31 março 2008

Sublinhados XII

"Não se trata apenas de uma boa 'história do homem do saco', como exclamou Stevenson ao acordar de um sonho em que a visualizou, suponho que pelo mesmo misterioso processo mental que já revelara a Coleridge a visão do mais famoso dos poemas inacabados. É também - facto bastante mais importante - uma 'fábula mais próxima da poesia que da habitual ficção em prosa', e por isso pertence à mesma ordem artística que, por exemplo, Madame Bovary ou Almas Mortas."

Vladimir Nabokov sobre Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, in Aulas de Literatura (Relógio d'Água, tradução de Salvato Telles de Menezes, p. 217)

30 março 2008

Ligar a televisão

Logo à noite, pelas 22h40, a RTP2 passa o documentário que Cláudia Clemente fez sobre a & Etc. Quem não teve oportunidade de vê-lo no Doc Lisboa, pode agora redimir-se. E quem teve, vai querer ver outra vez.

29 março 2008

Leituras de fim de semana

No Babelia, uma crónica do escritor Luisgé Martín intitulada "Los Libros Muertos" e a conversa entre Fernando Savater e Eduardo Mendoza, a partir de El asombroso viaje de Pomponio Flato, o último livro de Mendoza.


(Imagem tirada do Babelia on-line)

Pentâmetros Jâmbicos em Torres Vedras



Mais logo, pelas 16 horas, a Livro do Dia recebe Mário Avelar, para a apresentação dos seus Pentâmetros Jâmbicos (Assírio & Alvim), seguida de conversa com Luís Filipe Cristovão.

28 março 2008

Um desassossego muito consensual

Não houve grandes revelações acerca dos limites e das obrigações da crítica literária na imprensa portuguesa, ontem, no debate mensal Livros em Desassossego, na Casa Fernando Pessoa. Os três convidados para o debate estiveram genericamente de acordo quanto ao diagnóstico, e pouco se falou das consequências.
O estado da crítica é moribundo, o espaço físico nos jornais e revistas é praticamente nulo e a própria designação de crítica para as exíguas resenhas é eufemística. As razões são conhecidas, mesmo que discordemos delas: os directores de jornais deixaram de considerar útil a crítica longa e fundamentada na perspectiva da recepção do leitor, que na sua óptica, mais facilmente se deleita com pequenos apontamentos e avaliações segundo estrelas ou números.
Clara Ferreira Alves partilhou a sua experiência de crítica e editora literária no semanário Expresso, nos tempos em que se faziam críticas de duas páginas, com 25000 caracteres.
O que falta então à crítica:
Em primeiro lugar críticos. São poucos os resistentes. E quem são os críticos? Leitores vorazes, conhecedores e amantes de literatura, conhecedores de teoria da crítica e bons escritores. Uma das afirmações mais importantes da noite foi a de que o crítico tem de estar ao nível do autor/ obra que critica, tem de sentir e assumir essa responsabilidade.
Em segundo lugar, falta o contributo do escritor. Na tradição anglo-saxónica, os escritores escrevem críticas acerca de livros de outros escritores, o que em muito enriquece o discurso e o estilo da crítica, para não falar da tal responsabilização do acto de criticar. A principal razão apontada para a sua inexistência em Portugal é a dimensão do país, onde todos se conhecem e todos se levam demasiado a sério.
Por fim, um contributo para a elevação do pensamento: o debate. A possibilidade de dois críticos estarem, lado a lado, a esgrimirem argumentos literários que fundamentem o seu juízo, permitiria ao leitor interessado (e só esses lêem as críticas) observar processos de construção das obras, reparar em detalhes que o seu olhar não tinha apreendido, e até reorganizar as suas impressões.
Não se chegou a falar do público, sobre quem lê e quem não lê, sobre a democratização da leitura, sobre os hábitos e a autonomia da crítica. Falou-se do seu poder, o do passado e o do presente, cada vez menor.
A crítica aparenta ser o apêndice da literatura, porque dela precisa, e o inverso em princípio não se verifica. Mas o grande desafio da crítica é o da sua autonomia: o bom crítico é aquele cujo texto leva o leitor a lê-lo, independentemente da matéria sobre que escreve. A arte de bem escrever e bem pensar subjaz à forma do texto e por isso a crítica está moribunda. Porque se perderam os grandes fazedores de crítica, e os que existem, hoje, são obrigados a treinar e resistir noutros espaços, porque a imprensa não mais oferece aos seus leitores a boa literatura, nem no que às obras diz respeito, muito menos no que concerne a boa crítica.

