira (Coimbra), Isabel Allegro de Magalhães (Nova de Lisboa) e Elisa Nunes Esteves (Évora) e pela jornalista e critica literária Clara Ferreira Alves.

A academia de Évora homenageia Mário Cláudio como um «nome cimeiro das letras portuguesas», lembrando que o escritor foi considerado por Vergílio Ferreira «um dos nomes mais promissores da sua geração».


(Fonte: Diário Digital)

O blog da Pó dos Livros



Já mora na rede há uns dias e começa a ficar composto. O blog da livraria Pó dos Livros abre com Mr. Mann and Roy, da série Little Britain (reflectindo sobre as vicissitudes e os equívocos do comércio livreiro...), e prossegue com alguns livros em destaque, entre novidades e preciosidades bibliográficas. Vai para a barra dos links, claro.

Piratas de livros

O Diário de Notícias dá conta dos números conhecidos da pirataria livresca em 2007: cento e cinquenta mil euros, foi quanto rendeu a fotocópia, e ainda houve quem oferecesse a capa a cores aos potenciais clientes. No entanto, segundo os dados da Inspecção Geral das Asctividades Culturais, os números da pirataria têm vindo a decrescer desde que as inspecções a reprografias se tornaram frequentes.

21 janeiro 2008

A biblioteca é do povo!

Via 1979, a história de Tadeusz Glowinski, um self-made bibliotecário na cidade polaca de Olesnica.

(Uma história mesmo à medida do Bibliotecário Anarquista).

O ciclo dos livros em NY

Depois de lidos, ou de abandonados por falta de interesse da leitura, os livros que os novaiorquinos deixam à porta dos prédios têm um destino melhor do que a reciclagem a que estavam condenados: alguém os recolhe e os leva para uma das muitas livrarias de usados que há na cidade, voltando a permitir que outro alguém os compre para ler. É o que fazem Thomas Germain e Brian Martin, fornecendo as prateleiras da Strand Bookstore; é o que devem fazer outras pessoas noutras ruas da cidade, salvando volumes da guilhotina recicladora, reanimando o negócio diário das livrarias de segunda mão e mantendo um trabalho tão respeitável como qualquer outro... ou talvez mais. A história toda pode ler-se aqui.

20 janeiro 2008

Ligar a televisão

O Câmara Clara de hoje é dedicado a Luiz Pacheco. Os convidados são Alberto Pimenta e Vítor Silva Tavares. É preciso dizer mais alguma coisa?
Às 22h45, na RTP 2.

19 janeiro 2008

Se a ASAE descobre...



...que há livros que parecem maços de cigarros, não sei o que será da Tank.

18 janeiro 2008

Encontros felizes II



Foi na Pó dos Livros, onde os fundos e as novidades escolhidas a dedo coexistem em boa harmonia e a vertigem da rotação dos escaparates parece não vingar.
A edição é de 1989, da Guimarães Editores, e o exemplar está em perfeito estado.

Leituras

Eliot Weinberger sobre a tradução de Robert Alter do Livro dos Salmos, um dossier sobre as primeiras leituras, no The Telegraph, e a habitual entrevista das sextas-feiras no Blogtailors, hoje com Carlos da Veiga Ferreira, da Teorema.

17 janeiro 2008

Manguel nas Massey Lectures



A última edição das Massey Lectures, verdadeiro acontecimento na programação cultural canadiana, teve Alberto Manguel como orador e o modo de viver em sociedade a partir do que a literatura nos pode ensinar como tema. O resultado foi editado no livro The City of Words (House of Anansi Press, 2007), recentemente traduzido em Espanha. E por cá, já alguém encomendou a tradução?

Biblioteca Digital Hispânica

O ministro da cultura de Espanha apresentou ontem o projecto Biblioteca Digital Hispânica, que começa com cerca de dez mil obras disponíveis para leitura on-line. O objectivo, nos próximos cinco anos, é digitalizar cerca de duzentos mil documentos de vários tipos, criando uma base representativa da cultura hispânica nas suas diversas vertentes. Para já, mapas, gravuras, manuscritos e várias obras magnas da literatura espanhola podem ser consultados aqui.

A notícia completa pode ser lida no El Mundo.

