16 julho 2008
Dario Fo, O Amor e o Escárnio, Gradiva
A obra teatral de Dario Fo tem raízes fortes na cultura popular e na transmissão oral de histórias que, passando por muitas gerações, encontram sempre o seu ponto de reflexo na actualidade. Os textos que compõem este volume são disso um bom exemplo, com remissões que, da Grécia Antiga à China Imperial, passando pelas figuras de Heloísa e Abelardo em plena Idade Média europeia, resgatam um património narrativo que tem tanto de história como de lenda. É no equilíbrio de ambas que o narrador de cada conto vai edificando a sua reflexão sobre o mundo.
Os paralelos possíveis com a actualidade, e com a Itália de Fo – que é a mesma de Berlusconi – são muitos, mas será mais lúcido compreender esses paralelos à luz da natureza humana e da sua história, porque a corrupção, o crime disfarçado de poder e os amores proibidos não são exactamente um exclusivo contemporâneo e o que as histórias de Dario Fo relatam possui a dimensão universal das alegorias, servindo de igual modo aos muitos séculos atravessados. Apesar disso, o registo de Fo nem sempre é bem sucedido formalmente, havendo momentos em que a narrativa se perde na necessidade de uma interacção com o leitor e na encenação de diálogos entre personagens que não se resolvem da melhor maneira na estrutura dos contos.
Uma nota final para a enorme incongruência narrativa da primeira história, que faz com que Heloísa tenha vivido mais de um século, de acordo com os dados que são fornecidos ao leitor. Se o erro é do autor, da revisão literária ou da tradução, ficamos sem saber.
Sara Figueiredo Costa
(Texto publicado na revista Time Out, nº41, 09-15 Jul 08
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