11 março 2008

Um Livro

Os manuais de estudos literários ensinam: não se fala de um livro através do que sabemos do seu autor, ou dos episódios biográficos que o originaram. E têm razão, os manuais. Mas não são para seguir sempre, os manuais.
O livro de que quero falar chama-se assim: Tanto Fogo e Tanto Frio. O Último Sonho de Olímpio. Foi escrito pelo Alberto Pimenta, tem um texto de abertura do Vítor Silva Tavares e foi composto e paginado pelo Pedro Serpa. Quem o edita é a & Etc. É um livro muito bonito, como o são sempre os livros da & Etc, mas é ainda mais bonito do que costumam ser os livros da & Etc. Fosse outro o livro, e fossem críticas ou analíticas as minhas intenções de escriba neste momento, e podiam começar a chamar-me ingénua. E estava muito bem; não se fala assim de um livro. Mas deste fala-se. Deste fala-se.
Guardo as deambulações analíticas pelo poema de Alberto Pimenta para quem queira aventurar-se por aí (o desafio é grande, digo já). E guardo a leitura que apetece repetir outra vez, e outra vez, do texto do Vítor Silva Tavares para quem quiser pensar sobre a vida, as pontes que nela se criam, os sonhos e os gestos com que a vamos construindo. Não quero fazer nada disso. Este livro é para o Olímpio e é tudo o que nele está feito para o Olímpio (e que é tudo, dos textos à capa, da montagem fotográfica com que abre à minúcia da composição – com um colofón belíssimo, com aqueles óculos deixados cair...) que faz dele um livro muito bonito. Não consigo lê-lo de outra maneira e quero lá saber de tudo o que aprendi com os tais manuais. Prefiro pensar no que aprendi com o Olímpio, sempre generoso na partilha da sua ars tipografica como em tudo o resto, sempre disponível para ouvir, mesmo que o tempo já não nos fizesse cruzar como antes, sempre capaz de acolher e sugerir e estabelecer pontes, as tais pontes que vamos criando para viver. É um livro muito bonito, este. E é tudo o que posso dizer.

1 comentário:

Metropolis disse...

E tu também és uma miúda muito bonita, é tão bom ler-te assim com a emoção à flor da pele. És Xira!