16 janeiro 2008

A montanha e o rato

A primeira incursão na Byblos foi ainda em Dezembro, um pouco depois da confusão natalícia. O calor abrasador a contrastar com a atmosfera exterior não facilitou o contacto inaugural, mas isso nem sequer é exclusivo da loja. Verdadeiramente desconcertante foi o que se conseguiu ver em poucos minutos: a luz branca, tipo cozinha, a alcatifa indescritível e os sofás à la Startrek. O espaço pode parecer tudo, mas está muito longe do meu conceito de livraria. Sim, há estantes com livros, e há sobretudo empregados atenciosos, mas o ambiente é demasiado próximo do de um centro comercial para parecer uma livraria confortável, onde apetece ficar a ler, vaguear pelas estantes ou trocar dois dedos de conversa com um livreiro. Dessa primeira incursão, que se pretendia meticulosa na busca pelas estantes das secções mais familiares, acabou por resultar pouco: uma chamada telefónica interrompeu o devaneio e foi preciso ir resgatar um sobrinho da hora do fecho da creche. Da passagem rápida pelas estantes de poesia, descobriu-se a ausência de qualquer livro de Eugénio de Andrade... e ficámo-nos pela letra A. Agendada nova incursão, a coisa foi sendo adiada... A vontade de ver o que faltava foi suplantada pela pouca vontade de regressar, o que já me aponta como cliente nada habitual, apesar da proximidade geográfica.

Regressei há dois dias. A reacção à chegada não mudou. Uma hora depois, confirmou-se a desilusão: o elemento que iria distinguir a Byblos das outras livrarias, e que foi anunciado inúmeras vezes antes da abertura oficial, não existe. É certo que se encontram muitos fundos editoriais nas estantes, e que se encontram livros e autores que há muito não se viam nas livrarias (Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis ou Fernanda Botelho, para ficarmos pela literatura portuguesa), mas o paraíso dos fundos editoriais tal como foi anunciado não mora certamente na Byblos. E na estante de poesia (reduzida a dois corpos) havia dois exemplares de um único livro de Eugénio de Andrade. Manuel de Freitas e Rui Pires Cabral, que procurava especificamente, nem vê-los.
Quanto à tecnologia self-service, a estante mecânica não está acessível aos clientes e os ecrãs que funcionam não fornecem a informação que deveriam. Claro, uma livraria não vive de estantes mecânicas ou ecrãs, mas como ambos foram tão apregoados como os fundos editoriais a perder de vista, há quem se sinta defraudado.
Contas feitas, a Byblos é apenas mais uma livraria. Grande, com pretensões de modernidade e com muitos livros. Não tivesse tido uma campanha de marketing a prometer, literalmente, mundos e fundos e a desilusão não seria tão grande. Assim, lembra a história da montanha e do rato.

Se o Sporting não joga...

...há Escrita em Dia para ouvir na Antena 1, pelas 23 horas, com os Booktailors como convidados. Uma semana depois, parece que é desta.

Leituras

O pesadelo de qualquer biblioteca, o gigante chinês e a obra de Milton.

15 janeiro 2008

Pecadilhos II

“E o que é que estás a ler agora?”

“As crónicas do Auberon Waugh, no Daily Telegraph...”



“Porque é que continuas a ler autores reaccionários, que revirariam os olhos se conhecessem a tua destreza com o megafone, e que só ajudam a perturbar as tuas conversas com os amigos?”

“Porque escrevem bem. Sobretudo.”

Regresso à Baixa do Porto?

A Feira do Livro do Porto está à procura de um local para a sua próxima edição.

Reorganizando a biblioteca

Se organizar os livros aqui de casa já me parece tarefa hercúlea, não imagino o que seja tentar pôr estes em ordem.

Sean O'Brien

Em Outubro do ano passado, ganhou uma das categorias do prémio Forward; agora, acaba de ganhar o T.S.Eliot. E como diz o Guardian, não é muito comum um poeta ser distinguido com dois dos mais importantes prémios ingleses um a seguir ao outro, mas aconteceu com Sean O'Brien.

14 janeiro 2008

14 de Janeiro



14 de Janeiro, Al Berto, Wordsong

Bloco de Notas I

Dubravka Ugresic, Thank You For Not Reading – Essays on Literary Trivia, Dalkey Archive, 2003



Dubravka Ugresic nasceu na Jugoslávia, quando ainda existia a Jugoslávia. Com a guerra e a afirmação dos diferentes nacionalismos, a autora tornou-se persona non grata. Porquê? Porque escreveu frequentemente contra os nacionalismos, independentemente da sua facção, e contra a ideia de afirmar identidades pela força e pela humilhação de outras identidades. Com a ex-Jugoslávia para trás, Ugresic passou a viver entre os EUA e a Europa, entrando em contacto directo com um meio literário, editorial e académico que até aí não conhecia tão bem.
As informações biográficas são, neste caso, relevantes para uma leitura plena de Thank You For Not Reading, sobretudo pelo que acrescentam à voz narradora de cada um dos textos, como se revela logo na apresentação: “I wrote some of the essays under the mask of an East European grumbler confused by the dynamics of the global book market (...).” É sob essa máscara que Ugresic desvenda a sua estupefacção perante o enorme circo que se criou à volta dos livros e que podia ter-se criado à volta de outro ‘produto’ qualquer; afinal, os lançamentos megalómanos com actores e figuras do jet-set – descritos e analisados com humor e sarcasmo – têm pouco ou nada a ver com literatura.

