Façamos um balanço: que livros nos lembramos de ter lido este ano? Sem ir à estante, sem recorrer a blocos de notas, informações cibernéticas ou suplementos literários. O teste da memória fará, muito provavelmente o nosso balanço literário de 2007. Para que precisamos nós de balanço?
Para fazer história. Organizando os fragmentos de memória que nos assolam e de que não nos queremos esquecer nem apenas lembrar aleatoriamente. O balanço serve o registo da nossa biografia, tanto quanto a escolha serve a nossa identidade. O balanço é uma espécie de reconhecimento, verificamos se os desejos para o ano que agora termina se cumpriram ou não.
Para quem lê, o seu balanço literário pode ser importante. Mas a história não se escreve sozinha, e os balanços dos suplementos, das revistas ou dos magazines são relevantes. Em torno dos seus juízos reúnem todos os leitores. São, por isso, a origem da comunicação. Só o balanço autorizado tem autoridade reconhecida para escolher, só ele serve como referência colectiva. Sem ele, não há concordância ou discordância, sem ele não há desvio, sem ele não há dentro e fora do cânone. O balanço literário fixa o cânone e é por isso inevitável e redutor. No balanço de 2005, do suplemento Actual (Jornal Expresso, 30 Dezembro, 2005), Ana Cristina Leonardo tece as seguintes considerações: «Chegado o fim do ano, desatamos a preencher colunas do deve e haver literário, tentando encontrar sentidos e tendências. Não sei se as conclusões (possíveis) justificam o propósito, já que, no meio da avalancha de livros, o crítico arrisca-se a deixar escapar a excepção. (…)O mundo não é justo, os balanços muito menos. Serão úteis? (…) Há muito que o livro deixou de ser um objecto cultural no sentido forte para passar a ser um objecto de consumo no sentido lato.» O consumo implica uma actualização ininterrupta e mediada para minorar a tensão de se conseguir comunicar sempre no presente. O balanço tem assim duas faces: a da reflexão literária e editorial que fixa o cânone e a história da leitura; e a lista enquanto instrumento de comunicação.
Se o cânone deve obedecer a tais mecanismos, é reflexão prolongada e imbricada. Se o cânone tem, sequer, autonomia, ou resulta de uma amálgama de efeitos em movimento, entre os quais podem constar os balanços…
Certo é que a lista promove a identificação e o acesso ao objecto e ao seu reconhecimento. A comunicação é então possível e os receptores estão aptos a descobrir os livros, a ler os mais significativos, a erigirem a sua biblioteca sobre as fundações dos best-off. Os balanços estão numa escala de instrumentos de comunicação literária: há os best-sellers, os balanços e as novidades das feiras ou das rentrées. Os best-sellers aproximam os leitores numa imensa comunidade, dão-lhes confiança e uma felicidade mais facilmente partilhável, reconhecível por muitos, cúmplice em espaços públicos, transmutável para a intimidade. Os best-sellers pacificam. Os balanços garantem o conhecimento de qualidade, servem círculos mais restritos, ajudam já em processos cognitivos de relacionamento (outro livro de um autor que já se leu; o melhor livro sobre um tema; uma tradução de excelência; uma primeira obra ou uma antologia). Os balanços consolidam o conhecimento. Finalmente as novidades servem os acossados pelo tempo, os que temem não poder participar em qualquer diálogo por desconhecimento, os que desejam estar aptos para comunicar com todos.
Gosto de balanços. Gosto de balanços passados. Gosto da sensação de reconhecimento, gosto da reflexão, da apresentação de critérios. Gosto quando dou comigo a pensar que achava que aquele livro não era de 2006, mas de 2005… Os balanços têm acima de tudo a marca do seu tempo, que, quando relida, pode ser surpreendente. Porque, apesar da sua autoridade, não são muitas vezes o bastante para sustentar o livro no tempo, e esse é o maior desafio de todos.
