O blogger não me deixa publicar novos posts, mas parece que deixa editar os antigos. Assim sendo, caso algum leitor incauto passe por aqui e pense que abandonei o Cadeirão Voltaire, saiba que me mudei para aqui. Mudem também o endereço nos vossos links, por favor. Obrigada!
-------------------------------------------------
365
O novo número da 365 já está nas bancas.
Com textos de António Martinho, Cláudia Matos Silva, Elisabete Patrícia Andrade, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, Luís Graça, Luísa Cardita, Mário Bruno Pastor, Mia Couto, Miguel Marques, Pedro Martins, Pedro Santo, Rui Manuel Amaral, Rui Lage e valter hugo mãe.
Ilustrações e fotografias de Agan Harahap, Alex Gozblau, Ângela Berlinde, Catarina Limão, Gonçalo Franco, Leonor Inverno, Micael Póvoa e Rita Lino.
Design de Alex Gozblau.
03 novembro 2008
Da Galiza IV
OPERA
o ter vivido queda da explosión como un aroma.
Salta a risa e multiplícase por todo o corpo
cubríndonos de estrelas espantadas polo touro
minguante que se achega co segredo da morte.
Desunimos as mans ocupadas en perdernos.
Xa somos a distancia que non nos necesita
porque sabemos a flor que nos mira desde o olvido
Luisa Villalta, in Rota ao interior do ollo, 1995
o ter vivido queda da explosión como un aroma.
Salta a risa e multiplícase por todo o corpo
cubríndonos de estrelas espantadas polo touro
minguante que se achega co segredo da morte.
Desunimos as mans ocupadas en perdernos.
Xa somos a distancia que non nos necesita
porque sabemos a flor que nos mira desde o olvido
Luisa Villalta, in Rota ao interior do ollo, 1995
02 novembro 2008
Leituras II
O hábito de guardar recortes de jornal, e jornais inteiros, por vezes, revela-se muito prejudicial ao espaço que nos rodeia. A ilusão de que vamos disciplinar-nos e recolher com regularidade os artigos que queremos guardar, despachando o resto para a reciclagem, é sempre derrotada pela falta de tempo e de paciência. Mas o reencontro com artigos que quisémos preservar para memória futura é quase sempre compensador. E de certeza que a crónica de Alexandra Lucas Coelho no Ípsilon desda sexta-feira será um reencontro feliz daqui a muito ou pouco tempo, por entre os destroços de imprensa que ocupam o caixote mesmo ao lado deste cadeirão. Pelo sim, pelo não, guardei a versão digital, que aqui partilho como uma espécie de dádiva (para mim foi isso mesmo, uma dádiva).
Viagens com bolso
Alexandra Lucas Coelho
O inglês E. M. Forster chegou a Alexandria durante a I Guerra Mundial. Como era objector de consciência, foi trabalhar com a Cruz Vermelha nos hospitais. Podemos imaginar o que viu.
Durante essa estadia, Forster teve dois encontros decisivos: com o poeta Konstandinos Kavafis, de quem se tornou firme admirador, e com o jovem condutor de eléctricos Mohammed el-Adl, por quem se apaixonou.
Kavafis era - como lhe chamou depois Durrell no "Quarteto de Alexandria" - o "poeta da cidade". Isso queria dizer que era o poeta da antiguidade, 2300 anos debaixo dos pés, e através da antiguidade é que via o presente, como se os corpos quentes de agora fossem a nunca saciada possibilidade de possuir os corpos frios das estátuas.
Quanto a Mohammed El-Adl, tinha 17 anos quando conheceu Forster e morreu com tuberculose pouco depois da guerra.
Para Forster, Alexandria tornou-se uma cidade íntima, daquelas que doem como uma falta quando nos lembramos. Entre o passado que não viveu e o presente em que inventa o passado, um dos seus livros "alexandrinos" é "Pharos e Pharillon".
É difícil, improvável mesmo, encontrar a tradução portuguesa nas livrarias. Não porque esteja esgotada - tirou 1000 exemplares. Não porque seja muito antiga - saiu em 1992. Mas porque vendeu pouco e as livrarias não têm tempo nem espaço. Quem não vende, salta, é devolvido, re-armazenado, descatalogado. Na melhor das hipóteses será revendido numa feira pelo preço de um prego ao balcão. Na pior das hipóteses acaba na guilhotina, tão literalmente como Maria Antonieta. E acontece aos melhores no "mercado do livro".
No "mercado do livro", os livros rápidos ficam à vista porque são rápidos - e mais rápidos são por estarem à vista. Os livros lentos saem da vista porque são lentos - e mais lentos são por não estarem à vista. Ruído e relevo, eis tudo.