Ugresic viveu sob o regime comunista e conhece bem os meandros da cultura autorizada e oficial, dos livros propagandeados (e dos muitos proibidos), da leitura para todos (desde que seleccionada a partir dos livros autorizados e muito recomendados pelo grande líder). As descrições do 1ºde Maio com os seus carros alegóricos de livros ou da promoção da leitura através – e unicamente – dos escritores que agradavam ao regime são, por isso, pessoais, mas não menos esclarecedoras. Mas o que torna este volume realmente interessante para uma reflexão sobre a indústria do livro e as suas ramificações na comunicação e no marketing é a comparação que a autora estabelece entre a ditadura do pensamento e da estética únicos na Jugoslávia comunista e a nova ordem dos best-sellers, da escrita ao alcance de todos e dos fenómenos ‘literários’ que toda a gente quer conhecer por serem apresentados (e recebidos), precisamente, como algo ‘que toda a gente quer conhecer’. Aos escritores resta a decisão de aceitarem ou não as regras do mercado, tal como antigamente restava a decisão de aceitarem ou não as regras do regime: “Writers who were unable to adapt to the demands of the ideological market ended tragically: in camps. Nowadays, writers who cannot adapt to commercial demands end up in their own personal ghetto of anonymity and poverty.” (p.44). Claro que comparações desta ordem podem parecer descabidas, o que não retira gravidade alguma à constatação certeira de que a folia comunicativa que vende auto-ajuda, romances místicos e escrita criativa tem submergido com competência e afinco a circulação de livros que têm na sua génese preocupações bem diferentes das que estruturam os departamentos de marketing da maioria das editoras, e isto de modo directamente proporcional ao aumento do número de leitores e de consumidores de livros (não são, de todo, a mesma coisa).

Os textos que compõem Thank You For Not Reading foram escritos entre 1996 e 2000. E apesar da distância temporal, com algumas excepções, parecerão muito actuais ao leitor português mais atento.

Ouvir

O Tiago Carvalho mandou-nos um link para um programa de rádio da sua autoria, na Rádio Zero (Instituto Superior Técnico), dedicado aos alfarrabistas de Lisboa.

Sublinhados V

“Passamos três dias sem jornal, no Estado de Guanabara. As bancas só expunham revistas. E então verificamos esta coisa estranha: deixaram de acontecer coisas no mundo. Os acontecimentos existem a partir do momento em que são transformados em notícia. E as notícias desapareceram. Sentimo-nos ocos. Alguns foram procurá-las no rádio e na televisão. Esses são os que amam o trágico, pois a notícia trabalhada pelo locutor – até mesmo a previsão de tempo para amanhã – assume ar e som de catástrofe. Que estilo operístico, Santo Deus! As pessoas tranquilas preferem a notícia impressa, de preferência em jornal da manhã, em que ela aparece lavada, fresca, pacificada por uma noite de sono.”

Carlos Drummond de Andrade, “Rosas de Itapevi”, in Auto-retrato e Outras Crónicas, Editora Record, 1998 (p. 63)

Leituras

No Telegraph, resenha sobre A Wodehouse Handbook: The World and Words of P. G. Wodehouse, de N.P.T. Murphy. No Guardian, sobre The Second Plane, de Martin Amis.

12 janeiro 2008

Sítios para visitar antes de morrer II

Vale a pena conhecer a lista das dez livrarias escolhidas por Sean Dodson. Está lá a belíssima Lello, no Porto, a única da lista que conheço; as outras nove entram para a minha secção pessoal de 'sítios para visitar antes de morrer'.

Ángel González (1925-2008)

Era um dos últimos sobreviventes da Geração de 50 e um dos poetas maiores da poesia espanhola do século XX. Morreu esta noite, com oitenta e dois anos.



Em Julho do ano passado, em Gijón, pude ouvir Ángel González ler os seus próprios poemas, ao lado de Luís Garcia Montero, um poeta mais novo. E de entre as várias memórias dessa noite, lembro com nitidez a sala cheia de gente para ouvir o poeta e o modo descontraído e sincero com que Ángel González ali estava, preocupando-se apenas com o que tinha lido ou ia ler, enquanto fumava um cigarro e bebia um whisky, deitando por terra toda a veneração e toda a pompa que momentos semelhantes e com figuras de igual importância costumam ter.

Em Portugal, a Fenda editou, em 2001, o livro Tratado de Urbanismo. Não sei se há mais livros do autor em português; se há, desconheço (e agradeço referências, no mail ou na caixa de comentários).