27 março 2008

A terceira mão

Há meses que esperava com ansiedade pelo novo livro de poesia de Manuel Gusmão. Finalmente, no passado fim de semana pude lê-lo pela primeira vez: A terceira mão, Caminho. Um livro de outra dimensão.
Há uns anos, tive uma acesa conversa com uma amiga por causa da justiça ou injustiça da atribuição do Prémio Nobel a Saramago. Leitora feroz do autor, para ela não havia dúvidas. Resvalámos para os critérios de qualidade, e ela confrontou-me com o argumento recorrente da subjectividade da análise literária. E, de facto, embora não se trate de uma mera opinião subjectiva, a análise literária não está imune a uma certa relatividade inerente ao gosto, ao conhecimento prévio, e à própria biografia teórica e literária do leitor.
Depois, há um nível consensual de literatura (que é igualmente estudado, analisado, posto em causa, relacionado dentro da teoria e dos estudos literários). Esse é um nível de autoridade superiora, ao qual a palavra qualidade nem sequer chega a ser adequada. O léxico deve obrigar-se ao respeito pelo nascimento de uma língua que habita o acto de escrita e retorna, a cada livro, numa nova morada. Nesse universo, e só assim, se traçam comparações entre obras, e se concedem juízos críticos.
Quando li as Migrações do fogo, senti-me arrebatada, superada e deslumbrada. A partir de então, tenho anseado por um novo livro. Estava preparada para a cadeia de referências explícitas mas ilegíveis, e para a ordem interna minuciosamente trabalhada, ao ponto de só existir um corpo, impossível de dissecar. A fruição da primeira leitura foi por isso sem razão, apenas cadência e degustação de compostos. Na segunda, em curso, começo a ter prazer com algumas conquistas de sentido, e não queria ter de parar por aqui. O que me liberta para tal experiência é a possibilidade de assumir com entusiasmo o paradoxo: o livro é tão bom! mas não percebo nada!
A lucidez obreira perpassa o texto mas o seu efeito em mim é uma espécie de diálogo sem mediação. Uma experiência primordial, originária.

Há, para os cépticos, um livro de homenagem a Manuel Gusmão - Poesia e arte. A arte da poesia. Homenagem a Manuel Gusmão, Caminho - que explica, pela pena da autoridade académica, a valiosa mestria destas letras. Como tão poucas...

26 março 2008

Escolhas

Amanhã, será preciso escolher, ou abdicar do jantar...
Às 18h30, a Fundação Luso-Americana retoma o ciclo Asas Sobre a América. Cancelada a conferência de Manuel António Pina sobre Ezra Pound, a FLAD recebe um debate sobre o ensino da literatura norte-americana em Portugal, com Teresa Alves (Professora Associada, FL/Universidade de Lisboa), Carlos Azevedo (Professor Catedrático, FL/Universidade do Porto) e Mário Avelar (Professor Catedrático, Presidente da Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos).
Às 21h30, os Livros em Desassossego regressam à Casa Fernando Pessoa. Clara Ferreira Alves, Pedro Mexia e José Mário Silva, moderados por Carlos Vaz Marques, debatem a crítica literária que temos na imprensa (e talvez a que não temos, também). Nuno Júdice é o autor convidado, apresentando o seu novo livro, a sair em Abril, A Matéria do Poema. Maria da Piedade Ferreira, editora da Oceanos, escolhe três livros que não se importava de ter editado.
A entrada para ambos os encontros é livre.