Quando a Cotovia começou a publicar, há 20 anos, tudo parecia já gritante, mas afinal não. Agora sabemos como se pode ficar cego e surdo a atravessar uma livraria.
No meio de tudo isto, ou mesmo numa estante de casa, os livros da Cotovia acham-se onde o olhar descansa, com uma pequena cotovia aos pés. São livros opacos, silenciosos, todos voltados para dentro.
Foi o que confirmei nas minhas estantes, em busca daqueles livros da Cotovia que me puseram a caminho, depois de me terem feito parar. Não vou fazer uma lista. Havia sobrecapas de papel vegetal escurecidas pelo sol e capas de duas cores clareadas pelo sol. Lá dentro, misteriosos sublinhados a lápis e, horror, pelo menos um a caneta - este "Pharos & Pharillon", que desde que foi comprado viajou duas vezes a Alexandria, uma de empréstimo, a outra comigo.
Na grande baía que já foi helénica, ptolomeica, romana, cristã, judia, grega, italiana, alemã, francesa e agora é muçulmana com subúrbios de milhões, já não encontrei fazedores de algodão, mas vi com Forster os flocos voarem sobre a cidade como uma tempestade de neve. Os livros ampliam infinitamente a realidade.
"Pharos & Pharillon" faz parte do catálogo morto da Cotovia. A falta de atenção mata, e é toda nossa. Há dias, quando fui ver o catálogo vivo, descobri tudo aquilo que não sabia sequer que saíra, dedicada e silenciosamente. Para o que mais importa, os próximos 20 anos, aproveitem.
Viagens com bolso
Alexandra Lucas Coelho
O inglês E. M. Forster chegou a Alexandria durante a I Guerra Mundial. Como era objector de consciência, foi trabalhar com a Cruz Vermelha nos hospitais. Podemos imaginar o que viu.
Durante essa estadia, Forster teve dois encontros decisivos: com o poeta Konstandinos Kavafis, de quem se tornou firme admirador, e com o jovem condutor de eléctricos Mohammed el-Adl, por quem se apaixonou.
Kavafis era - como lhe chamou depois Durrell no "Quarteto de Alexandria" - o "poeta da cidade". Isso queria dizer que era o poeta da antiguidade, 2300 anos debaixo dos pés, e através da antiguidade é que via o presente, como se os corpos quentes de agora fossem a nunca saciada possibilidade de possuir os corpos frios das estátuas.
Quanto a Mohammed El-Adl, tinha 17 anos quando conheceu Forster e morreu com tuberculose pouco depois da guerra.
Para Forster, Alexandria tornou-se uma cidade íntima, daquelas que doem como uma falta quando nos lembramos. Entre o passado que não viveu e o presente em que inventa o passado, um dos seus livros "alexandrinos" é "Pharos e Pharillon".
É difícil, improvável mesmo, encontrar a tradução portuguesa nas livrarias. Não porque esteja esgotada - tirou 1000 exemplares. Não porque seja muito antiga - saiu em 1992. Mas porque vendeu pouco e as livrarias não têm tempo nem espaço. Quem não vende, salta, é devolvido, re-armazenado, descatalogado. Na melhor das hipóteses será revendido numa feira pelo preço de um prego ao balcão. Na pior das hipóteses acaba na guilhotina, tão literalmente como Maria Antonieta. E acontece aos melhores no "mercado do livro".
No "mercado do livro", os livros rápidos ficam à vista porque são rápidos - e mais rápidos são por estarem à vista. Os livros lentos saem da vista porque são lentos - e mais lentos são por não estarem à vista. Ruído e relevo, eis tudo.
Quando a Cotovia começou a publicar, há 20 anos, tudo parecia já gritante, mas afinal não. Agora sabemos como se pode ficar cego e surdo a atravessar uma livraria.
No meio de tudo isto, ou mesmo numa estante de casa, os livros da Cotovia acham-se onde o olhar descansa, com uma pequena cotovia aos pés. São livros opacos, silenciosos, todos voltados para dentro.
Foi o que confirmei nas minhas estantes, em busca daqueles livros da Cotovia que me puseram a caminho, depois de me terem feito parar. Não vou fazer uma lista. Havia sobrecapas de papel vegetal escurecidas pelo sol e capas de duas cores clareadas pelo sol. Lá dentro, misteriosos sublinhados a lápis e, horror, pelo menos um a caneta - este "Pharos & Pharillon", que desde que foi comprado viajou duas vezes a Alexandria, uma de empréstimo, a outra comigo.
Na grande baía que já foi helénica, ptolomeica, romana, cristã, judia, grega, italiana, alemã, francesa e agora é muçulmana com subúrbios de milhões, já não encontrei fazedores de algodão, mas vi com Forster os flocos voarem sobre a cidade como uma tempestade de neve. Os livros ampliam infinitamente a realidade.
