09 fevereiro 2008

Mas deve ter corrido mal a uma série de gente...

O suplemento Actual, do Expresso, tem uma secção chamada 'A Semana' onde, em duas colunas, seis pessoas ou instituições são repartidas entre o 'correu bem a...' e o 'correu mal a...'. Na edição de hoje, a primeira aparição da coluna 'correu bem a...' é Américo Areal, responsável pela livraria Byblos, que acaba de anunciar a abertura de uma nova filial no Porto (ainda maior do que a primeira, ainda mais espectacular e, quiçá, ainda com mais titulos novos e fundos), estando a prever próximas aberturas em Braga e Faro. Tudo seria bonito e exemplar de como os negócios em torno dos livros vão tão bem, não fosse o pequeno pormenor de os trabalhadores da Byblos não estarem muito contentes com o processo de pagamento dos salários a que têm direito. Os zunzuns já vêm de muitos sítios e começam a fazer-se notar, mas enquanto os jornais não se lembram de investigar um bocadinho e perceber o que se passa, as notícias de novas aberturas lá vão prolongando o efeito de marketing de que a Byblos anda a beneficiar há vários meses. Para a edição do próximo Sábado podiam perguntar aos trabalhadores da Byblos se a semana lhes correu bem a eles.

3 comentários:

Filipe Tourais disse...

“Há que deixar o mercado funcionar”. A governação é dirigida para a formação de lucros e não para a criação de bem-estar social. Depois vêm os sub.primes e a “baixa produtividade”, porque quem trabalha nasceu para produzir e dar lucros aos patrões e não para viver. Nunca fui a nenhuma loja desta cadeia, mas imagino que seja uma loja de livros e não uma livraria. Deduz-se facilmente pela forma como é tratado o factor trabalho que o atendimento deve deixar muitíssimo a desejar: deve estar em constante rotação de funcionários.

O natural de Barrô disse...

" Papai tinha uma livraria na rua Duque e estava sempre à beira da falência. Isso é um lugar-comum romântico, mas adequado: papai era comunista e pouca gente comprava livros em Uruguaiana. Os dias de maior prosperidade eram no começo do ano letivo, quando era necessário adquirir o material escolar. No resto do ano papai limpava o pó dos livros com o espanador de penas de avestruz ou tentava sintonizar alguma rádio de país distante, ouvido colado ao enorme aparelho, durante horas silenciosas como a poeira sobre os livros. O preto Gaspar, empregado da livraria, tateava o tabuleiro de xadrez, ensaiando jogadas. O preto Gaspar era cego."

Excerto de "Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez", de Tabajara Ruas,Ed. Ambar,2003

TUBARÃO!!! disse...

Caro Filipe, o atendimento da Byblos não deixa muito a desejar. O que deixa muuuito a desejar é mesmo a direcção que gere a livraria!