Phillip Pullman

Once Upon a Time in the North, de Phillip Pullman, a prequela de His Dark Materials, será publicada no início de Abril, no Reino Unido. No site do Guardian pode ler-se, em exclusivo, um excerto livro.

24 março 2008

Bloco de Notas II

O Livro do Pedro, Manuela Bacelar, Afrontamento (2008)

Os livros ilustrados e com histórias pensadas para os mais novos tendem a ser seleccionados por quem os compra a partir dos temas que abordam. Mais do que a qualidade da escrita e da ilustração, os adultos criteriosos na escolha de livros para crianças costumam privilegiar a temática, muitas vezes em função da idade, dos interesses ou da fase de desenvolvimento das crianças. E pode dizer-se que nos últimos anos, a oferta no mercado português evoluiu de modo a satisfazer ambas as preocupações – a estética, chamemos-lhe assim, e a pedagógica. Claro que valerá a pena reflectir sobre se as duas coisas não se misturam, sobre a importância suprema de dar a ler livros bem escritos e bem ilustrados e sobre o facto de ser possível que isso seja tão ou mais importante no desenvolvimento da criança do que a pedagogia transmitida nos livros (isto se essa mesma pedagogia for transmitida em casa).
Saltando essa parte da discussão, que daria um debate interessante e importante, fica a certeza de que os livros infantis editados entre nós têm melhorado a todos os níveis, facto que muito se deve ao aparecimento de editoras com preocupações que vão muito além da ideia simplista de que para fazer livros para miúdos basta arranjar uma história que pareça infantil aos adultos e que seja acompanhada de bonecos coloridos e apelativos: editoras como a Kalandraka, a OQO, Planeta Tangerina, Edições Heterogémeas, Gatafunho ou as Edições Kual, catálogos infanto-juvenis como os da Caminho, da Afrontamento e da Livros Horizonte (e isto apenas para citar alguns), têm feito muito pela elevação dos padrões estético-literários e das abordagens nos livros para os mais novos.
Voltando às temáticas, o tal factor decisivo na escolha dos livros, o panorama mudou muito. As prateleiras das secções infanto-juvenis das livrarias, ainda que muitas vezes se encham de ‘tralha visual florescente e cor-de-rosa sonora’ (não me lembro de melhor epíteto), oferecem já escolhas muito interessantes e diversas para as bibliotecas dos mais novos e para as ofertas sazonais de familiares e amigos das crianças. E oferecem, sobretudo, livros que, abordando temas que surgem como fundamentais para desenvolver nos leitores questões como a responsabilidade, o respeito pelo outro ou a aprendizagem do mundo, o fazem de um modo inteligente, sem moralismos ou didactismos forçados.