"Pharos & Pharillon" faz parte do catálogo morto da Cotovia. A falta de atenção mata, e é toda nossa. Há dias, quando fui ver o catálogo vivo, descobri tudo aquilo que não sabia sequer que saíra, dedicada e silenciosamente. Para o que mais importa, os próximos 20 anos, aproveitem.
31 outubro 2008
O Livro Inclinado no Chiado
No Domingo, dia 2, estarei na Fnac do Chiado para apresentar a quem aparecer o livro mais bonito que chegou este ano às livrarias: O Livro Inclinado, de Peter Newell, uma edição da Orfeu Negro.
Também lá estará a Elsa Serra, pronta para contar a história do livro aos mais pequenos (e aos maiores, claro). A sessão começa às 17 horas. Apareçam.
Também lá estará a Elsa Serra, pronta para contar a história do livro aos mais pequenos (e aos maiores, claro). A sessão começa às 17 horas. Apareçam.
Jaume Cabré, As Vozes do Rio Pamano, Tinta da China
.
A história nunca se conta de um só lado, e às vezes passam-se muitos anos até que se conte, sequer. A relação da literatura espanhola (englobando-se aqui a das suas autonomias, à falta de melhor designação) com a Guerra Civil de Espanha assim o confirma, e só nos anos mais recentes é que o tema se tornou recorrente, como se tivesse chegado a altura em que a reflexão já é possível sem demasiados ódios e em que a literatura pode ocupar-se da melhor maneira dessa mesma reflexão.
Numa aldeia catalã, no início do século XXI, uma professora encontra os manuscritos de um mestre-escola que o Vaticano se prepara para canonizar, elogiando o seu martírio às mãos dos maquis que combatiam a ditadura. Os textos de Oriol Fontelles, que morreu odiado por parte considerável da aldeia, revelam uma história diferente, marcada pelo auxílio, em segredo, aos mesmos maquis que o teriam morto. Que esse auxílio tenha nascido de uma série de contingências, mais do que de um gesto de heroísmo convicto, só contribui para se perceber que o romantismo e a criação de heróis impolutos interessam menos a esta narrativa do que o sentido da vida daqueles que, de repente, se viram no meio do fogo e não puderam esconder-se.
A determinação da professora em restituir a verdade, e em cumprir o desejo do mestre-escola de que os textos chegassem às mãos da sua filha, estrutura uma narrativa fragmentada, onde passado e presente se cruzam nos mesmos espaços e onde o tempo se encarrega de equilibrar a justiça de algumas revelações com a impossibilidade de repor uma verdade, absoluta e convertida em nova memória. É o leitor o único privilegiado com o acesso a essa verdade, a partir da paciente colação dos fragmentos da narrativa. E mesmo sabendo que o pacto ficcional não substitui a releitura da história, essa oferta não é inocente numa saga que, para além do ódio e brutalidade que a guerra produziu, descreve exemplarmente o modo como a falsificação da história se transforma, demasiadas vezes, na própria história.
Sara Figueiredo Costa
(Texto publicado na revista Time Out nº56, 22 Outubro 2008)
A história nunca se conta de um só lado, e às vezes passam-se muitos anos até que se conte, sequer. A relação da literatura espanhola (englobando-se aqui a das suas autonomias, à falta de melhor designação) com a Guerra Civil de Espanha assim o confirma, e só nos anos mais recentes é que o tema se tornou recorrente, como se tivesse chegado a altura em que a reflexão já é possível sem demasiados ódios e em que a literatura pode ocupar-se da melhor maneira dessa mesma reflexão.
Numa aldeia catalã, no início do século XXI, uma professora encontra os manuscritos de um mestre-escola que o Vaticano se prepara para canonizar, elogiando o seu martírio às mãos dos maquis que combatiam a ditadura. Os textos de Oriol Fontelles, que morreu odiado por parte considerável da aldeia, revelam uma história diferente, marcada pelo auxílio, em segredo, aos mesmos maquis que o teriam morto. Que esse auxílio tenha nascido de uma série de contingências, mais do que de um gesto de heroísmo convicto, só contribui para se perceber que o romantismo e a criação de heróis impolutos interessam menos a esta narrativa do que o sentido da vida daqueles que, de repente, se viram no meio do fogo e não puderam esconder-se.
