31 julho 2008

Sublinhados XVIII

"     LITERATURA

     Nunca faltarão sucedâneos que façam funcionar a indústria da edição e mantenham o consumo. Mas, quanto mais longe se for, mais evidente se tornará que os problemas e os divertimentos da época se situam noutros planos.
     É preciso assinalar desde já os falsificadores que hão-de tentar conquistar a celebridade voltando a servir, num quadro puramente literário, as emoções novas que certas associações de acontecimentos podem criar. É o caso do Sr. Julien Gracq ao redigir bonitas narrativas que têm por tema uma atmosfera e as suas diversas componentes: recusar o Prémio Goncourt não quer dizer nada, o que é preciso é não o merecer."

Potlach 1954-1957: O Boletim da Internacional Letrista (Fenda, selecção e prefácio de Leonel Moura, tradução de Miguel Serras Pereira, p.144)

30 julho 2008

George Orwell, Porque Escrevo e Outros Ensaios, Antigona



     Para além da obra literária que o tornou conhecido, George Orwell assinou inúmeros ensaios. O volume que a Antígona agora publica resulta de uma selecção feita por Desidério Murcho a partir de uma outra, maior, que o crítico inglês John Carey preparou para a Everyman's Library.
     Orwell reflecte sobre temas diversos, mas a linguagem e o seu uso acabam por ser o eixo comum aos ensaios agora traduzidos. Em “A Política e a Língua Inglesa”, um texto que preserva toda a actualidade, o autor aponta as ligações intrínsecas entre a manipulação da linguagem e a política, citando exemplos concretos de como se podem produzir enunciados sem conteúdo para justificar as maiores atrocidades («(...) o discurso e a escrita política são em grande medida a defesa do indefensável.» p.39). “Por Que Escrevo” permite uma aproximação ao programa literário do autor, mas esclarece igualmente o seu interesse pela verdade e a crença no compromisso político de quem escreve. E em “O Leão e o Unicórnio”, talvez o mais citado ensaio de Orwell, a crítica à passividade inglesa durante o avanço de Hitler convive com a crítica aos intelectuais de esquerda que apoiam o comunismo soviético como solução para todos os males. Orwell, que lutou ao lado dos republicanos na Guerra Civil de Espanha, defende um sistema económico de matriz socialista, mas em momento algum se demite de pensar a realidade convocando todos os dados, e não apenas os que poderiam justificar o que defende. Para lá da literatura, eis a sua maior herança.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº43, 23-29 Jul 08)

29 julho 2008

Livros no ecrã

No Guardian, os pontos de vista de dois escritores (Peter Conrad e Naomi Alderman) sobre a leitura de e-books.

28 julho 2008

The Last Theorem

Assim se intitula a derradeira obra de Arthur C. Clarke, assinada em parceria com Frederik Pohl, e cujas primeiras páginas o Telegraph publica, em exclusivo, aqui.

Sazonal?

Nunca percebi a história das leituras de Verão, mas trocava de bom grado a semana de trabalho que agora começa por uns dias na praia com este:



Dennis McShade, Mão Direita do Diabo, Assírio & Alvim
Primeiras páginas disponíveis aqui.

27 julho 2008

De regresso

Três dias de descanso e poucas notícias. António Lobo Antunes recebeu o Prémio Camões 2007 e João Ubaldo Ribeiro foi o escritor distinguido na edição de 2008. A preguiça foi tanta que ainda tenho para ler o artigo sobre o e-reading (ou qualquer outra coisa que lhe queiram chamar), no Expresso, e parte considerável da secção de livros do Ípsilon. E o dolce fare niente acaba-se agora, que a semana que vem vai ser de muito trabalho.

24 julho 2008

Fugir à crise

Até ao fim deste mês e durante todo o mês de Agosto, a livraria da Assírio & Alvim (Rua Passos Manuel, 67 b, em Lisboa) oferece descontos assinaláveis nas edições da casa. É aproveitar.

Efeito Borboleta, parte II



Na Casa Fernando Pessoa, a apresentação de Efeito Borboleta não provocou um furacão, mas provocou um coro de galináceos, que cacarejaram durante boa parte da sessão. Vejamos o que acontece mais logo, na Fnac...