É o caso do livro que me faz escrever estas linhas. Chama-se O Livro do Pedro, é da autoria de Manuela Bacelar e tem a chancela da Afrontamento. A atenção que recebeu dos media , pouco dados a destaques tão unânimes quando se trata de livros infanto-juvenis, explica-se sobretudo pela temática do livro – com tudo o que isso tem de injusto para com a longa obra de Manuela Bacelar. Apesar disso, antes assim. Não é todos os dias que uma história com óbvias preocupações de transmitir ideias tão nobres no que ao desenvolvimento das crianças diz respeito consegue tomar forma e imprimir-se em livro sem que a gente a leia e pense que mais valia ter dado à criança um sermão sobre a igualdade e o respeito, em vez de impingir-lhe um livro para que ela os aprendesse. E é ainda menos frequente que essa história inclua como personagens uma família composta por uma menina com dois pais (assim mesmo, no masculino), que virá a transformar-se na mãe de dois filhos (um ainda a caminho), com o seu companheiro (ou marido, pouco importa). A sinopse poderia levar a crer que o livro que a imprensa apresentou como "o primeiro conto infantil português a abordar a temática gay" é apenas um livro que tenta enfiar na cabeça dos jovens leitores a importância da igualdade, ou apenas um livro cuja originalidade se deve à quase ausência de livros com personagens homossexuais no mercado editorial infanto-juvenil, ou apenas um livro panfletário, destinado a fazer a felicidade de quem defende a igualdade de todos os cidadãos e a criar arrepios de indignação nos meios mais conservadores. Puro engano. O Livro do Pedro é uma história simples, retratando situações do dia a dia de uma criança, envolvendo o contexto familiar – onde se destaca a partilha de momentos, os espaços para as brincadeiras, as obrigações apropriadas à responsabilidade da idade – e retratando o mundo de duas crianças de sete anos, mãe e filha, em momentos diferentes das suas vidas. Que uma das crianças tenha como pais dois homens só é novidade ou notícia porque vivemos no país em que vivemos (e também por isso se saúda o livro pela sua temática; de outro modo, seria um elemento tão importante como qualquer outro, e talvez lá cheguemos um dia...). Que esse pormenor da história seja abordado sem moralismos ou didactismos e incluído na narrativa como mais um dos seus elementos, isso é o que faz de O Livro do Pedro um livro tão recomendável. Porque não há nada pior do que criar um grande mito à volta de uma questão que só é complicada para os adultos (e para os que nos governam em particular). E sobre questões didáctico-pedagógicas estamos conversados, até porque há outras características do livro a merecerem atenção, como o facto de a história estar bem escrita e incluir, de modo acessível aos mais novos, elementos narrativos como a analepse (introduzindo a mudança de plano temporal nos hábitos de leitura), diferenças visíveis e significantes ao nível das ilustrações (relacionando-as com os diferentes planos temporais: a cada plano correspondem características pictóricas bem diferenciadas) e uma organização ao nível da paginação irrepreensível, facto tanto mais importante quanto sabemos que muitos livros infantis são feitos sem esse cuidado, resultando em amálgamas de papel, texto e desenhos sem nenhum critério organizacional que as faça parecer um livro.

Ver: Blogue de O Livro do Pedro e entrevista da autora a Fernanda Câncio, no DN.

Lope de Vega: manuscrito à venda

Um manuscrito autógrafo de Lope de Vega, conhecido como Códice Daza, está à venda em Espanha. A Biblioteca Nacional espanhola, a braços com problemas financeiros que a impedem de cobrir o preço pedido pelo actual dono do manuscrito, procura um mecenas para garantir a aquisição, impedindo a saída do manuscrito do país.

23 março 2008

O Espaço Vazio



O Espaço Vazio, de Peter Brook, na Orfeu Negro.

21 março 2008

Um lugar de poesia

Rêve é um diálogo entre três línguas: texto em português, texto em francês, ilustração a partir de recortes. Neste diálogo há ecos no lugar de comunicação, não há perguntas nem respostas porque todos os elementos estão ligados por uma corrente de contiguidade. As pausas e os vazios entre discursos (textos e imagens) marcam o ritmo do sonho que corre no desejo e no mistério, no prazer da sensação, na transposição para um lugar outro.
O recorte desta vez justapõe a forma e os vestígios de imagens prévias, que foram alteradas pelas novas formas que o papel ganha. O olhar, nem sempre presente mas recorrente, invade a imagem e perturba a leitura. O olhar curioso, alegre ou tímido da criança dialoga com o espelho, o computador, o skate, o esqui – a liberdade de percorrer, sem limites, algo que é no final do livro o desejo de sonhar e de ser, pelo sonho.
Este sonho não está limitado aos topoi da liberdade, da criatividade ou da bondade. Rasga-se a rigidez de quadros e valores estáticos através da exploração de tensões entre o desejo, a experiência e o intangível. O sonho é uma teia de relações e construções limitadas mas catalizadoras, como acontece com o Pai Natal e a relação de causa-efeito entre o seu comportamento e o das crianças. O sentido circular desta lógica abre-se sempre numa mudança porque o sonho, enquanto figura objectável, é intangível. Desse desejo primeiro, os sujeitos regressam a si. Os sonhos são por isso inevitavelmente reflexivos mas operam, a cada processo, uma diferença no sujeito, que muda a cada sonho que sonha, nunca voltando a sonhar o mesmo sonho da mesma maneira. Como a palavra dita ou escrita, como a imagem vista, como o tempo, como a memória.