A determinação da professora em restituir a verdade, e em cumprir o desejo do mestre-escola de que os textos chegassem às mãos da sua filha, estrutura uma narrativa fragmentada, onde passado e presente se cruzam nos mesmos espaços e onde o tempo se encarrega de equilibrar a justiça de algumas revelações com a impossibilidade de repor uma verdade, absoluta e convertida em nova memória. É o leitor o único privilegiado com o acesso a essa verdade, a partir da paciente colação dos fragmentos da narrativa. E mesmo sabendo que o pacto ficcional não substitui a releitura da história, essa oferta não é inocente numa saga que, para além do ódio e brutalidade que a guerra produziu, descreve exemplarmente o modo como a falsificação da história se transforma, demasiadas vezes, na própria história.
Sara Figueiredo Costa
(Texto publicado na revista Time Out nº56, 22 Outubro 2008)
30 outubro 2008
Pré-Publicação: Saga Lusa, Adriana Calcanhotto (Quasi Edições)
Voltei do segundo show pálida, trémula, mas mantendo a pose no meu deslumbrante robe azul. Subi no elevador com uns africanos que se entreolhavam, tentando localizar de que tribo são as senhoras que andam de robe de veludo e havaianas, com uma braçada de flores na mão e olheiras que as fazem parecer um urso panda disfarçado de cantora – vestida e com a maquiagem borrada pela ex-mulher do Gerald Thomas. Eu tremia de frio, mas sorri, claro, pros africanos. Tomei um banho quentíssimo, durante longos minutos porque, pra mim, esta é a melhor hora dos shows e porque precisava me aquecer e não conseguia. Um urso panda certamente não se enganaria, mas eu, até então, não tinha me dado conta de que estava ardendo em febre e que um banho pelando não ajudaria muito, sabe que o QI das cantoras... Fiz o show com febre sem me dar conta disso, enfim, sabia é que não podia me dar ao luxo de ter febre porque tinha ainda mais não sei quantas entrevistas pela frente. Fui pra cama depois do banho quente, mas não deu. De madrugada, com muita peninha, acordei meu anjo Suely para pedirmos um termómetro na recepção. Mas o Sheraton Lisboa não tem um termómetro. Não entendo bem o raciocínio, mas deve ser algo do tipo – pois, isto é um hotel, minha senhora, não uma clínica geriátrica. Então um mensageiro foi, de madrugada, não sei onde, comprar o termómetro mas pelo que demorou desconfio que tenha ido a Madrid. Chamamos a médica que atende ao hotel e ela me disse ao chegar:
– Atendo atletas e desportistas, e vocês, cantores, são da mesma categoria: dão mais do que têm.
Nossa, isso calou fundo. E prosseguiu:
– A menina Adriana não pode tratar-se assim tão mal, por que é que está a fazer isso consigo?
Respondi...
– ...ãeamhuam.
Pra encurtar, antibióticos, aaarrrgghh, antiinflamatório, uuugllh, programação da tv a cabo, aff. A Adriana não pode dar as entrevistas de amanhã. Escândalo na gravadora, na editora, isso não é possível, como é que vai ser? Vai pôr tudo a perder! Nem quero entrar nessas considerações, que isso era pra ser um email e está virando Guerra e Paz, mas tá puxado, viu? Anabela manda músicas que não consigo ouvir inteiras por causa da dor de cabeça, mas que adoro quando chegam. A febre não cede. Camisolas encharcadas. Cancelar as entrevistas de depois de amanhã também. Liga pra gravadora, agora é o fim da carreira dela, que pena, ia tão bem. A febre piora.
– Isabel? Oi! Tudo bem sim, e você?... Pois é, que chatice, a febre não sai do lugar, cara.
– Tenta um outro médico, quem sabe, tantos amigos aí, eles não têm médico? Não vão ao médico?
– Como assim, “não vão ao médico”?
– Sei lá, são portugueses...
– Não, não tem nada a ver com a médica, adorei-a. Apesar de ela, antes de me dizer boa-noite, ter feito duas das perguntas que passei os doze anos de psicanálise escapulindo de me fazer. Ela é calma. Séria. Entendeu que tenho hiperplasia congénita das supra-renais, de instalação tardia, a forma não-clássica, que tomo cortisona diariamente para o resto da vida, que sou maluca, “artista”. Ela até pensou em me dar outra medicação, mas sabe que é arriscado por causa da cortisona, disse que não iria ministrar, sob hipótese alguma. Nem minha mãe conseguiu entender até hoje que tenho essa enzimopatia, me afeiçoei, deixa a Doutora.
– Mas ela não é a médica do Sheraton?
– Então.
– O Sheraton não tem um termómetro, Adriana, custa ver outra pessoa? Eu procuraria uma segunda opinião.
– Não, não custa, vou ver...