22 julho 2008

Palavras Andarilhas

Estão abertas as inscrições para a décima edição das Palavras Andarilhas, o encontro mundial de contadores de histórias organizado pela Biblioteca Municipal de Beja.



Programa completo e inscrições, aqui.

Teste

Por cá, costumam encher os suplementos de Verão, ocupando as páginas que a dita 'silly season' deixa sem assunto, mas os jornais ingleses gostam deles durante todo o ano: no Guardian, um 'quizz' sobre a cidade de Londres e as suas ligações à literatura, para testar conhecimentos ou aguçar a vontade de aterrar por lá.

21 julho 2008

Leituras

Na Literary Review, um artigo de Philip Davis sobre o potencial dos textos de Sakespeare para o bom funcionamento do cérebro humano.

A caminho



Santa Cruz, de Luís Filipe Cristóvão e Ozias Filho (edição Livrododia), é apresentado no próximo dia 2 de Agosto.

18 julho 2008

XXI Semana Negra de Gijón

Há um ano, com as costas doridas da travessia ibérica sobre carris, andava por Gijón, falando sobre banda desenhada portuguesa contemporânea. Foi assim que descobri que na SN se fala de quase tudo, por mais exótico que pareça, desde que alguém se interesse pelo tema e se lembre de organizar uma mesa, um debate ou uma conferência. Assim, no dia em que apresentei um panorama sobre o que de mais interessante se faz por cá em termos de banda desenhada, houve quem falasse sobre o povo do Sahara, as aventuras de capa e espada ou as novidades da ficção científica na edição espanhola. É mesmo assim, a SN, variada, informal, calorosa e sempre muito participada.


(SN 2007)

Mas é o romance policial que continua a dominar em Gijón e, segundo o Diário Digital, os prémios Dashiell Hammett deste ano já foram atribuídos: Juan Ramón Biedma, com El imán y la brújula e Leonardo Oyola, com Chamamé venceram a categoria de ficção; Sanjuana Martínez, com Prueba de la fe, la red de cardenales y obispos en la pederastia clerical, venceu a categoria de não-ficção.
Quem quiser acompanhar o dia a dia da Semana Negra pode descarregar os A Quemarropa diários no site oficial. Não é a mesma coisa que recebê-los todos os dias à chegada ao recinto da SN, entre um café gelado, um flã caseiro (que saudades...) e um par de horas de boa conversa com quem estiver na esplanada, mas sempre dá uma ideia do que se passa por Gijón.

Leonard Cohen

O concerto do mestre é mais logo. No Ípsilon de hoje definem-se posições: Cohen ou Reed? Aqui no Cadeirão folheiam-se os poemas, acabados de editar pela mão das Quasi.



Leonard Cohen, Livro do Desejo (Edições Quasi, trad. Vasco Gato)

17 julho 2008

Fundação Saramago na Casa dos Bicos

Depois de alguns dias de conversações, é hoje assinado um acordo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação José Saramago que cede a esta última o espaço da Casa dos Bicos, em Lisboa (ver Público on-line de hoje). O edifício do século XVI passará assim a albergar a biblioteca da Fundação, dispondo de espaços para exposições e colóquios, bem como de uma loja.

Sublinhados XVII

     "O anjo estava calado. O silêncio estendeu-se por tanto tempo que eu me esqueci da sua presença.
     Quando voltou a falar, assustei-me.
     - O que estás a pensar é sacrilégio - disse ele.
- Sabes bem que não servirá de nada e que não voltarás a ver essa rapariga. Sabes bem que ninguém pode entrar no coração de outra pessoa e unir-se a ela, nem sequer por um breve momento. Mesmo a tua mãe deu-te apenas um corpo. e quando começaste a respirar, não foi ar que inspiraste, mas solidão."

Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia (Tinta da China, trad. de Isabel Castro Silva, p.128)

A inevitável silly season

No New York Times escreve-se sobre um tema caro a uma parte considerável das editoras e à imprensa cultural que não sabe o que fazer durante o Verão, entre a escassez de lançamentos e a pouca disponibilidade mental dos leitores (mesmo os que poderiam estar a treler a Recherche... em qualquer questionário, de Verão, claro): os 'livros de praia'. Para ler aqui.

