12 dezembro 2007

O colosso

Tem vindo a ser anunciada como ‘a maior livraria do país’, e isso deixa-me desconfiada. Não por poder ser mentira, mas porque esta obsessão com ‘a maior’ me remete directamente para a febre dos recordes que parece assolar o pais, lançando toda a gente em busca desesperada pelo seu recorde pessoal, o maior, o melhor, o mais alto, o que durou mais tempo, o que chegou mais longe, o melhor Guiness de todas as eras... Não sei se a Byblos é a maior livraria do país, e isso interessa-me pouco, principalmente quando me lembro de meia dúzia de livrarias pequeninas onde costumo encontrar quase tudo o que procuro, e atenção dedicada ao que não encontro. Mas o que parece ser interessante aqui é a mistura de conceitos, com as novidades a conviverem com os fundos, o que normalmente não acontece. Por exemplo, na Fnac, encontramos várias bancadas e escaparates com as sete mil e quinhentas (!) novidades da semana, e já sabemos que só as veremos por lá durante, vá lá, sete ou oito dias, com alguma boa vontade; depois irão para as prateleiras e depois para o buraco negro das grandes livrarias (que ainda não descobri onde fica, mas imagino que perto das editoras que recebem de volta os livros, ficando sem saber o que lhes fazer). Os fundos... bem, os fundos são uma piada. Na Fnac não há fundos, há umas amostras de coisas que saíram há mais tempo, para enganar o leitor incauto, mas fundos propriamente ditos, não há. Para confirmá-lo, basta fazer a experiência de procurar meia dúzia de títulos com mais de um ano (se for com mais de três, então, o exercício torna-se hilariante), todos relativamente conhecidos ou tidos como obras essenciais. Eu já experimentei e não encontrei nenhum dos livros que procurava. E se outra livraria conseguir, de facto, juntar novidades e fundos de forma séria, então temos livraria colossal na área.
Voltando à Byblos, está a ser transmitida a ideia de que qualquer livro editado em Portugal estará disponível na livraria, tendo em conta o seu enorme espaço e a vontade da gerência relativamente aos fundos, e será facilmente encontrado, graças ao sistema inteligente de procura de títulos nas estantes (por sistema inteligente entenda-se um sistema informatizado de estantes com ligação directa ao inventário da livraria e, claro, ao computador. Pelo menos, foi o que eu, pouco dada a sistemas inteligentes que envolvam informática, percebi). Se assim for, muitas das emergências bibliográficas que às vezes assolam os fins de semana serão resolvidas com uma ida às Amoreiras (espero que o horário seja alargado...) e eu baterei na boca sempre que me lembrar de ter desconfiado da beleza de um sistema inteligente de procura de livros com plasmas e letras digitais envolvidas. Mas enquanto não há forma de confirmar tudo, o melhor é lerem o que os rapazes do BlogTailors têm dito sobre o assunto depois de visitarem o espaço na azáfama pré-inauguração. E eles percebem a sério de sistemas inteligentes de procura de livros e tudo. E não são tão desconfiados como eu. Eu cá vou até à minha estante ver se encontro, de dedo em riste e memória visual activada, um livrinho do Michaux que me está a fazer falta para um artigo. E se calhar encontro outro e fico por lá.

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