Cito um post de Luís Mourão, no Manchas, que aponta para uma questão essencial: quais são os argumentos válidos para se considerar genial um texto ou um autor?
«Há uma falácia demasiado comum em estudos literários e que aparece em todo o seu esplendor neste livro de Filomena Mónica: é a que consiste em sublinhar o génio de um autor por cotejo com a paupérrima produção da sua época. Como se para a literatura fosse condição suficiente ter um olho em terra de cegos. Ou como se me valesse de alguma coisa ser o maior escritor da minha rua.»
O grande livro sobrevive ao seu tempo, é consensual. Até ao séc. XX ainda se acreditava nas obras por descobrir, nos grandes autores que teriam passado despercebidos. Hoje, muitos já não o consideram possível. Mantenho o cepticismo acerca de tal convicção. Mantenho a esperança de que o tempo e a história, nas suas variações, ainda possam descobrir génios incompreendidos.
Há também quem argumente que as obras que são lidas por muitos não podem ser ignoradas. Muito discutível, por si só. Mas se a esta tese lhe acrescentarmos o tempo? Se reunirmos a recepção continuada com a resistência prolongada ao silêncio?
O neo-pragmatismo rortyano sustentava esta posição. E o que dizer da influência da academia, do poder de quem faz opinião e recupera efemérides? O que dizer da contingência? Existe génio, se silenciado? Existe génio, se ainda um leitor o lê apaixonadamente?
Cesário Verde resiste, ainda?
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