16 julho 2008

Dario Fo, O Amor e o Escárnio, Gradiva



A obra teatral de Dario Fo tem raízes fortes na cultura popular e na transmissão oral de histórias que, passando por muitas gerações, encontram sempre o seu ponto de reflexo na actualidade. Os textos que compõem este volume são disso um bom exemplo, com remissões que, da Grécia Antiga à China Imperial, passando pelas figuras de Heloísa e Abelardo em plena Idade Média europeia, resgatam um património narrativo que tem tanto de história como de lenda. É no equilíbrio de ambas que o narrador de cada conto vai edificando a sua reflexão sobre o mundo.
Os paralelos possíveis com a actualidade, e com a Itália de Fo – que é a mesma de Berlusconi – são muitos, mas será mais lúcido compreender esses paralelos à luz da natureza humana e da sua história, porque a corrupção, o crime disfarçado de poder e os amores proibidos não são exactamente um exclusivo contemporâneo e o que as histórias de Dario Fo relatam possui a dimensão universal das alegorias, servindo de igual modo aos muitos séculos atravessados. Apesar disso, o registo de Fo nem sempre é bem sucedido formalmente, havendo momentos em que a narrativa se perde na necessidade de uma interacção com o leitor e na encenação de diálogos entre personagens que não se resolvem da melhor maneira na estrutura dos contos.
Uma nota final para a enorme incongruência narrativa da primeira história, que faz com que Heloísa tenha vivido mais de um século, de acordo com os dados que são fornecidos ao leitor. Se o erro é do autor, da revisão literária ou da tradução, ficamos sem saber.


Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº41, 09-15 Jul 08

14 julho 2008

Leituras

No Público, versão impressa, caderno P2, a segunda reportagem de Alexandra Lucas Coelho a partir do Afeganistão.

Benjamin e a literatura francesa

Na New Left Review do mês passado (só agora dei com ela...) publica-se o resultado da pesquisa e as impressões Walter Benjamin sobre a produção literária francesa, em 1940. Quem quiser guardar para ler mais tarde, pode descarregar a versão em PDF.

12 julho 2008

Leituras de fim-de-semana

No Babelia, Manuel Vicent escreve sobre Josep Pla e Carolina Ethel assina uma reportagem sobre os novos cronistas da América Latina.
No Guardian, Ian McEwan escreve sobre a sua história familiar.

Pátio de Letras



Abre hoje as portas em Faro, na Rua Dr. Cândido Guerreiro, nº26, pelas 17h30.
Mais informações aqui.

11 julho 2008

A Metamorfose das plantas dos Pés

O segundo livro de poesia de Catarina Nunes de Almeida, A Metamorfose das Plantas dos Pés, será apresentado hoje, pelas 18h30, na Livraria Index, no Porto (junto ao Palácio de Cristal). Na próxima sexta-feira, dia 18, a apresentação decorre em Lisboa, na Fnac do Colombo, às 21h30. A edição é da Deriva.

10 julho 2008

Maiores de..., o debate continua

Em Inglaterra, o debate em torno da idade das leituras infanto-juvenis prossegue e os oponentes da colocação de uma idade recomendada num sítio visível da capa ou da contracapa dos livros parecem estar a levar a melhor. Para acompanhar aqui.

Pelos escaparates

Se todos os romances juvenis mais ou menos fantásticos apresentados com uma cinta que proclama 'o novo Harry Potter' fossem mesmo 'o novo Harry Potter' havia muito escritor sem saber onde guardar os milhões.