INVENTARIO DE LUGARES PROPICIOS AL AMOR

Son pocos.
La primavera está muy prestigiada, pero
es mejor el verano.
Y también esas grietas que el otoño
forma al interceder con los domingos
en algunas ciudades
ya de por sí amarillas como plátanos.
El invierno elimina muchos sitios:
quicios de puertas orientadas al norte,
orillas de los ríos,
bancos públicos.
Los contrafuertes exteriores
de las viejas iglesias
dejan a veces huecos
utilizables aunque caiga nieve.
Pero desengañémonos: las bajas
temperaturas y los vientos húmedos
lo dificultan todo.
Las ordenanzas, además, proscriben
la caricia ( con exenciones
para determinadas zonas epidérmicas
-sin interés alguno-
en niños, perros y otros animales)
y el «no tocar, peligro de ignominia»
puede leerse en miles de miradas.
¿Adónde huir, entonces?
Por todas partes ojos bizcos,
córneas torturadas,
implacables pupilas,
retinas reticentes,
vigilan, desconfían, amenazan.
Queda quizá el recurso de andar solo,
de vaciar el alma de ternura
y llenarla de hastío e indiferencia,
en este tiempo hostil, propicio al odio.

(de Tratado de Urbanismo, 1967)

11 janeiro 2008

Judith Herzberg na Pó dos Livros

Salman Rushdie

O novo romance de Salman Rushdie, Enchantress of Florence, tem lançamento previsto para Junho, com chancela da Random House.

Analogia e Dedos

Pedro Tamen venceu a primeira edição do Prémio Literário Inês de Castro, atribuído pela Fundação homónima, pelo seu livro Analogia e Dedos (Edições Asa). A notícia foi divulgada ontem pelo Diário Digital

Da retórica dos textos

Al Berto
(11.01.1948 - 13.06.1997)

«recado»
in Horto de Incêndio, Assírio e Alvim, 1997

I
A ideia de melancolia, de que nos fala Fernando Pinto do Amaral em «Al Berto: um lirismo do excesso e da melancolia» (in Mosaico Fluido, Assírio e Alvim, 1991), atravessa este «recado», na sua consciência da vida como lugar de experiência. Toma-a, prende-a e leva-a para um virtual infinito de influências por demais reconhecidas (de Rimbaud a Genet, nas suas radicalidades). Dá-se o recado a ti, particularmente a ti, e não a vós, ou a eles; mas esse destinatário é tão mais ou menos virtual de acordo com a forma que o sujeito lhe dá. A melancolia, essa, resulta da necessidade de dizer (para tu ouvires!) a experiência como é possível ser dita: em poeira de desejos, sensações e imagens.
II
Uma ideia de vida que a liberdade da primeira parte do poema não resume. A ideia para esta vida não ficará completa sem a força do amor. Começar a morrer, logo na primeira estrofe, não diz mais que o reconhecido. Começar a morrer num dia limpo, polissémico na ambiguidade de luz, clarividência, pureza. Começar a morrer sem destino, num percurso solar, cósmico e vagabundo, longe daqui, dos outros. Receber as imagens da alucinação, do devaneio do voo, que as paronomásias sustentam numa cadência dormente, agora que a missão de caminhar se finda e o sujeito encontra finalmente o prazer. O Outono do dia, da vida, acalma a alma e a doçura fecha o ciclo.
O tu, que ouve, é equilíbrio na acção e passividade, no ego e reflexo, no devaneio e na tranquilidade, tu, que deve ir e deve deixar. Já o eu entoa com a autoridade de emissário omnisciente todas as recomendações. Será uma relação especular? A distância entre o emissor e o receptor será também ela virtual?
III
A tensão aumenta na segunda parte, a coda do soneto, para dizer o fim, o trágico que não o é, já não o pode ser desde que a modernidade abriu as fronteiras da palavra ao vestígio, desde que a contenção foi suplantada pelo silêncio e pelo excesso. Os efeitos metafóricos e metonímicos desencadeiam a inexplicabilidade do discurso, cumprindo a impossibilidade de dizer, deixando contudo uma teia de sentidos.
Prepara-se uma passagem para um outro lugar, a partida do «etéreo visitante», prepara-se tudo no tempo limitado pela proximidade. Prepara-se a viagem, com o que tem de precioso, purificador e destrutivo, prepara-se o reduto dos desejos (a poeira), prepara-se a morte.
Pode o amor ser responsável pela perda de si, pela viagem, pela mudança definitiva de paradigma, sem regresso. Ao contrário da primeira parte do poema, neste fim o tu age, constrói e não pode esquecer. «para lá da pele» é a pista para a inclusão do visitante, estranho a este monólogo. Para fora de si, ao outro, dá-se, sob a forma da recepção e da perda.
Estará este final dentro do percurso de liberdade da primeira parte? Os dois últimos versos esclarecem qual o «alimento suficiente para a tua morte»: «os sessenta comprimidos letais/ao pequeno-almoço».
IV
Afirmar a relação dialógica entre a euforia e a disforia, a cadência dos sons, as aliterações e os ecos, bem como o ritmo simétrico dos versos, sustentados por apóstrofes e imperativos retomados, significa dizer que há uma economia formal neste excesso metafórico, nesta perda de sentido, que confere ao poema uma legibilidade segura. Nessa legibilidade, as palavras ganham novos sentidos para os quais não há correspondente, e levantam dúvidas. Não há respostas porque o poema não se fecha, apesar das relações que se sobrepõem, ou se antagonizam, ou se esgotam, a cada leitura. A aceitação do poema é, por si só, o sucesso do trabalho poético que assenta no excesso lírico como opção para o indizível.

