30 julho 2008

George Orwell, Porque Escrevo e Outros Ensaios, Antigona



     Para além da obra literária que o tornou conhecido, George Orwell assinou inúmeros ensaios. O volume que a Antígona agora publica resulta de uma selecção feita por Desidério Murcho a partir de uma outra, maior, que o crítico inglês John Carey preparou para a Everyman's Library.
     Orwell reflecte sobre temas diversos, mas a linguagem e o seu uso acabam por ser o eixo comum aos ensaios agora traduzidos. Em “A Política e a Língua Inglesa”, um texto que preserva toda a actualidade, o autor aponta as ligações intrínsecas entre a manipulação da linguagem e a política, citando exemplos concretos de como se podem produzir enunciados sem conteúdo para justificar as maiores atrocidades («(...) o discurso e a escrita política são em grande medida a defesa do indefensável.» p.39). “Por Que Escrevo” permite uma aproximação ao programa literário do autor, mas esclarece igualmente o seu interesse pela verdade e a crença no compromisso político de quem escreve. E em “O Leão e o Unicórnio”, talvez o mais citado ensaio de Orwell, a crítica à passividade inglesa durante o avanço de Hitler convive com a crítica aos intelectuais de esquerda que apoiam o comunismo soviético como solução para todos os males. Orwell, que lutou ao lado dos republicanos na Guerra Civil de Espanha, defende um sistema económico de matriz socialista, mas em momento algum se demite de pensar a realidade convocando todos os dados, e não apenas os que poderiam justificar o que defende. Para lá da literatura, eis a sua maior herança.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº43, 23-29 Jul 08)

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