11 fevereiro 2008
Pré-Publicação: Poesia, Guilherme de Aquitânia (Assírio e Alvim)
Por incrível que pareça, só com este volume se editam pela primeira vez em português ou se traduzem pela primeira vez em português os 11 poemas que nos chegaram de Guilherme IX de Aquitânia. De alguns deles já havia traduções avulsas; mas espanta que nem nas últimas décadas, em que se traduziram e celebraram em português, de Portugal ou do Brasil, tantos poetas menores de várias línguas, tenha suscitado grande atenção (a tradutores como a historiadores e a ensaístas) a produção preservada do "fundador" da poesia ocidental, do inventor do "amor cortês", do fabuloso criador de poemas emblemáticos sobre a arte de viver, de amar e de poetar, criador que Ezra Pound considerou tão moderno da sua época como da nossa.
(Da Introdução, de Arnaldo Saraiva)
I. Companheiros, farei um poema excelente
Companheiros, farei um poema excelente:
terá mais de louco que de inteligente;
misturará amor, prazer e fogo adolescente.
Por vilão tende o que entendê-lo não tente,
quem no seu coração o não guarda ou sente:
duro é perder o amor quando o achámos tão ardente.
Dois cavalos tenho para montar contente,
qual deles o mais ladino e o mais valente,
mas não posso ter os dois, que um o outro não consente.
Se eu os domasse a meu modo eficiente,
manteria o equipamento imponente,
pois montaria melhor que qualquer outro vivente.
Um foi cavalo montês do melhor dente,
mas tão arredio foi tão longamente,
tão feroz e selvagem, que montá-lo é imprudente.
Outro em Confolens se fez experiente;
de algum mais belo nunca ninguém foi ciente;
nem por ouro ou por prata o trocaria, é evidente.
Potro ainda, a seu dono o dei de presente,
com a condição de, por cada ano ausente,
eu o poder usar mais de um século livremente.
Cavaleiros, dai-me um bom conselho urgente.
Uma escolha me embaraça de repente:
não sei se optar por Inês ou Arsénia é diferente.
De Grimel, bens e castelo, sou tenente,
e por Niol me imporei a toda a gente.
Ambas as terras juraram servir-me fielmente.
Poesia, de Guilherme IX de Aquitânia
Tradução e introdução de Arnaldo Saraiva
Lisboa, Assírio e Alvim
Nas livrarias a partir do próximo dia 22 de Fevereiro.
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2 comentários:
Confesso. Não tenho muita paciência para discursos do tipo é-inacreditável-não-estudar/publicar/traduzir-o-autor/texto-X-enquanto -outros-menores-têm-tanta-publicidade. Não foi publicado porque ninguém se deu ao trabalho. Ninguém quis ou, se quis, ficou-se pelo querer e não fez o suficiente para que a publicação acontecesse. O público que vai ler a poesia de Guilherme de Aquitânia não tem culpa, não quer saber dos complexos de culpa dos outros e (embora a tal não seja a obrigado) quer ler. Podia ser poupado a tais arengas.
O comentário anterior deveria ser transposto para uma antologia do disparate ou do lugar comum." Não foi publicado porque ninguèm se deu ao trabalho". Além do mais, o seu autor fez uma confissão que ninguém lhe pediu e não se sabe com que traumas interiores (esperemos que algum padre o abençoe), mas com a impaciência de um pecador sem perdão por ser mau leitor e mal agradecido. Quem disse que o público tinha culpa de quê? Podia ter-nos "poupado a tais arengas". Anunciada finalmente a tradução dos poemas do primeiro trovador ocidental só posso ficar curiosa e grata a quem a fez e editou, e preparo-me para a ler com apetite aguçado pelo poema transcrito.
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