09 julho 2008

Thomas Bailey Aldrich, A História de Um Rapaz Mau, Tinta da China



Dizem as biografias que Mark Twain assumiu publicamente a influência que este livro teve na criação do seu Tom Sawyer, e só não é tremendamente injusto começar por esse facto porque ele pode ajudar a confirmar a importância do trabalho de Thomas Bailey Aldrich, um nome menos sonante que o de Twain, mas cuja leitura mostra bem o quanto a literatura americana deve a este Rapaz Mau.
Publicada pela primeira vez em 1869, já Aldrich se contava entre os escritores reconhecidos da América, A História de Um Rapaz Mau narra os anos da infância de Tom Bailey, alter-ego assumidamente autobiográfico do seu autor, passados na fictícia localidade de Riversmouth. Deixando para trás a Nova Orleães da primeira infância, Tom vai viver com o avô paterno para a enorme casa de família, entregando-se a todas as descobertas que a vida numa pequena cidade, a liberdade concedida por um avô atento mas compreensivo e uma incontrolável tendência para o disparate lhe proporcionam. E onde se esperaria uma aventura juvenil para gáudio dos pequenos leitores de há mais de um século, Aldrich ergue uma notável reflexão sobre a infância, alicerçada na voz de um narrador já adulto que, recordando o seu passado, escreve sobre a ilusão, a consciência do mundo e a inexorabilidade do tempo. A idade adulta do narrador e o modo, tão nostálgico como desencantado, com que olha para a sua infância fazem deste um livro de memórias, muito mais do que um volume de aventuras juvenis, transformando a infância num tempo literário que guarda uma parte importante do que seremos sempre, mas também o momento inevitável em que abdicamos de tudo o que achávamos que permaneceria.
Que A História de Um Rapaz Mau é um dos clássicos da literatura norte-americana, diz-nos a história literária e confirma-nos a sua leitura; que a edição portuguesa nos tenha chegado, tão cuidada, pela Tinta da China, na belíssima colecção dos livrinhos de lombada vermelha, só pode contribuir para perpetuar a obra de Aldrich para as próximas gerações.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº40, 02-08 Jul 08)

08 julho 2008

Homenagem a Jorge de Sena

Prosseguindo o seu programa de actividades, a Fundação José Saramago organiza, na quinta-feira, uma sessão de homenagem a Jorge de Sena. A sessão decorrerá no Teatro de São Carlos, em Lisboa, com início às 21h30.

Programa

- Leitura de poemas por Jorge Vaz de Carvalho
- Recital de piano por António Rosado
- Leitura de depoimento de Mécia de Sena
- Intervenções de Eduardo Lourenço, Vítor Aguiar e Silva,
Jorge Fazenda Lourenço, António Mega Ferreira
e José Saramago
- Encerrará a sessão o Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro

Entrada livre, condicionada pela lotação da sala

O Catálogo de Manuel Alberto Valente

A Porto Editora apresentou hoje à imprensa a sua nova divisão editorial, chamada Divisão Editorial Literária de Lisboa (DELL), que será da responsabilidade de Manuel Alberto Valente.
Em quase três décadas de trabalho editorial, Manuel Alberto Valente passou pela Dom Quixote (entre 1981 e 1991) e pelas Edições Asa, onde construiu um catálogo sólido e coerente, até estas terem sido compradas pelo grupo Leya e o editor ter decidido sair. Livre de compromissos, Manuel Alberto Valente anunciou há alguns meses (em entrevista ao Público) que estava determinado a prosseguir o seu labor editorial e que poderia fazê-lo a título individual, como aconteceu com outros editores que saíram das grandes casas editoriais, ou inserido num projecto mais amplo, desde que lhe fossem dadas condições de autonomia. A Porto Editora viu nestas declarações uma oportunidade imperdível e passou a contar com um dos editores de referência deste país na sua casa.
Pelo que foi dito na apresentação da DELL, o editor terá toda a autonomia para construir o seu catálogo, bem como as condições necessárias para o fazer prosseguir. E outra atitude não seria de esperar: quem conta com Manuel Alberto Valente como editor, sabe que não precisa de preocupar-se com os resultados do seu trabalho.
Não tenho quota no mercado, nem gosto de todos os livros que Manuel Alberto Valente já editou. Mas é fácil, olhando para as últimas décadas da edição portuguesa, ver que o seu trabalho foi sempre feito no rigoroso equilíbrio entre a qualidade, a inovação e a estratégia de mercado, e tudo indica que essa postura vai ter continuidade na nova divisão da Porto Editora.