10 janeiro 2008

Casa Fernando Pessoa

Mais logo, pelas 18h30, o livro de poemas Se Me Comovesse o Amor, de Francisco José Viegas, será apresentado por Pedro Mexia. As leituras estão a cargo de Ricardo Araújo Pereira.

No dia 31, às 21h30, regressam os serões dos Livros em Desassossego, com coordenação de Carlos Vaz Marques. O tema é o acordo ortográfico e os convidados são Malaca Casteleiro, José Eduardo Agualusa, Vasco Graça Moura e Ivo Castro. Nélson de Matos é o editor em destaque: para além de apresentar o seu novo projecto editorial, escolherá três livros de outras editoras que gostaria de ter no seu catálogo.

A Casa Fernando Pessoa fica na Rua Coelho da Rocha, nº16, em Campo de Ourique (Lisboa).

Já cá estão

A morada chegou a uma das caixas de comentários do Blogtailors, através de um comentador anónimo (um funcionário zeloso?). A Leya mora, então, aqui.

Homenagem ao cronista de Madrid

No próximo dia 14, em Madrid, Francisco Umbral será homenageado pelo jornal El Mundo. O trabalho de Francisco Umbral, que se despediu do mundo há poucos meses, passará pelo Círculo de Bellas Artes sob a forma de leituras, imagens e testemunhos de colegas e amigos, em justa homenagem ao escritor, ao poeta e ao cronista da cidade que parece não dormir.

Aqui podem ler-se todas as crónicas de Umbral no El Mundo, textos de Alejandro Gándara e Maria Jesús Hernández sobre o autor e vários depoimentos.

Reformas no Goncourt

Depois da saída voluntária de François Nourissier, está lançado o debate entre os jurados do Goncourt, o mais prestigiado prémio literário francês: limite de idade e renovação do júri, de preferência com jurados mais novos, são hipóteses em discussão.

Da retórica dos textos

«recado»
Al Berto

Antes do texto

Todos os livros que lemos têm uma história. De todos, há as histórias insignificantes e as outras, que por alguma razão recuperamos para a nossa biografia de leitor.
O Horto de Incêndio, de Al Berto (Assírio e Alvim), terá sido um desses casos especiais. Foi uma daquelas ofertas de risco, de alguém longe destas andanças da leitura nos idos de 1997. Foi o meu primeiro contacto com a obra.
A minha relação com ela será um efeito da sua própria intenção, segundo a minha leitura. Dois movimentos antagónicos: uma voragem de conhecimento e de leitura, que é travada e absorvida pelo recentramento em poemas que voltam, e voltam mais íntimos.
«recado» (que abre o Horto de incêndio) é o expoente máximo da minha experiência de leitura. De 1997 até hoje já escrevi sobre ele, já o analisei academicamente, já o li e reli. Já quase desgostei, já esqueci, já reencontrei. Já reconheci.Al Berto não foi para mim um poeta da adolescência, nem tão pouco representou liberdade ou libertação. Não o vejo só assim, e ainda bem, que tal rótulo se cola redutoramente ao discurso, inibindo o trabalho meritório da palavra que é em suma o fazer poético.

09 janeiro 2008

Para ouvir

Mais logo, pelas 23 horas, no Escrita em Dia, Francisco José Viegas conversa com os Blogtailors. Para ouvir na Antena 1.

Simone de Beauvoir

No centenário do nascimento de Simone de Beauvoir, multiplicam-se as leituras sobre a autora de O Segundo Sexo.
Aqui ficam duas escolhas, legíveis on-line: no Diário de Notícias, Ana Marques Gastão assina o texto Simone ou Uma Mulher Livre. No The Guardian, Lisa Appignanesi selecciona os dez livros mais relevantes da autora ou sobre a autora.