Agora, não me venha falar mal do Sheraton com ironiazinhas que não admito. Falo eu, mal do Sheraton. Porque amo este hotel, ele é meu, tenho as melhores recordações daqui, dos funcionários, das gentilezas, dos sorrisos, das pessoas, das minhas estadias todas, que maluquice. Só porque algum hóspede brasileiro algum dia provavelmente deu a Elza no termómetro, pediu pra usar e “esqueceu” de devolver, o Sheraton Lisboa é o quê? Desequipado? Relapso? Ah, me poupe.
Outro médico, este indicado pelo António. Simpático, açoriano. Vamos pro hospital às dez da noite tirar chapa do pulmão. Traqueobronquite, pulmão de fumante passivo, bingo. Nas análises de sangue, infecção e discreta anemia. Isso sou eu – vi logo que não haviam trocado os resultados porque nunca fiz um exame na vida que não revelasse discreta anemia. É que tenho hiperplasia das supra-renais na forma não-clássica, o Kennedy também tinha, esquece. Chega no quarto do hotel o pedido da farmácia. Vamos ter amanhã que comprar uma mala pra levar os remédios, o que não seria nada demais se não tivesse que tomá-los. Me apronto pra dormir depois de tomar os remédios, todos de uma vez, e aplico a bombinha com desinfectante pra garganta. Vai saber por quê, esse negócio disparou meu sistema simpático, fiquei com palpitação, fritando, suando, com uma sensação de medo medo medo. Dormi exausta e acordei de um sonho medonho, empapada de suor, chorando sem poder me controlar. Só pensava que um dia aquilo ia passar. Bad trip, total. Graça? Nenhuma. Tô aqui agora de ressaca dessa noite que pretendo deletar, com uma mesa-de-cabeceira que parece um estande de lançamentos farmacêuticos, parecendo um urso panda disfarçado de cantora dramática de cama. A camareira me viu tossir e gentilmente disse-me:
– Pois, está mesmo muito mal, hein?
Domenico veio me visitar de manhã, fofo. Trouxe um óleo francês de eucalipto, me fez rir contando histórias da Orquestra Imperial e pegou a estrada com a banda e os técnicos, que estão indo na frente para Torres Novas. O show é amanhã.
Adriana Calcanhotto
Saga Lusa
Quasi Edições (nas livrarias em Novembro)
Leituras: entrevista com Paul Auster
Paul Auster fala com o Guardian a propósito do seu mais recente livro, Man in the Dark (que a Asa editará em Novembro), e estende a conversa às eleições mais comentadas do momento. Para ler aqui.
(Paul Auster, Homem na Escuridão, Edições Asa)
(Paul Auster, Homem na Escuridão, Edições Asa)
Prémio PT 2008
Priimeiro o Jabuti, agora o PT. O Filho Eterno deu a Cristovão Tezza o Prémio Portugal Telecom 2008, que deixou em segundo lugar exaequo Beatriz Bracher, com Antônio, e António Lobo Antunes, com Eu Hei-de Amar Uma Pedra, e em terceiro Bernardo Carvalho, com O Sol Se Põe em São Paulo.
Para o mês que vem, O Filho Eterno chegará às livrarias pela mão da Gradiva.
29 outubro 2008
Leituras
No Público, André Jorge, editor dos Livros Cotovia, fala a Alexandra Lucas Coelho dos vinte anos da casa, do panorama actual dos livros e também da esperança, bem expressa nestas palavras, apesar dos pesares que vão ditando o rumo do 'mercado':
"O mercado mudou muito em 20 anos. O caminho é este, editoras pequenas, que fazem o que gostam, para leitores estáveis?
Esse caminho vai continuar. Há uma vulgarização da leitura e dos livros. Edita-se e vende-se mais, mas não estou a falar de literatura. Não concordo que estejam a fazer leitores. Estão a fazer aqueles leitores, ficam feitos, não têm nada a ver connosco. O que esperamos é que algumas livrarias possam sobreviver e especializar-se. Quando houver umas quantas com uma determinada orientação, como nós temos... Que uma Pó dos Livros [em Lisboa] sobreviva. Que Braga mantenha a Centésima Página, que Leiria tenha uma Arquivo..."
Nem mais!
(As comemorações dos 20 anos dos Livros Cotovia prosseguem até ao dia 29 de Novembro. Ver programação completa aqui.)
"O mercado mudou muito em 20 anos. O caminho é este, editoras pequenas, que fazem o que gostam, para leitores estáveis?
Esse caminho vai continuar. Há uma vulgarização da leitura e dos livros. Edita-se e vende-se mais, mas não estou a falar de literatura. Não concordo que estejam a fazer leitores. Estão a fazer aqueles leitores, ficam feitos, não têm nada a ver connosco. O que esperamos é que algumas livrarias possam sobreviver e especializar-se. Quando houver umas quantas com uma determinada orientação, como nós temos... Que uma Pó dos Livros [em Lisboa] sobreviva. Que Braga mantenha a Centésima Página, que Leiria tenha uma Arquivo..."