Para fazer história. Organizando os fragmentos de memória que nos assolam e de que não nos queremos esquecer nem apenas lembrar aleatoriamente. O balanço serve o registo da nossa biografia, tanto quanto a escolha serve a nossa identidade. O balanço é uma espécie de reconhecimento, verificamos se os desejos para o ano que agora termina se cumpriram ou não.
Para quem lê, o seu balanço literário pode ser importante. Mas a história não se escreve sozinha, e os balanços dos suplementos, das revistas ou dos magazines são relevantes. Em torno dos seus juízos reúnem todos os leitores. São, por isso, a origem da comunicação. Só o balanço autorizado tem autoridade reconhecida para escolher, só ele serve como referência colectiva. Sem ele, não há concordância ou discordância, sem ele não há desvio, sem ele não há dentro e fora do cânone. O balanço literário fixa o cânone e é por isso inevitável e redutor. No balanço de 2005, do suplemento Actual (Jornal Expresso, 30 Dezembro, 2005), Ana Cristina Leonardo tece as seguintes considerações: «Chegado o fim do ano, desatamos a preencher colunas do deve e haver literário, tentando encontrar sentidos e tendências. Não sei se as conclusões (possíveis) justificam o propósito, já que, no meio da avalancha de livros, o crítico arrisca-se a deixar escapar a excepção. (…)O mundo não é justo, os balanços muito menos. Serão úteis? (…) Há muito que o livro deixou de ser um objecto cultural no sentido forte para passar a ser um objecto de consumo no sentido lato.» O consumo implica uma actualização ininterrupta e mediada para minorar a tensão de se conseguir comunicar sempre no presente. O balanço tem assim duas faces: a da reflexão literária e editorial que fixa o cânone e a história da leitura; e a lista enquanto instrumento de comunicação.
Se o cânone deve obedecer a tais mecanismos, é reflexão prolongada e imbricada. Se o cânone tem, sequer, autonomia, ou resulta de uma amálgama de efeitos em movimento, entre os quais podem constar os balanços…
Certo é que a lista promove a identificação e o acesso ao objecto e ao seu reconhecimento. A comunicação é então possível e os receptores estão aptos a descobrir os livros, a ler os mais significativos, a erigirem a sua biblioteca sobre as fundações dos best-off. Os balanços estão numa escala de instrumentos de comunicação literária: há os best-sellers, os balanços e as novidades das feiras ou das rentrées. Os best-sellers aproximam os leitores numa imensa comunidade, dão-lhes confiança e uma felicidade mais facilmente partilhável, reconhecível por muitos, cúmplice em espaços públicos, transmutável para a intimidade. Os best-sellers pacificam. Os balanços garantem o conhecimento de qualidade, servem círculos mais restritos, ajudam já em processos cognitivos de relacionamento (outro livro de um autor que já se leu; o melhor livro sobre um tema; uma tradução de excelência; uma primeira obra ou uma antologia). Os balanços consolidam o conhecimento. Finalmente as novidades servem os acossados pelo tempo, os que temem não poder participar em qualquer diálogo por desconhecimento, os que desejam estar aptos para comunicar com todos.
Gosto de balanços. Gosto de balanços passados. Gosto da sensação de reconhecimento, gosto da reflexão, da apresentação de critérios. Gosto quando dou comigo a pensar que achava que aquele livro não era de 2006, mas de 2005… Os balanços têm acima de tudo a marca do seu tempo, que, quando relida, pode ser surpreendente. Porque, apesar da sua autoridade, não são muitas vezes o bastante para sustentar o livro no tempo, e esse é o maior desafio de todos.
2 comentários:
Divulgação
Um Blog ,dois livros!
“Camarada Choco”
e
“Camarada Choco 2”
António Miguel Brochado de Miranda
Papiro Editora
Papelaria “Bulhosa” Oeiras Parque, Papelarias “Bulhosa”, FNAC ou www.livrosnet.com
Tema: Haverá uma fronteira entre os Aparafusados e os Desaparafusados?"
Filmes de Apresentação no “Youtube” em “Camarada Choco”
Já não me lembrava de ter escrito isso, mas continuo a assinar por baixo. às vezes descobrimos que dissemos disparates mas não me parece que seja o caso
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