Sítios para visitar antes de morrer

Chama-se Shakespeare & Company e fica no número 37 da Rue de La Boucherie, em Paris. Aqui pode experimentar-se uma visita virtual, suficientemente realista para deixar bem clara a vontade de visitar o espaço ao vivo.

Eça na London Review of Books

Margaret Jull Costa assina uma nova tradução de Os Maias para inglês e Michael Wood escreve sobre a obra aqui, na London Review of Books.

08 janeiro 2008

Crónica dos Lugares III

Enquanto descia a Charing Cross em romaria livresca, não imaginava que ia descobrir um alfarrabista tão memorável como o Quinto Bookshop, e ainda menos que a descoberta iria despoletar, dias mais tarde e já em Lisboa, o ressurgimento de um desejo antigo e perigoso. Passo já às explicações, antes de prosseguir com a descrição do êxtase por entre as prateleiras.
Há algum tempo atrás, a leitura de uma crónica de João Pereira Coutinho (esse cronista que eu deveria abominar a bem das minhas amizades e da manutenção da minha reputação de esquerda, mas que não abomino e ainda por cima leio com regularidade), desvendou-me um segredo luxuriante sob a forma de três palavrinhas separadas por hífens: Hay-on-wye. Até esse momento, nunca tinha ouvido falar de Hay-on-Wye, e assim deveria ter-me mantido, a bem da minha estabilidade familiar e financeira. Mas a vida é assim mesmo, e o santo Graal não pede licença para ser revelado. Com a leitura da dita crónica, abriu-se uma caixa de Pandora (desculpem a abundância das referências mitológicas, mas o caso pede alguma pompa simbólica) e pela minha mente não voltou a passar mais nada que não se relacionasse com a hipótese de, um dia, rumar até esse El Dorado que o cronista maldito me revelou. Hay-on-Wye é também conhecida pela ‘cidade dos livros’ e só isto já seria suficiente para os eventuais leitores perceberem a minha inquietação. Mas é pior do que isso. Hay-on-Wye, uma pacata cidadezinha (ou será vila, ou aldeia?) no País de Gales, transformou-se, a partir de 1961, num alfarrabista a céu aberto. A crer na descrição da crónica, porta sim porta sim há um alfarrabista, mais improvisado ou mais profissional, mas sempre repleto de livros, bons e baratos. Há alfarrabistas especializados em temas (Shakespeare, banda desenhada, Segunda Guerra, literatura infantil...), há antigas salas de cinema transformadas em livraria, há estantes pelas ruas, pelos jardins, por todo o lado.

No ano que passou, as economias (e a certeza do reembolso do IRS) permitiram pensar numa viagem um bocadinho maior, ou seja, sem tenda nem campismo, e a decisão recaiu sobre Londres. Eu tinha estado em Londres há dez anos, e mandava o bom senso económico não repetir viagens a sítios onde já se esteve, mas a ideia de um regresso, com o que de reconhecimento prévio isso acarreta, e a certeza de que passar uns dias em Londres nunca é um desperdício, por mais vezes que lá se tenha estado, fecharam o veredicto. Londres seria. E na preparação da viagem, não me ocorreu voltar a pensar em Hay-on-Wye, fantasia romântica reservada para um futuro de maior folga financeira ou mesmo para o domínio dos sonhos. Esqueceu-se, assim, o País de Gales e a cidade dos livros; restringiram-se as incursões livrescas a Londres e à sempre bem fornecida Charing Cross. E não houve desilusões, claro. Foyle’s, Blackwell’s, Murder One, Shipley. Pouco antes da transversal dos livreiros antiquários, desvendou-se a Quinto Bookshop, infelizmente encerrada, mas com um anúncio colado na porta, avisando que a reabertura estava marcada para o dia seguinte, pelas duas da tarde. Paciência. O mais certo era já não ser possível o regresso no dia seguinte, mas logo se veria. Mas o dia seguinte foi generoso, apesar das obras do metro e do tempo perdido em linhas e trocas. A fila à porta da livraria indiciava a qualidade do recheio ou os hábitos de leitura londrinos? Ou os dois? Lá dentro, o paraíso entre quatro paredes. Estantes até ao tecto, criando um pequeno labirinto pejado de livros: ficção, poesia, história, religião, viagens, policiais. E uma seta, a indicar mais uma sala, e depois as escadas para o andar debaixo, a cave de todos os sonhos, com livros a metade do preço em relação ao indicado. Várias salas sem luz exterior, uma espécie de armazém, onde estantes sucessivas anunciavam temas como zoologia, cinema, primeira guerra, segunda guerra, época vitoriana, artes, crítica literária, biografia, botânica, química, medicina... e a etiqueta ‘books on books’ em três estantes com centenas de livros sobre edição, bibliografia, catálogos, conservação de livros. A sombra de uma síncope insinuou-se no meu cérebro e foi imediatamente superada – se era para ter um qualquer achaque, que fosse depois de ter lido os livros todos que podia comprar ali e que provavelmente não encontraria noutro sítio. Contas feitas às libras e ignorados os receios sobre o excesso de bagagem, vieram de lá alguns exemplares que agora repousam pelas estantes: A common reader, de Virgina Woolf (a primeira série, e ainda impressa pela Hogarth’s Press), Stories, Essays & Poems, uma colectânea de G.K.Chesterton e Living With Books, de Helen E. Haines, um curioso manual que mistura biblioteconomia e bibliofilia e a que hei-de voltar em breve. Ainda houve libras para mais alguns, como uma edição de 1942 de The Children of Willow Farm, de Enid Blyton, Whizz for Atomms, de Geoffrey Williams e Ronald Searle e várias preciosidades da Penguin, directamente da década de quarenta do século passado. Hay-on-Wye estava esquecida, e a impossibilidade de a visitar nos tempos mais próximos, redimida.
Foi já em Lisboa, frente ao computador e ao dilema de escrever ou não o endereço do site que vinha nos sacos, que a coincidência se transformou em inevitável clamor do destino: a Quinto Bookshop possui duas lojas em Londres, mas a sua sede original fica em... Hay-on-Wye. E pior do que isso, a partir da sua página pode aceder-se a uma página sobre a cidade, que inclui a lista das livrarias alfarrabistas. Até mostram um mapa, várias sugestões de acomodação e as referências dos transportes para lá chegar, os bárbaros galeses. Não voltei a dormir em paz desde então. Perco as noites em cálculos geométricos que me permitam o sacrilégio supremo de criar uma segunda fila em todas as prateleiras, e em cálculos matemáticos que transformem o reembolso do IRS numa quantia quatro vezes superior ao habitual. Nada feito. Melhor acreditar que Hay-on-Wye não existe.