O álbum Rêve foi editado pelas Edições Eterogémeas, em Setembro de 2007, escrito por Eugénio Roda e ilustrado por Gémeo Luís.

Dia Mundial da Poesia

No Jardim da Parada, em Campo de Ourique, há livros a preços convidativos. E no CCB as comemorações decorrem amanhã, para não chocarem com o feriado pascal.

19 março 2008

Acabados de chegar e já com sinusite

Chama-se Sinusite Crónica e é o novo blog do Pedro Vieira, partilhado com o Alexandre Borges, o João Bonifácio, o Nuno Costa Santos e o Pedro Marques Lopes). Dali não deve vir coisa boa, não...

Arthur C. Clark

Morreu Arthur C. Clark, co-criador, com Stanley Kubrik, de “2001: Odisseia no Espaço”, e autor de perto de uma centena de livros. No New York Times, Gerald Jonas traça-lhe o retrato.

Livros manuseados... e bons



De segunda-feira a sábado, das 10:00 às 13:00 horas e das 14:00 às 19:00 horas. Encerra aos feriados.
A Assírio e Alvim fica na Rua Passos Manuel, 67-b, em Lisboa.

Arrumar os livros

no tecto...

18 março 2008

Livros em Desassossego

Na Quinta-feira, dia 27, pelas 21h30, os Livros em Desassossego regressam à Casa Fernando Pessoa. Clara Ferreira Alves, Pedro Mexia e José Mário Silva, moderados por Carlos Vaz Marques, debatem a crítica literária que temos na imprensa (e talvez a que não temos, também). Nuno Júdice é o autor convidado, apresentando o seu novo livro, a sair em Abril, A Matéria do Poema. Maria da Piedade Ferreira, editora da Oceanos, escolhe três livros que não se importava de ter editado.
A entrada, como sempre, é livre.

O Mundo dentro dos livros II



Los Alfabetos: Los Antiguos Signos Usados Por el Hombre en la Contruccion del Mundo Civilizado
Editores Montaner y Simon, Barcelona, 1887

16 março 2008

Livros no ecrã

Daqui a nada começa o Câmara Clara, na RTP2. João Barrento e Pedro Tamen são os convidados e entre os muitos livros que o programa referirá estão estes dois: Olímpio, Vários Autores, Diatribe; Tanto Fogo e Tanto Frio – O Último Sonho de Olímpio, Alberto Pimenta e Vítor Silva Tavares, &etc.

Bruáá

O nome é estranho, mas fica no ouvido. E a editora que o escolheu acaba de se apresentar aos leitores e editará em breve A Árvore Generosa, de Shel Silverstein, um clássico da literatura infanto-juvenil (sempre as etiquetas...).
O link da Bruáa é este.

14 março 2008

Leituras

No Guardian, Andrew Motion escreve sobre a recepção da obra de Philip Larkin passados que estão vinte e três anos sobre a sua morte.


No Hoja por Hoja, um texto de Elizabeth Flores Rodríguez sobre a farsa da 'leitura rápida', ideia vendida em cursos e formações para gáudio de quem quer parecer muito inteligente sem ter de virar as páginas...

13 março 2008

Sublinhados XI

PARDO É O DESERTO NA CIDADE

Apenas se adivinham os oásis
quando a sede envolve os corpos
e o fumo cerca a guerra científica
de estilhaços de ferro pardo
como pardo é o deserto na cidade
um milímetro ao lado das bombas imperfeitas

na incerteza das armas desenhadas,
no rumor de certo Mississipi
para que o jogo se faça a conta-fios
para que não penetre a loja de postais
ainda entreaberta em Bagdade.