Nem mais!
(As comemorações dos 20 anos dos Livros Cotovia prosseguem até ao dia 29 de Novembro. Ver programação completa aqui.)
Coisas que se perdem quando o trabalho aperta
O Bibliotecário de Babel está nomeado para os BOB (Best of Blogs) e é o único blog português em concurso (já agora, podem apoiar a causa aqui).
A Bulhosa de Campo de Ourique recebeu ontem Bernardo Pires de Lima e Daniel Oliveira, conversando sobre o tema do momento ('Somos Todos Americanos'?), numa iniciativa inserida nas Conversas de Bairro. Só hoje dei por isso, quando fui comprar a Time Out (não é publicidade disfarçada; fui mesmo comprar a Time Out), e não sei se as Conversas de Bairro já existem há muito, se começaram agora ou quando terão continuidade. Às vezes, quanto mais perto de casa, menos damos pelas coisas, mas vou estar atenta a próximas conversas.
A Bulhosa de Campo de Ourique recebeu ontem Bernardo Pires de Lima e Daniel Oliveira, conversando sobre o tema do momento ('Somos Todos Americanos'?), numa iniciativa inserida nas Conversas de Bairro. Só hoje dei por isso, quando fui comprar a Time Out (não é publicidade disfarçada; fui mesmo comprar a Time Out), e não sei se as Conversas de Bairro já existem há muito, se começaram agora ou quando terão continuidade. Às vezes, quanto mais perto de casa, menos damos pelas coisas, mas vou estar atenta a próximas conversas.
Pesadelos e livros da infância
Uma noite mal dormida e alguns pesadelos depois, situo finalmente a imagem que me atormentou a noite. A corça esfolada e a respectiva pele vieram directamente de um dos livros da Condessa de Ségur. Não consigo precisar qual e não tenho a colecção comigo, mas não quero voltar a ouvir os senhores e as senhoras do Plano Nacional de Leitura dizerem que ler faz bem à infância...
À conversa com Nuno Crato
Amanhã, pelas 18h30, na Livraria Arquivo (Leiria), Nuno Crato vai estar à conversa com Anabela Graça, professora do ensino secundário e Eloísa Pires, estudante universitária, a propósito deste livro:
Nuno Crato
A Matemática das Coisas
Gradiva
Nuno Crato
A Matemática das Coisas
Gradiva
28 outubro 2008
27 outubro 2008
Letra Pequena
Peter Newell, O Livro Inclinado, Orfeu Negro
Artista prolífico, Peter Newell assinou ilustrações, cartoons e banda desenhada para dezenas de jornais e revistas norte-americanas, entre 1883 e 1924, data da sua morte.
O Livro Inclinado pertence a um núcleo de obras que Newell criou na fronteira imprecisa entre a ilustração e a banda desenhada, onde as preocupações formais com o próprio objecto-livro são um elemento recorrente. Dos seis livros que compõem esse núcleo, The Hole Book, The Rocket Book e este O Livro Inclinado (The Slant Book, no original) constituem uma unidade particular, na medida em que partilham a sequencialidade das imagens que acompanham as rimas que constituem o texto e a materialização dessa sequencialidade num elemento que ganha corpo no próprio livro enquanto objecto. Nos dois primeiros, um buraco (de bala ou de foguete) atravessa as páginas, incorporando-se o vazio que deixa no papel na composição das ilustrações. N’O Livro Inclinado é o formato do volume que acompanha a sucessão de imagens onde um carrinho de bebé vai deslizando por uma rampa íngreme, com o respectivo ocupante como ‘piloto’.
Rimas e ilustrações, que terão sido pensadas para um público infantil (o que justifica a presença numa colecção como a que este livro inaugura, a Orfeu Mini, ainda que a sua apreciação nunca se tenha resumido às crianças), revelam o programa artístico de Newell, observador atento do quotidiano e mestre exímio na arte do cómico. O Livro Inclinado retrata o que bem podia ter sido uma cena banal numa qualquer cidade, um corte temporal na narrativa dos dias, mas fá-lo exagerando as possibilidades (inclusive as da física, já que seria duvidoso que um carrinho de bebé se mantivesse tanto tempo em movimento descendente sem cair) e acentuando características das personagens envolvidas para melhor alcançar diferentes níveis de cómico, da linguagem à situação. A sequência dos encontros do carrinho com as personagens que se encontram na rampa revela situações desastrosas, mas que se tornam cómicas graças à “anestesia momentânea do coração”, a condição que Bergson impôs para a sã existência do riso provocado por situações nem sempre agradáveis. Como os constantes atropelos de um carrinho de bebé desgovernado.
