01 outubro 2008

James Fitzgerald, O Prazer de Fumar Cigarros, Guerra & Paz



       Em anos tão higiénicos e moralizadores como estes que vivemos, publicar um livro intitulado O Prazer de Fumar Cigarros não deve ser tarefa que se abrace de ânimo leve... Mas sosseguem as mentes mais preocupadas com as más influências em letra de forma: logo no prefácio, James Fitzgerald deixa bem claro que fumar é um mau hábito e que ele próprio já tentou libertar-se dele. Pacificados os defensores dos pulmões alheios, siga-se adiante, acompanhando a relação do autor com os cigarros e partilhando da sua vastíssima informação sobre o vício mais estético do mundo (e esta não é uma opinião absoluta, estou ciente). Com um sentido de humor pleno de inteligência, capaz de rir dos outros e de si próprio, Fitzgerald agrupa dados sobre a presença do tabaco na publicidade ou no cinema com fait-divers de toda a espécie, incluindo fumadores famosos e perfis sócio-profissionais dos consumidores de marcas americanas tão populares como a Camel ou a Chesterfield. Assim, mais do que um elogio do tabaco, o autor traça um retrato antropologicamente muito interessante sobre a relação dos norte-americanos com os cigarros, apresentando histórias e fragmentos que surgem como um contributo valioso para melhor compreender a história quotidiana de uma das grandes potências do século XX. Com segurança, o leitor pode descobrir a origem de alguns ícones americanos, como o o homem do uniforme vermelho e preto, da Philip Morris, aprender a reconhecer gestos típicos de um fumador, descobrir como se enrolam cigarros ou acompanhar o processo que transformou os cigarros em serial-killers depois de anos de glória cinematográfica e glamour. E também pode rir-se um pouco com a ironia dos capítulos que propõem programas de dez dias para começar a fumar ou poses com o cigarro em função da imagem que o fumador quer transmitir aos outros. Tudo isto sem o menor impulso de acender um cigarro (a não ser que seja fumador, e aí o livro tem pouca influência). E nem foi preciso colocar um aviso na capa do livro.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out nº52, 24 Setembro 2008)

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