09 julho 2008

Thomas Bailey Aldrich, A História de Um Rapaz Mau, Tinta da China



Dizem as biografias que Mark Twain assumiu publicamente a influência que este livro teve na criação do seu Tom Sawyer, e só não é tremendamente injusto começar por esse facto porque ele pode ajudar a confirmar a importância do trabalho de Thomas Bailey Aldrich, um nome menos sonante que o de Twain, mas cuja leitura mostra bem o quanto a literatura americana deve a este Rapaz Mau.
Publicada pela primeira vez em 1869, já Aldrich se contava entre os escritores reconhecidos da América, A História de Um Rapaz Mau narra os anos da infância de Tom Bailey, alter-ego assumidamente autobiográfico do seu autor, passados na fictícia localidade de Riversmouth. Deixando para trás a Nova Orleães da primeira infância, Tom vai viver com o avô paterno para a enorme casa de família, entregando-se a todas as descobertas que a vida numa pequena cidade, a liberdade concedida por um avô atento mas compreensivo e uma incontrolável tendência para o disparate lhe proporcionam. E onde se esperaria uma aventura juvenil para gáudio dos pequenos leitores de há mais de um século, Aldrich ergue uma notável reflexão sobre a infância, alicerçada na voz de um narrador já adulto que, recordando o seu passado, escreve sobre a ilusão, a consciência do mundo e a inexorabilidade do tempo. A idade adulta do narrador e o modo, tão nostálgico como desencantado, com que olha para a sua infância fazem deste um livro de memórias, muito mais do que um volume de aventuras juvenis, transformando a infância num tempo literário que guarda uma parte importante do que seremos sempre, mas também o momento inevitável em que abdicamos de tudo o que achávamos que permaneceria.
Que A História de Um Rapaz Mau é um dos clássicos da literatura norte-americana, diz-nos a história literária e confirma-nos a sua leitura; que a edição portuguesa nos tenha chegado, tão cuidada, pela Tinta da China, na belíssima colecção dos livrinhos de lombada vermelha, só pode contribuir para perpetuar a obra de Aldrich para as próximas gerações.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº40, 02-08 Jul 08)

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