I
Na compilação de ensaios e entrevistas que sugestivamente denomina A arte do romance, Milan Kundera traça um retrato acerca da história do género, bem como do seu processo criativo.
A noção de existência é fulcral no seu pensamento, aparecendo transversalmente como pêndulo original. O mapa construído pelo autor depende depois das possibilidades de explorar a existência, de a fazer eclodir contra a magnificência dos grandes acontecimentos macro e micro sociais. O que deve vir à superfície da narrativa são insignificâncias que toldam o comportamento, que o condicionam num caminho sem fim conhecido, sem esperança. «De entre as circunstâncias históricas só retenho aquelas que criam às minhas personagens uma situação existencial reveladora. (…) O romance não examina a realidade, mas sim a existência. E a existência não é o que se passou, a existência é o campo das possibilidades humanas, tudo o que o homem pode vir a ser, tudo aquilo de que ele é capaz. Os romancistas elaboram o mapa da existência ao descobrirem esta ou aquela possibilidade humana. Mas, mais uma vez: existir significa: “estar-no-mundo”. É preciso, portanto, compreender quer a personagem, quer o seu mundo como possibilidades.» (pp. 52,58) A existência kunderiana não é psicológica; é paródica e irónica, como resposta à inevitabilidade da vida sem maniqueísmos, crenças ou idealismos. A tese, qualquer que seja, aparece invertida no seu princípio estrutural, aqui reduzido ao insignificante drama individual a que a narrativa dá atenção na sua condição. O exemplo não é generalizável, mas as derivações temáticas são. A propósito de uma personagem, Kundera constrói unidades temáticas abstractas que define como «interrogações sobre a existência». «Um tema é uma interrogação existencial. E cada vez mais me apercebo de que uma tal interrogação é, afinal, o estudo de determinadas palavras, de palavras-temas. O que me leva a insistir: o romance baseia-se principalmente nalgumas palavras fundamentais.» (p.103)
A diegese romanesca serve de suporte ao desenvolvimento dos temas. A beleza, a alma, a fraqueza, a cobardia, o corpo, o esquecimento, a leveza ou o risível atravessam a obra do escritor, derivando em contextos diferentes para sempre se corroborarem, se fortalecerem, se complementarem.
Há, na concepção de romance apresentada por Kundera, uma clara relação com a sua interpretação da história do género, que considera encontrar-se, a partir do pós-guerra, no tempo dos paradoxos terminais.
A noção de existência é fulcral no seu pensamento, aparecendo transversalmente como pêndulo original. O mapa construído pelo autor depende depois das possibilidades de explorar a existência, de a fazer eclodir contra a magnificência dos grandes acontecimentos macro e micro sociais. O que deve vir à superfície da narrativa são insignificâncias que toldam o comportamento, que o condicionam num caminho sem fim conhecido, sem esperança. «De entre as circunstâncias históricas só retenho aquelas que criam às minhas personagens uma situação existencial reveladora. (…) O romance não examina a realidade, mas sim a existência. E a existência não é o que se passou, a existência é o campo das possibilidades humanas, tudo o que o homem pode vir a ser, tudo aquilo de que ele é capaz. Os romancistas elaboram o mapa da existência ao descobrirem esta ou aquela possibilidade humana. Mas, mais uma vez: existir significa: “estar-no-mundo”. É preciso, portanto, compreender quer a personagem, quer o seu mundo como possibilidades.» (pp. 52,58) A existência kunderiana não é psicológica; é paródica e irónica, como resposta à inevitabilidade da vida sem maniqueísmos, crenças ou idealismos. A tese, qualquer que seja, aparece invertida no seu princípio estrutural, aqui reduzido ao insignificante drama individual a que a narrativa dá atenção na sua condição. O exemplo não é generalizável, mas as derivações temáticas são. A propósito de uma personagem, Kundera constrói unidades temáticas abstractas que define como «interrogações sobre a existência». «Um tema é uma interrogação existencial. E cada vez mais me apercebo de que uma tal interrogação é, afinal, o estudo de determinadas palavras, de palavras-temas. O que me leva a insistir: o romance baseia-se principalmente nalgumas palavras fundamentais.» (p.103)
A diegese romanesca serve de suporte ao desenvolvimento dos temas. A beleza, a alma, a fraqueza, a cobardia, o corpo, o esquecimento, a leveza ou o risível atravessam a obra do escritor, derivando em contextos diferentes para sempre se corroborarem, se fortalecerem, se complementarem.
Há, na concepção de romance apresentada por Kundera, uma clara relação com a sua interpretação da história do género, que considera encontrar-se, a partir do pós-guerra, no tempo dos paradoxos terminais.
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