A partir de Setembro, os primeiros livros começarão a chegar às livrarias. A Lâmpada de Aladino, de Luis Sepúlveda (um livro de contos), As Esquinas do Tempo, de Rosa Lobato Faria (romance), Feminino Singular, de Sveva Casati Modignani (romance), Instruções Para Salvar o Mundo, de Rosa Montero (romance), O Priorado de Cifrão, de João Aguiar (uma paródia em torno de O Código Da Vinci, cujas primeiras linhas prometem...) e O Silêncio dos Outros, de Lydya Gouardo (testemunho, inserido na nova chancela que integrará a DELL, a Pelicano). Anunciou-se também o futuro romance de Artur Pérez-Reverte. Muitos nomes da Asa? Certamente. E Manuel Alberto Valente comentou o facto ainda antes de algum jornalista perguntar, dizendo que o trabalho editorial resulta muitas vezes em sólidas relações entre autor e editor, não sendo de admirar que o autor queira acompanhar o seu editor independentemente da chancela onde este trabalha. Faz sentido. Sobretudo quando o editor faz o seu trabalho a sério, não se limitando a escolher livros e a gerir o deve e o haver da casa.

Dos títulos apresentados, poucos me causam entusiasmo pessoal, e não quero deixar de dizê-lo. Mas olhando para eles, e ouvindo o editor falar das perspectivas futuras, é fácil perceber que da DELL virá a nascer um grande catálogo, sólido a vários níveis (o do mercado, claro, não há como fugir dele querendo ter uma editora grande e lucrativa, mas também o da qualidade e o da actualidade literária nacional e internacional) e capaz de se afirmar por entre a torrente que todos os dias inunda as livrarias. A partir de Setembro, cá estaremos para o começar a confirmar.

A solo

Aquilo que combinámos, eu e a Andreia, quando preparámos este Cadeirão, foi que não haveria compromissos de actualização. Já se sabia que eu iria escrever mais vezes, e que a Andreia seria mais comedida, mas isso não me fez hesitar no convite e não me trouxe nenhum arrependimento. Mas por uma questão de coerência, a Andreia pede-me agora para retirar o nome dela do cabeçalho do blog. Zanga? Nada disso. Só que o pouco tempo que tem para escrever e a crítica que tantas vezes faz aos blogs colectivos onde há mais do que um nome, mas onde é quase sempre a mesma pessoa a escrever, não a estava a deixar dormir de consciência tranquila. Por isso, respeito o pedido, é claro. Mesmo reafirmando que não me causava nenhum desconforto que ela escrevesse pouco - escrevia o que e quando lhe apetecesse, que foi a combinação. Mas compreendo o argumento, e elogio a coerência. O nome da Andreia vai, então, deixar de figurar no cabeçalho. No entanto, as portas do blog continuarão abertas para as suas colaborações, é claro, e quando houver textos por si assinados, serão bem vindos. Fica o esclarecimento.

07 julho 2008

Por fora

No blog da Ler, podem acompanhar-se alguns momentos da VI Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil.
A partir de amanhã, Eduardo Pitta juntar-se-á ao XVIII Festival Internacional de Poesia de Medellín, na Colômbia, e imagino que nos próximos dias nos dará conta do que por lá se passou.

06 julho 2008

José Leite de Vasconcelos

Inaugura amanhã, no Museu Nacional de Arqueologia, uma exposição comemorativa do 150º aniversário do nascimento de José Leite de Vasconcelos, fundador do museu que acolhe a exposição e um dos filólogos de referência dos estudos portugueses. Leite de Vasconcelos interessou-se por quase tudo, recolhendo alfaias agrícolas, romances populares ou vestígios arqueológicos com a mesma dedicação com que escreveu milhares de páginas que são, e continuarão a ser, de relevância incontornável para os estudos linguísticos, etnográficos ou arqueológicos em Portugal e na Peninsula Ibérica.
A abertura da exposição, intitulada Impressões do Oriente: de Eça de Queiroz a Leite de Vasconcelos, será assinalada com uma Sessão Solene, na Academia das Ciências de Lisboa, onde se apresentarão uma fotobiografia, um volume com mais de 300 páginas e vários documentos inéditos sobre a vida e obra de Leite de Vasconcelos, incluindo cartas pessoais, bilhetes e fotos de viagens.


(imagem retirada do site do MNA)

04 julho 2008

Parabéns! E que contem muitos mais!



A A-das-Artes faz cinco anos e merece todas as felicitações, pela oferta ampla e criteriosa que oferece e pelo labor constante de disponibilizar leituras e uma programação cultural variada. Podem visitá-la no blog ou, melhor ainda, in loco, na Av. 25 de Abril, 8 - loja C, em Sines.