António Ferra, in A Palavra Passe (Campo das Letras, 2006. Pg.39)

12 março 2008

Pentâmetros Jâmbicos em digressão



O livro Pentâmetros Jâmbicos, de Mário Avelar, com edição da Assírio e Alvim, será apresentado amanhã, às 18h30, na Livraria LEITURA BOOKS & LIVING, C. C. Cidade do Porto, no Porto, onde Ana Luísa Amaral lerá excertos da obra.
No dia 19, quarta-feira, pelas 21h30, será a vez da FNAC de Braga, com apresentação de Rui Madeira, director do Theatro Circo.
E no sábado, dia 29, pelas 16h, o livro será apresentado em Torres Vedras, na LIVRO DO DIA, pelo Luís Filipe Cristóvão.

11 março 2008

O galego em alta

Nos últimos anos, a Galiza viu aumentar substancialmente a procura de livros em galego por parte dos leitores. O investimento dos editores em boas traduções e a mudança social ao nível dos preconcitos sobre a língua tiveram um papel essencial, segundo os livreiros consultados pela redacção do semanário A Nosa Terra, onde se pode ler o artigo completo.

Ana Hatherly

Na Biblioteca Nacional, uma exposição assinala os cinquenta anos de vida literária de Ana Hatherly. Para ver até ao fim deste mês, na Sala de Referância. A entrada é livre.

Um Livro

Os manuais de estudos literários ensinam: não se fala de um livro através do que sabemos do seu autor, ou dos episódios biográficos que o originaram. E têm razão, os manuais. Mas não são para seguir sempre, os manuais.
O livro de que quero falar chama-se assim: Tanto Fogo e Tanto Frio. O Último Sonho de Olímpio. Foi escrito pelo Alberto Pimenta, tem um texto de abertura do Vítor Silva Tavares e foi composto e paginado pelo Pedro Serpa. Quem o edita é a & Etc. É um livro muito bonito, como o são sempre os livros da & Etc, mas é ainda mais bonito do que costumam ser os livros da & Etc. Fosse outro o livro, e fossem críticas ou analíticas as minhas intenções de escriba neste momento, e podiam começar a chamar-me ingénua. E estava muito bem; não se fala assim de um livro. Mas deste fala-se. Deste fala-se.
Guardo as deambulações analíticas pelo poema de Alberto Pimenta para quem queira aventurar-se por aí (o desafio é grande, digo já). E guardo a leitura que apetece repetir outra vez, e outra vez, do texto do Vítor Silva Tavares para quem quiser pensar sobre a vida, as pontes que nela se criam, os sonhos e os gestos com que a vamos construindo. Não quero fazer nada disso. Este livro é para o Olímpio e é tudo o que nele está feito para o Olímpio (e que é tudo, dos textos à capa, da montagem fotográfica com que abre à minúcia da composição – com um colofón belíssimo, com aqueles óculos deixados cair...) que faz dele um livro muito bonito. Não consigo lê-lo de outra maneira e quero lá saber de tudo o que aprendi com os tais manuais. Prefiro pensar no que aprendi com o Olímpio, sempre generoso na partilha da sua ars tipografica como em tudo o resto, sempre disponível para ouvir, mesmo que o tempo já não nos fizesse cruzar como antes, sempre capaz de acolher e sugerir e estabelecer pontes, as tais pontes que vamos criando para viver. É um livro muito bonito, este. E é tudo o que posso dizer.

10 março 2008

Leituras em atraso

No Babelia deste fim de semana, Luis García Montero dá uma entrevista a propósito de Vista Cansada, o seu mais recente volume de poesia. E no mesmo suplemento, José Carlos-Mainer assina a crítica sobre o livro (aqui).

Para os leitores que não conheçam, aqui fica um poema do autor:

...y quizá sentirán el contacto de otros labios...

Una pobre gramática de huidas te borda la
ventana. Es demasiado el cansacio, incluso
para el miedo, y ayer no sé si te contaron de
qué modo te ven y cual es tu secreto.

Después de amarte sienten un espacio de
rabia cubriéndoles los ojos; un breve parénte-
sis vacío que lo desmiente todo, y recuerdan de
que modo les cuesta pasar de un tiempo a otro,
separar el reloj de las fotografías, la estética
incapaz de sus costumbres, la muda sinrazón
de tu rutina.