Sara Figueiredo Costa
('Versao integral' do texto publicado no suplemento Actual do jornal Expresso, 17 de Outubro 08)
25 outubro 2008
Leituras de fim de semana
24 outubro 2008
Leituras
Neste momento, O Priorado do Cifrão, de João Aguiar (Porto Editora), ocupa as minhas horas de leitura. Lidos os primeiros capítulos, creio poder afirmar que o enredo é prometedor e que a ironia acerta na mouche (em várioas mouches...).
O trailer de apresentação do livro pode ser visto aqui.
O trailer de apresentação do livro pode ser visto aqui.
Notas sobre a escolha do Booker
23 outubro 2008
Biblioteca Nacional ampliada
As obras de ampliação da torre de depósitos da BN, de que ouço falar mais ou menos desde o dia em que fiz o meu cartão de leitora - tinha acabado de chegar à Faculdade - estão finalmente a decorrer. Se não houver derrapagens, lá para 2012 estarão prontas e os livros que agora não cabem em lado nenhum terão o seu espaço garantido.
(vista da bela sala de leitura da BN)
(vista da bela sala de leitura da BN)
O Pequeno Azulejo
Com a chancela das Editions Chandeigne , o livro O Pequeno Azulejo, de Tosca, será apresentado na Pó dos Livros, no próximo dia 25, pelas 17h00. A ideia é levar as crianças, mas os adultos não ficarão desapontados.
22 outubro 2008
Fora dos livros II
A exigência de silêncio nas salas de cinema bem podia transformar-se em cruzada civilizacional, abraçada por qualquer pessoa de bem. Sussuros constantes, telemóveis que tocam (e são prontamente atendidos), rebuçados com papéis barulhentos têm de ser banidos das salas. E não se pense que a praga está circunscrita aos cinemas onde se vendem pipocas (e menus inteirinhos defastfood, e gomas, e coca-colas...). Se há uns anos era assim, hoje a praga generalizou-se, e não há King ou festival de cinema que se salve. Em oito sessões que já vi no doc.lisboa, ainda não houve uma (uma só!) em que não tivesse vizinhos que conversam como se estivessem na sua sala, comentando o que vêem e, muitas vezes, interpelando o próprio filme, normalmente da maneira mais básica (por exemplo, se aparece um cão no ecrã, é possível ouvir em voz alta: 'Olha, um cão'. E por vezes, é possível que a esta frase se siga outra, do género: 'Tão fofinho...'). Porque é que não alugam DVD's e ficam em casa a vê-los?
Saramago na New Yorker
Cotovia: 20 anos
Quem, como eu, andava preocupado com a estagnação do site da Cotovia num anúncio de livros para férias, e com a ausência de novos lançamentos anunciados, pode descansar. Para comemorar duas décadas de edição, a Cotovia programou uma série de sete sessões, com lançamentos de novidades, leituras e conferências. E a primeira é já no dia 27.
27 de Outubro, Sala de Ensaio do CCB
21h - Leitura do primeiro acto de Os Pilares da Sociedade, de Henrik Ibsen, por Jorge Silva Melo e lançamento dos livros Peças Escolhidas III, de Henrik Ibsen, e Silenciador, de Jacinto Lucas Pires.
1 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
16h - Camões, uma lição de Vítor Aguiar e Silva. Leitura de poemas por Luís Miguel Cintra.
9 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
11h às 13h - Brevíssimo curso de literatura brasileira, com Abel Barros Baptista, Carlos Mendes de Sousa, Clara Rowland e Osvaldo Silvestre.
15h às 17h - Lançamento do livro Um crime delicado, de Sérgio Sant’Anna e de A poesia andando: 13 poetas no Brasil, com a presença de Marília Garcia e Valeska de Aguirre, poetas organizadoras desta antologia.
12 de Novembro, Livraria Pó dos Livros
18h30 - Lançamento do novo livro de Luís Quintais, Mais espesso que a água, e leitura de poemas por Diogo Dória.
16 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
1h às 13h - Brevíssimo curso de literatura grega e latina, com Delfim Leão, Frederico Lourenço e Paulo Farmhouse Alberto.
15h às 17h - Lançamento de Odes de Horácio, na tradução de Pedro Braga Falcão, e do livro Novos ensaios helénicos e alemães, de Frederico Lourenço.
19 de Novembro, Livraria Pó dos Livros
18h30 - Lançamento do novo livro do Jacinto Lucas Pires, Assobiar em público. Apresentação de Carlos Vaz Marques.