Curso Livre: José Saramago

Acompanhando a exposição A Consistência dos Sonhos, Fundação José Saramago, em parceria com o Instituto dos Museus e da Conservação e a Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas, organiza um curso livre sobre a obra do autor. Nos próximos dias 10 e 11 de Julho, vários especialistas falarão sobre diferentes aspectos da obra de José Saramago. O curso decorrerá no Palácio da Ajuda, na Galeria de Pintura do Rei D. Luís I e a entrada é livre (as inscrições devem ser feitas até ao próximo dia 7, para um dos seguintes contactos: saramago.expo@dglb.pt; Tel. - 21 798 21 43 ou 45; Fax - 21 798 21 41).

03 julho 2008

Leituras

No Hoja Por Hoja deste mês, Joaquín Díez-Canedo assina a primeira parte de um longo artigo sobre as técnicas artesanais de produção de livros no México, destacando o trabalho do taller Martín Pescador, responsável por algumas edições memoráveis, pelo cuidado posto em todas as fases do processo, mas sobretudo pela forma dedicada e exclusiva com que se fazem os seus livros.

...Leituras destas recordam-me, sem dó nem piedade, um projecto em pousio, à espera de uns metros quadrados que teimam em não surgir milagrosamente por entre estantes, ou de uma muito improvável casa nova, com um cubículo isolado onde tipos de chumbo e tintas tipográficas não se vejam à mercê do gato.

Rodrigo Fresan, Jardins de Kensington, Cavalo de Ferro




       O início deste livro soa a dupla blasfémia: anuncia-se, sem tempo para mistérios, uma morte, e logo depois revela-se que a morte é um suicídio e que o suicida é Peter Pan. Perante este início, nem a certeza de um inevitável registo humorístico nem a probabilidade de um lamento fúnebre pelo fim da infância se cumprem, erguendo-se, antes, uma narrativa densa e bem articulada onde se cruzam duas épocas e uma só história.
       A narração, que ocupa as mais de quatrocentas páginas do romance, decorre numa única noite, mas à mestria de Peter Hook, o narrador que é também um conhecido autor de livros infantis, basta esse curto período para relatar os factos que seleccionou da vida de J.M.Barrie, escritor que assinou Peter Pan, e da sua própria vida. Entre a Inglaterra vitoriana de Barrie e a Londres afogada em ácidos dos anos sessenta, em que os seus pais acabaram por perder-se, Hook situa a sua história num plano intemporal, saltando em direcção aos muitos passados enquanto tenta decidir o que fazer com o seu presente. Tal como Barrie, Hook guarda a memória viva de uma infância traumática, marcada, no seu caso, pela morte do irmão mais novo, seguido pelos pais. E refém dessa ligação, intensificada pelo suicídio do homem que inspirou a personagem de Peter Pan no mesmo dia em que Hook nasceu, o narrador alimentará uma divagação cruel pelo passado de ambos, o seu e o de Barrie, procurando respostas que, tal como a Terra do Nunca, já não estão ao seu alcance.
       É a essência do Peter Pan original, e não os sucedâneos coloridos da Disney – que o narrador tão duramente caricatura – que alimenta os muitos enredos deste romance: a capacidade de imaginar sem entraves, mas também um certo negrume e uma noção muito clara do medo e da morte, elementos que teimam em ser afastados do modo como os adultos entendem as crianças (sobretudo os adultos que escrevem para crianças). No fim, uma só certeza: depois de Kensington, não voltaremos a olhar para os autores de bestsellers infantis do mesmo modo.

Sara Figueiredo Costa

(Texto publicado na revista Time Out, nº39, 25Jun-01 Jul 08)

02 julho 2008

Pré-Publicação: O Heresiarca e C.ª, Guillaume Apollinaire (Assírio & Alvim)