Y mientras (tampoco es cuenta mía diluci-
darte nada) sigue la primavera lloviendo entre
los ángeles.

(in Y Ahora Ya Eres Dueño de la Puente de Brooklyn, Ediciones Semana Negra, Gijón, 2007 [1ªed. 1980])

07 março 2008

Feira de Livros Manuseados

Livros de três das melhores editoras que tempos por cá (Assírio e Alvim, Cotovia e Relógio d'Água) a preços muito convidativos, em plena Baixa de Lisboa (no nº72 da Rua Garrett, mais concretamente).



Até ao dia 16 de Março, sempre a partir das 11 horas da manhã (amanhã encerra às 22h, no Domingo, às 18h. De segunda a quinta encerra às 20h, na próxima sexta e sábado, às 22h e no último domingo, às 18h.)

06 março 2008

Sublinhados X

CAPITAIS DA SOLIDÃO

A cada país do mapa
uma mancha de cores macias
e a negra capital
com a sua teia de estradas
e o seu enxame de nomes
e pontos mais finos.

Capitais da solidão -
recordam-nos o quanto
as quisemos,
esperando talvez
que o amor fosse justo
e a vida mais pródiga
em Roma, Budapeste
ou Paris entre Abril
e Junho.

Podemos agora
percorrê-las a eito
no papel, onde estão
imóveis e nunca anoitecem,
emblemas duradouros
de uma esperança
que não foi, neste caso,
a última a morrer.

Rui Pires Cabral, Capitais da Solidão (Teatro de Vila Real, 2006, p.9)

05 março 2008

Traduzam tudo o que falta, por favor


Alfredo Bryce Echenique, o responsável (sem o saber, claro está) pelo nome deste blog, junto ao Sena, em 1997 (numa imagem tirada do site dedicado ao autor).

As traduções portuguesas de alguns dos seus livros encontram-se publicadas pela Teorema e pela Dom Quixote.

Os 18 anos do Público

O Público faz dezoito anos e, para assinalar a data, convidou José Pacheco Pereira para editor por um dia e disponibilizou a edição on-line gratuitamente. Mas o que vale realmente a pena ler e guardar para memória futura é o suplemento especial que integra a edição de hoje, com Miguel Esteves Cardoso a abrir (numa crónica que usa os pêlos púbicos como metáfora para o que é irritante no jornal) e com um revelador apanhado do que foi mudando, no jornalismo e no mundo, ao longo dos últimos dezoito anos.

04 março 2008

Livros Sobre Livros

Quem se dedica ao ofício dos livros em qualquer uma das suas vertentes tem pouca bibliografia disponível em português, mas encontra alguns livros muito recomendáveis em várias línguas estrangeiras. Uma boa indicação (dada pelo Sérgio) é a editora mexicana Libraria que, para além de organizar seminários e outros encontros sobre o tema dos livros, edita a colecção Libros Sobre Livros, cujo catálogo pode ser conhecido aqui. Há títulos específicos sobre o mundo dos editores, dos livreiros, das bibliotecas, dos autores e vários outros temas relacionados.

03 março 2008

Maria Gabriela Llansol (1939-2008)

Maria Gabriela Llansol morreu hoje, pela manhã. E se as mortes dos escritores costumam servir de 'pretexto' jornalístico, que esta sirva para que se volte a falar de uma das obras mais atípicas (e mais relevantes) da literatura portuguesa.

Fonte: Diário Digital

POESIA NO FRÁGIL

A partir do próximo da 6 de Março, as quintas-feiras do Frágil fazem-se com poesia:



(carregar na imagem para ver o cartaz em tamanho legível)

01 março 2008

Leituras de fim de semana II

No Guardian, Claire Tomalin assina um longo texto sobre John Milton.

Leituras de fim de semana

No suplemento Babelia, do El País, entrevista com Ian McEwan a propósito do seu último romance, Chesil Beach. Para ler aqui.