29 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
18h30 - Apresentação da série de livros BI-África Minha, constituída por 11 títulos de vários autores africanos: Amílcar Cabral, Luandino Vieira, Hernique Galvão, Castro Soromenho, Uanhenga Xitu, Baltasar Lopes, Luís Bernardo Honwana, Ruy Duarte de Carvalho e Mutimati Barnabé João. Participam Ana de Almeida, António Duarte Silva e Francisco Teixeira da Mota. (Com o apoio da Casa das Áfricas de São Paulo, Brasil).
27 de Outubro, Sala de Ensaio do CCB
21h - Leitura do primeiro acto de Os Pilares da Sociedade, de Henrik Ibsen, por Jorge Silva Melo e lançamento dos livros Peças Escolhidas III, de Henrik Ibsen, e Silenciador, de Jacinto Lucas Pires.
1 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
16h - Camões, uma lição de Vítor Aguiar e Silva. Leitura de poemas por Luís Miguel Cintra.
9 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
11h às 13h - Brevíssimo curso de literatura brasileira, com Abel Barros Baptista, Carlos Mendes de Sousa, Clara Rowland e Osvaldo Silvestre.
15h às 17h - Lançamento do livro Um crime delicado, de Sérgio Sant’Anna e de A poesia andando: 13 poetas no Brasil, com a presença de Marília Garcia e Valeska de Aguirre, poetas organizadoras desta antologia.
12 de Novembro, Livraria Pó dos Livros
18h30 - Lançamento do novo livro de Luís Quintais, Mais espesso que a água, e leitura de poemas por Diogo Dória.
16 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
1h às 13h - Brevíssimo curso de literatura grega e latina, com Delfim Leão, Frederico Lourenço e Paulo Farmhouse Alberto.
15h às 17h - Lançamento de Odes de Horácio, na tradução de Pedro Braga Falcão, e do livro Novos ensaios helénicos e alemães, de Frederico Lourenço.
19 de Novembro, Livraria Pó dos Livros
18h30 - Lançamento do novo livro do Jacinto Lucas Pires, Assobiar em público. Apresentação de Carlos Vaz Marques.
29 de Novembro, Sala Jorge de Sena (CCB)
18h30 - Apresentação da série de livros BI-África Minha, constituída por 11 títulos de vários autores africanos: Amílcar Cabral, Luandino Vieira, Hernique Galvão, Castro Soromenho, Uanhenga Xitu, Baltasar Lopes, Luís Bernardo Honwana, Ruy Duarte de Carvalho e Mutimati Barnabé João. Participam Ana de Almeida, António Duarte Silva e Francisco Teixeira da Mota. (Com o apoio da Casa das Áfricas de São Paulo, Brasil).
21 outubro 2008
Novidades Quasi
Entre as mais recentes novidade das Quasi, três livros de crónicas se destacam. Maria Filomena Mónica, com Nós, Os Portugueses, José Miguel Júdice, com Portugalando e Jorge Reis-Sá, com Os Esquilos de Long Island. Inseridos na colecção ‘Primeiras Pessoas’, os livros prosseguem um gesto que tem sido regular nas Quasi e que, mesmo distante do maior sucesso editorial que podem constituir os livros de poesia ou de ficção, tem assegurado a preservação de um conjunto de textos que, por ter sido publicado na imprensa, estaria condenado ao esquecimento num curto período de tempo. Saúda-se, por isso, a continuação da edição de crónicas e outros textos de imprensa. Nem toda a memória será assegurada pelas maravilhas do digital; um belo volume (e estes têm um grafismo exemplar) terá, creio, mais sucesso nessa empresa.
20 outubro 2008
Ausências
Entre o catálogo do Festival de BD da Amadora, os textos semanais para entregar e a preparação da intervenção no seminário que se anuncia de seguida, não tem sido fácil encontrar tempo para o blog. A calma deve regressar a estas bandas nos próximos dias, e com ela os posts mais frequentes. Até lá, fica o anúncio do Seminário Internacional - Bibliotecas e Banda Desenhada, dividido pela Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro e a Bedeteca de Lisboa, cujo programa pode ser consultado aqui.
18 outubro 2008
Leituras de fim de semana
No Babelia, do El País, Antonio Muñoz Molina escreve sobre William Faulkner, a propósito da edição espanhola de Absalom, Absalom!.
No Guardian, publica-se um conto inédito de Aravind Adiga vencedor do Booker Prize, e um texto de Orhan Pamuk sobre a constituição da sua biblioteca pessoal.
No Guardian, publica-se um conto inédito de Aravind Adiga vencedor do Booker Prize, e um texto de Orhan Pamuk sobre a constituição da sua biblioteca pessoal.
Subscrever:
Mensagens (Atom)