     A INFALIBILIDADE

     No dia 25 de Junho de 1906, o cardeal Porporelli acabava de jantar quando lhe anunciaram a visita de um padre francês, o clérigo Delhonneau. Eram três da tarde. O implacável sol que exaltou a finura triunfalista dos Romanos antigos, e agora tem dificuldade em aquecer a velhacaria gelada dos modernos, deixava cair insuportáveis raios na praça de Espanha, que é onde se ergue o palácio cardinalício, embora respeitasse o apartamento de sua eminência (1). Persianas mantinham-no com frescura agradável e meia-luz quase voluptuosa.
     O clérigo Delhonneau foi introduzido na sala de jantar. Era um padre do Morvan. O seu aspecto carrancudo não deixava de mostrar uma qualquer analogia com o dos Peles Vermelhas.
     Natural de Autun, é provável que tivesse nascido nos baluartes célticos da antiga Bibracte, no monte Beuvray. Em Autun, cidade de origem galo-romana, e nos seus arredores, ainda há gauleses com veias onde não corre sangue latino, e o clérigo Delhonneau estava entre esse número. Aproximou-se do príncipe da Igreja, e de acordo com o uso beijou-lhe o anel. Depois de recusar os frutos da Sicília que o cardeal Porporelli lhe oferecia numa cesta, expôs o objectivo da sua diligência.
     — Desejo — disse ele — ter uma entrevista com o nosso Santo Padre o papa, mas em audiência privada.
     — Missão secreta do governo? — perguntou-lhe o cardeal, com uma piscadela de olho.
     — Nada disso, eminência! — respondeu o clérigo Delhonneau. — As razões que me fazem solicitar esta audiência não só interessam à Igreja da França como a todo o mundo católico.
     — Dio mio! — exclamou o cardeal enquanto mordia uma passa de figo recheada com avelã e erva-doce. — É assim tão importante?
      — Muito importante, eminência — repetiu o padre francês, que ao mesmo tempo reparava nalgumas nódoas de estearina da sotaina e esforçava-se, esfregando-as, por as tirar.
     O prelado gemeu:
     — Mas o que pode ainda acontecer? Já temos aborrecimentos que bastam com a vossa lei sobre a separação (2) e com as divagações desse tal cónego Bierbaum de Landshut, na Baviera, que não pára de escrever sobre a Infalibilidade...
      — Que imprudente! — interrompeu o clérigo Delhonneau.
      O cardeal Porporelli mordeu os lábios. Na sua juventude, quando não passava de um padre mundano de Florença, tinha combatido a Infalibilidade mas depois vergara-se perante o dogma.
     — Terá audiência amanhã, signor clérigo — disse ele. — Conhece o cerimonial?
     Estendeu a mão; o padre inclinou-se, depôs nela um beijo sonoro e às arrecuas foi até à porta, onde fez uma segunda vénia enquanto o cardeal, mostrando um ar fatigado, com a mão direita lhe dava a bênção e com esquerda apalpava os pêssegos da cesta.

(...)

(1) As edições francesas dão a ler monseigneur (monsenhor) em todas as referências feitas ao cardeal. No entanto, numa carta que Apollinaire escreveu a Madeleine (1915/8/23) lamenta as gralhas e os erros existentes neste seu livro, e esclarece: Em «A Infalibilidade», sempre que o padre francês se dirige ao cardeal, em vez de «monsenhor» deve dizer «eminência». Façamos-lhe, portanto, a vontade. (N. do T.)

(2) Dois anos antes de Apollinaire ter escrito este conto (1907), a Terceira República da França tinha decretado a separação entre a Igreja e o Estado. (N. do T.)


Guillaume Apollinaire
O Heresiarca e C.ª
(tradução de Aníbal Fernandes)
Assírio & Alvim (disponível a partir do próximo dia 10 de Julho)

O melhor trailer publicitário de sempre...

Bom, pode não ser o melhor de sempre, mas vale a pena vê-lo. É um filme promocional do cartão de cliente da Pó dos Livros, apresentando as inúmeras vantagens do cartão. Eu ainda acrescento uma, de grande relevância nos tempos que correm: não é um cartão de crédito.

Para quem pode

Os tempos nãõ estão para grandes compras, mas fica o aviso do leilão de livros marcado para amanhã e depois, no Palácio do Correio Velho. Entre os livros a leiloar há Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa e Cecília Meireles em primeira edição.

Fonte: Diário Digital

01 julho 2008

Ler no Chiado



Amanhã, pelas 18h30, na Bertrand do Chiado, a Tertúlia Ler discute estratégias para pôr os mais jovens a ler.