Hoja por Hoja

Hoja por Hoja - Suplemento de Libros. Assim se chama o suplemento mexicano que todos os meses surge como encarte em vários jornais diários do México, e que pode ser lido em qualquer parte do mundo aqui. Segue já para os links do Quiosque.

Penguincubator

Uma espécie de armário de venda automática de livros foi instalado pela Penguin na londrina Charing Cross, em 1937 (a história mais completa da Penguin está aqui). Chamava-se 'Penguincubator' e, a troco de meia dúzia de pences, quem introduzisse as moedinhas no aparelhómetro levava para casa um paperback da Penguin.



O sistema, que não sei se foi criado pela Penguin ou se já existia, pode ser visto ainda hoje em várias cidades do mundo, com especial incidência nas estações de metro, mas o charme deste Pinguincubator é incomparável... A minha irmã - que trabalha numa livraria a sério e ainda assim me enviou o link - que me desculpe, mas um armário destes na rua dá vontade de comprar livros sem que haja livreiro.

Se faz favor

Alimentei durante várias horas a secreta esperança de que o nome do mega-grupo editorial que Paes do Amaral tem estado a reunir tivesse a sua fonte de inspiração na Princesa Leya. Afinal, é apenas uma forma verbal no imperativo, mas com um 'y' em vez de um 'i' para simbolizar 'a abertura da nossa língua' (diz-nos Carlos Coelho, de acordo com o Blogtailors). É um conceito em que ainda não tropecei por entre os meus canhenhos da linguística, mas o marketing e a comunicação tudo podem inventar, não é assim?

No Blogtailors e no Bibliotecário de Babel há mais pormenores sobre o grupo Leya e respectivos objectivos para os próximos tempos.

07 janeiro 2008

Responsabilidades

O Cadeirão Voltaire era um sítio pacato, sem muita gente e com as leituras a surgirem com a calma que se exige quando se está bem recostado e em contemplação ociosa. Até que o Daniel resolveu apontar-nos como blogue da semana. A coisa aconteceu há poucos minutos e já há gente sentada nos braços do cadeirão, gente a remexer nas estantes, gente a assustar o gato com livros e jornais empoeirados. E nós, que escrevíamos ao ritmo da vontade e sem muita preocupação com quem nos lia – entre as cerca de trinta pessoas diárias, suspeitávamos que se encontravam familiares, amigos e um ou outro cibernauta incauto – estamos agora a braços com uma verdadeira enchente de leitores. É muita responsabilidade...

Brincadeiras à parte, agradecemos a referência ao Arrastão; por mais que dissertemos sobre a escrita pela escrita, quem escreve tende a querer ser lido. Mas, por favor, não tirem os livros da ordem, não levem jornais que parecem sem importância e tenham alguma paciência com o gato.

Sublinhados IV

"Muitos shandys, no Sanatório Internacional, já se tinham dado conta de que, mais tarde ou mais cedo, a conjura portátil teria de desaparecer e que isso era a lei da vida e, na realidade, uma coisa muito desejável pois assim a conspiração transformar-se-ia na espectacular exaltação do que surge e desaparece com a arrogante velocidade do relâmpago da insolência:"

Enrique Vila-Matas, História Abreviada da Literatura Portátil (Assírio e Alvim, 1997, tradução de José Agostinho Baptista, p.85)

Luiz Pacheco



Soube-se ontem que morreu Luiz Pacheco e a esta altura a palavra maldito deve andar por todas as notícias (se é que há notícias sobre o assunto; ontem bem saltei de telejornal em telejornal, e nada. Terão reservado os primeiros dez minutos para falar do assunto?).
Para além de escritor, Pacheco assinou crítica e crónica, foi editor, na sua Contraponto, de gente tão essencial para as letras como Herberto Hélder, Mário Cesariny ou Natália Correia e, entre misérias e fugas para a frente, parece que viveu sem contemplações para com regras, convenções sociais e exigências do médico.

*A imagem é de André Carrilho, para a capa de Figuras, figurantes e figurões, da colecção Inéditos da Imprensa, do Independente.

05 janeiro 2008

Leituras

Sábado com chuva pede jornais e respectivos suplementos, mantas quentinhas e nehuma pressa.
A edição especial do Actual, da responsabilidade de Marco Martins, cineasta e editor convidado, Miguel Calado Lopes, o editor cessante do suplemento e Miguel Cadete, o novo editor, traz imagens de vinte e sete fotógrafos portugueses e uma série de comentários sobre o papel da crítica, assinados por escritores, arquitectos, encenadores, realizadores e outros pensadores. É uma edição para guardar depois de ler, claro, mas a leitura soube a pouco. O sábado perdeu, assim, a leitura habitual das críticas semanais e de algum eventual dossier, pelo que me socorro do Babelia para prolongar as leituras. Fernando Savater assina um texto sobre policiais e Amelia Castilla escreve sobre o livro Leer com Niños, de Santiago Alba Rico.

No ecrã, os ingleses. No The Guardian há um texto sobre a literatura e a memória, a propósito do livro Memory: An Anthology, da responsabilidade de Harriet Harvey Wood. E no The Telegraphleituras para os mais novos (se é que esta ideia de 'leituras para os mais novos' tem algum sentido, mas enfim...).

04 janeiro 2008

As palavras necessárias

Sobre o Olímpio, escreve o Jorge Silva Melo no P2 do Público. O texto chama-se "Olímpio Ferreira - Um homem que fazia livros".



03 janeiro 2008

Biblioteca sem livros

Diz-se que em Santiago de Compostela, terra de milagres e outros fenómenos inexplicáveis, inauguraram uma biblioteca sem livros.

02 janeiro 2008

Negócios editoriais



O Jornal de Letras traz hoje um dossier sobre a concentração editorial, vulgo, os negócios que têm movimentado o panorama das editoras portuguesas nos últimos tempos. Da leitura, muito útil para perceber o que se passa com tanta compra e venda, sublinham-se as palavras de José Afonso Furtado:

"Nada me garante que estas apostas, por mais bem intencionadas que sejam, por mais juras que haja de amor eterno, continuem o investimento, se as taxas de lucro baixarem. Há o perigo de em vez de esperarem uns anos para venderem a galinha gorda, fazerem-no logo que comece a definhar. A lógica é puramente financeira e não cultural."

"O consumidor, ao contrário do que pensa a associação que os defende, é tanto mais defendido quanto maior for a oferta e maior a mistura de oferta de qualidade com outra de menor qualidade, o que é característica de um mercado saudável. O que se verifica é uma enorme concentração a nível da distribuição e do retalho e isto que já é um problema vai ser agravado com os grupos editoriais, com grande capacidade de negociar com as livrarias; poderá sobrar muito pouco espaço para as pequenas e médias editoras, onde tradicionalmente se renova a edição. E isso é verdadeiramente assustador."

Recomeço

O ano acabou mal. Ninguém espera despedidas assim tão cedo e nem as memórias, muitas, e muito ricas, parecem servir de consolo a quem fica.
O mundo, claro, prossegue sem concessões. Caem bombas, constroem-se e destroem-se coisas, assinam-se compromissos que logo serão desrespeitados, aposta-se, acerta-se, perde-se, a órbita prossegue, mesmo que nós paremos o olhar nos outros sem percebermos muito bem como é que estamos todos ali, em tão pesado silêncio, se ainda há poucos anos estávamos à volta de uma mesa de copos, com o futuro e os projectos na palma da mão. E depois, que remédio, prosseguimos também.